quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal

Mais um final de ano chega, com todos as suas festas, despedidas, promessas, amigos-secretos, presentes, apelos comerciais e reuniões familiares e de amigos. Muita gente vai brigar por causa do último pedaço do chester, muita gente vai brigar por que não tem pedaço algum de chester pra comer, mas todos são, de alguma forma, atingidos pela magia natalina. Por que isso? O que tem essa data de tão importante e comovente?

Há uns 2500 anos, quando o reino davídico de Judá existiu, os judeus estavam certos de que Deus era o juiz do mundo, e que ele castigava os infratores e beneficiava os bons e justos ainda em vida, na forma de bênçãos ou maldições, dependendo o caso. (seja o que for que eles considerassem bondade ou justiça, na época). O que aconteceu-lhes, em seguida, pôs em cheque algumas de suas crenças sobre justiça: todos eles, judeus bons e judeus maus, sofreram quando o seu reino foi destruído pelos caldeus. O azar da guerra não escolheu quem atingir: atingiu quem estava mais perto e mais indefeso.

Mas eles não largaram suas crenças. De alguma forma, para eles, Deus tinha que restabelecer o equilíbrio e lhes dar de volta o reino que tiveram, lhes dar de volta uma “Era de Ouro”, como era chamada a época antes da destruição do reino. Começou a crescer a crença de que Deus enviaria um rei que seria bom para eles e que faria o reino crescer novamente, e por isso muitos falavam da vinda do Messias (ou seja, “o ungido”, já que o rei era ungido com óleo como parte do ritual de entronização). Divagações sobre como seria a nova Era de Ouro mantinham as pessoas esperançosas a respeito de suas vidas; você também acreditaria no que lhe contassem se essa crença lhe fizesse agüentar a vida desgraçada que você levaria lá.

Por algum motivo irracional (existe algum racional?), os judeus foram perseguidos então, o que só fez aumentar a crença em um futuro dourado. Surgiu também a idéia de que o rei que os salvaria seria o Filho do Homem, como diz-se no Livro de Daniel. Mais tarde, houve um popular pregador da Judéia, João Batista (o próprio), cuja mensagem dizia que estava próximo o dia em que o salvador chegaria.

E dessa forma a expectativa de que alguém chegaria pela porta de emergência com um extintor de incêndio divino era grande e bem difundida, e não tardaram a aparecer os candidatos. Houveram vários, mas um em especial se salientou em relação aos demais, por efetivamente ter juntado seguidores (os outros não levaram a nada). Seu nome era Jesus de Nazaré.

Se ele nasceu de uma virgem, se ele era realmente filho de um ente superior, se ele realizou milagres (puxa, imagina transformar água em vinho!), enfim, se o que falam dele é verdade, isso não me compete concluir. Muitos falam a favor e muitos contra, mas o que ninguém pode negar é a sua mensagem. Apesar de ter sido morto como um perigo para a ordem pública, por que nenhum governante é bobo de deixar vivo alguém que boa parte do povo considera como sendo aquele que vai acabar com o domínio daquele que boa parte do povo considera como sendo um tirano sem escrúpulos, sua mensagem de paz era simples e verdadeira: fazer o bem sem olhar pra quem, como uma parenta minha falava. Suas lições de altruísmo e bondade precederam Gandhi em uns dois mil anos, e de alguma forma ele conseguiu convencer bastante gente disso, apesar do atraso da época.

O Natal é a época em que todos nós devemos parar e pensar no que aquele fulano falou, e no que muitos depois dele falaram também. É uma época para repensarmos nosso conceitos de moral e de ética, e de repensarmos nossa vida como um todo. Se estamos fazendo tudo o que poderíamos fazer, se estamos fazendo algo que seria melhor que não fizéssemos, essas coisas. Pelo certo deveríamos fazer isso todos os dias, a todo momento, mas temos o costume de não apreciar a beleza de um jardim sem especular sobre as fadas que nele se escondem. Acho, pessoalmente, que a religião é um freio, mas acho também que analisando impessoalmente ela traz mais benefícios do que danos. Não fosse ela, ninguém pararia para pensar na mensagem pacifista de um revolucionário milenar, e muito menos fariam as reflexões conseqüentes de pensar sobre isso.

Por essa e por outras, camaradas, façam, neste Natal, aquilo que eu digo para vocês fazerem sempre: pensar, refletir. Mas nessa data pensem especialmente no próximo, e no que vocês podem fazer para aumentar a quantidade de felicidade no mundo.

Se mais pessoas fizessem isso, acredito que a Era de Ouro de fato retornaria...

Boas Festas!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Autor Convidado - Victor Stéfano - Pink Floyd, minimalismo e o problema da comunicação

“For millions of years, mankind lived just like the animals. Then something happened, which unleashed the power of our imagination. We learned to talk”

Aqueles que já leram alguma coisa minha talvez já tenham percebido que eu adoro citar. Especialmente, eu adoro citar o Pink Floyd. Primeiro, porque repetir o que já foi falado, ainda mais o que já foi falado numa música, é um ótimo jeito de se sobressair quando você não tem a menor idéia do que quer ou do que vai acabar dizendo. Por exemplo: seus amigos junkies estão falando de chá de cogumelo e o máximo que você já chegou perto disso foi sopa de champignon. Pra não boiar, você puxa o violão e manda um Ventania ou um Raulzito e tudo resolvido, pode voltar pro seu silêncio drug-free em paz. “All we need to do is make sure we keep talking”.Mas o segundo motivo é talvez o mais importante, que é o modo como eu posso simplesmente escolher qualquer letra do Pulse ou do Atom Heart Mother e sempre tem algo lá pra mim, sempre um ou dois versos rimados que resumem e talvez até algumas vezes resolvam as questões que martelam minha cabeça o dia inteiro e que lá dentro parecem render cadernos e mais cadernos de dissertações. Talvez eu e outros milhões de fãs fanáticos estejamos errados e o Pink Floyd nem seja uma banda fantástica assim, mas uma coisa é inegável: eles se comunicam perfeitamente ou pelo menos chegam muito perto disso. O que pra uns poderia levar um romance inteiro pra expressar, pra eles é uma questão de simplesmente juntar os versos que formam as imagens certas. E isso porque estou falando só da parte “literária”, que é a mais pertinente ao assunto a que eu estou tentando chegar, que é o problema da comunicação, e talvez falar de como a sonoridade influi nisso seja perda de tempo – com certeza não quero discutir gostos aqui.

O que talvez eu esteja sim disposto a perder algum tempo discutindo, é a habilidade de transmitir o que quer que seja que se queira ou que se acabe transmitindo, com as palavras certas. Não estou nem falando de forma. Estou falando de posicionar a antena e achar uma freqüência... muitas vezes você não sabe o que vai captar quando escreve – eu nunca sei - você pode pegar o finalzinho da novela, a TV Senado, a Rede Vida ou passar o resto da noite encarando a tela cheia de moscas piscando e chiando pra você. Nesse aspecto Kurt Cobain foi outro técnico de TV genial, e desconfio que ele também raramente sabia o que ia captar quando apontava as antenas pra si mesmo. Mas a mensagem de Kurt era específica pra nós, geração X, subproduto da era da superinformação, divórcios, e comprimidos que resolvem tudo – nossos pais lutaram contra ditaduras, e nós lutamos contra o quê? Nós mesmos? – e talvez por isso a obra do Nirvana não seja pra todos – mais uma vez, não estou falando de agradar, mas de comunicar. A mensagem está lá. A mensagem sempre está lá quando se fala de arte, mas nem sempre se pode fazer sentido pra todo mundo. Com o Pink Floyd, a mensagem é “uma fumaça de navio distante no horizonte”.

No caso do Nirvana, Kurt Cobain era minimalista, porque sabia que assim quando falasse de si mesmo estaria falando de uma angústia mútua. Até o nexo é um mero detalhe nas letras. O importante é o que se acaba transmitindo, querendo ou não, ligando determinadas palavras de uma determinada maneira. As palavras vinham do que o rodeava, é o máximo que se pode dizer com uma certa segurança, mas na era da convergência isso quer dizer praticamente tudo.

A música que escolhi pra começar esse texto como talvez alguns já saibam, é “Keep Talking”. Pra quem não conhece, essa frase de abertura, que é também a abertura da música, não é cantada, é falada por ninguém menos que o astro pop da física, Stephen Hawking. Quem já viu fotos, sabe que a única forma de expressão que sobrou ao Hawking é justamente a fala. É através apenas dessa fala, que nem sequer é sua voz original, mas de um sintetizador de voz, que Hawking faz física quântica parecer assunto de mesa de bar. Como ele mesmo diz “All we need to do is make sure we keep talking”. Não dá pra dizer que o cara é só um físico. Hawking é um escritor. Quem melhor que um escritor pra dar início a uma música assim?

Estou dizendo isso tudo simplesmente porque muita gente já me disse que gostava do que eu escrevia, apesar de não entender, quando muitas vezes não tem lá grandes coisas pra se entender mesmo nos meus textos... “It doesn’t have to be like this”. Tudo que eu faço é garantir que continue falando e abrir as janelas pra fumaça de neurônios queimando no horizonte. O que eu escrevo não está nem perto de ser uma hemorragia de sentimento ou sinceridade.

Ou talvez eu não tivesse a menor pretensão de dizer qualquer coisa quando transcrevi o começo da Keep Talking ali em cima, e tudo o que eu disse depois foi simplesmente o que acabou sendo dito quando eu liguei certas palavras numa certa ordem.

***

O Victor, além de grande amigo meu e parceiro de longas conversas sobre tudo, é guitarrista, compositor, blogueiro e escritor, tendo já um conto publicado na antologia Solarium (de ficção científica). O endereço do seu blog é http://blogdesetecabecas.blogspot.com/

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Mais um

Pessoal, amigos, parentes, cachorrinhos, vendedores de desodorante, fabricantes de ventilador: que calor que faz nesse fim de ano, e, ainda, que rápido passou esse ano!

Passou outubro, e logo em seguida Novembro não passou, simplesmente voou. Talvez o sentimento de expectativa pelo meu aniversário tenha ajudado, ou uma alteração estrutural da forma como o tempo se comporta em relação à matéria, em âmbito quântico e prático... mas daí seria muita canalhisse de Deus, e ele deixou de ser canalha depois do Novo Testamento. Logo, novembro passou rápido por causa do meu aniversário.

E foi bom. Eu gosto de ser amado, de ter a sensação de que as pessoas gostam de me ter por perto. Já dizia Schopenhauer (citando alguém que eu não lembro agora ao certo quem era, mas era alguém importante, então por favor respeito aí com os dinossauros da Filosofia) que uma vida feliz é aquela que, em análise fria e racional, é absolutamente preferível em relação à inexistência. O que, torcendo um pouco a idéia, dando umas ajustadas e cuspindo pra dar polimento, pode ser usado no sentido de que se alguém prefere sua companhia à sua ausência, é por que ela gosta de você, e isso é precisamente o que eu gosto de sentir. Carência pra caramba, a rodo.

E não sou como algumas pessoas, que fazem de tudo para não serem notadas no dia do seu aniversário. Se eu percebo que alguém não lembra que é meu aniversário, eu dou a idéia sutilmente, pergunto que dia é hoje e tal, mas se ainda assim ela não se liga, eu não desisto e digo na lata “hoje é meu aniversário, não quer me dar parabéns?”. Ninguém resiste a uma cara de pau dessas, e acabam dando parabéns.

Mas então, só postei hoje para informar ao mundo que eu me sinto bem, estou vivo, ainda respirando, lendo bastante, estudando algo bem próximo do que dizem ser o suficiente, e o mais importante: agora eu já entro na maior parte das boates que antes eu não sabia nem a cor de dentro.

Continuo sem saber a cor de dentro desses lugares, mas só o fato de saber que eu tenho a possibilidade legal de conhecê-los, já é o suficiente.

Um abraço!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Viagem, em um ou mais sentidos...

Gosto muito de viagens, conhecer novos lugares e novas pessoas desses lugares. Acho, inclusive, que serei um desses velhinhos que viverá o resto da vida viajando, embora esse achismo não tenha muita validade, visto que ainda falta um bom tempo até que eu possa me considerar velhinho, se é que isso vai acontecer; às vezes acho que tenho propensão também a virar um velhinho que não se considera velhinho, mas esse também é outro achismo que, pela largura do tempo acaba perdendo o crédito.
Mas o fato, então, é que gosto de viagens, de todo o tipo. Tenho feito, por exemplo, uma incrível viagem pra dentro de mim mesmo. Uma incrível e paradoxal viagem: como um “eu” poderia ir para dentro desse mesmo “eu”, sem envolver uma milagrosa cirurgia de virada do avesso? O “eu” visitado é o mesmo “eu” visitante, portanto isso acaba ficando estranho e...
... e “eu” acaba ficando muito entediado, então vamos, para fins práticos, assumir que eu fiz de fato uma viagem para dentro da minha mente, e que isso é tão possível quanto não ilógico. E “eu” agradeço.
Uma viagem dessas nunca é muito fácil. É preciso aceitar que certas idéias que se tem de si próprio não se aproximam tanto da realidade quanto se imaginava, e essa aceitação é um processo doloroso, quando não é sangrento (se a pessoa se suicida ao chegar à conclusão de que o mundo pouco se lixa dos seus problemas e que chorar não vai trazer uma solução para mais perto). Mas apesar dos pesares, a viagem até se torna agradável conforme a paisagem vai passando.
Não vou mentir para vocês, e tentar inventar alguma paisagem bonita para a mente (a minha) que eu visitei. Por que primeiramente não tem paisagem nenhuma, é tudo feito de cores e sentimentos, e em segundo lugar, talvez não seja bonito. Digo “talvez” por que beleza é uma coisa que depende muito de comparação e eu nunca visitei outro lugar assim, e, se me baseio nas minhas atuais crenças e descrenças, acho provável que nunca visite.
As memórias foi uma parte bem boa de se visitar. Mesmo as memórias ruins foram um bom passatempo; algumas fizeram força para acontecer de novo e não conseguiram e deram saudade. Como se considera lembranças assim? Boas ou ruins? Pois é, mais um mistério para a minha blacklist de curiosidades ainda sem resposta.
Às vezes, no caminho, uma espessa névoa de ansiedade enevoava (gostaram? Uma névoa que enevoava...) os sentidos, e só um grande sopro de vontade e autodisciplina para espalhar essa porcaria e me deixar continuar bem. Ainda não fico batendo o pé a todo o momento, até me considero uma pessoa bem tranqüila, mas em muitos momentos eu me pego com o peito sendo sutilmente estrangulado por esse sentimento, e tenho que respirar fundo para me tranqüilizar a respeito de algo que eu nem sei direito o que é. Mesmo depois dessa viagem que ora relato, não sei a causa da ansiedade. Pode ser só efeito da modernidade na vida das pessoas, que com essa grande facilidade de estar a um clique de distância de qualquer coisa acabam ficando condicionadas a esperar que tudo aconteça logo; mas não tenho certeza disso, por que se estou esperando que algo aconteça logo, ó Monstro do Espaguete Voador, o que seria esse “algo”?
Na área do coração, retratos nostálgicos de situações passadas. Vejo que existe um canto vago nessa parte da viagem, mas um guarda armado, chamado Medo (esse é só o apelido que eu dei pra ele, por que ele tem uma cara de ser bem mais complexo que isso) estava prostrado ao lado desse canto, evitando que qualquer uma ocupe-o. Esse guarda faz parte de mim, como vocês podem compreender, e espero um dia exorcizá-lo.
O resto da viagem não foi tão sombrio, e o merecimento de ser contado é inversamente proporcional à sua sombra. Na área espiritual, a moral foi demitida e no lugar dela eu pus a Ética, muito mais racional e confiável. Nos conhecimentos, eu me perdi um pouco, era uma área bastante grande, mas a Humildade, que eu tento usar de guia, me trouxe de volta para o caminho certo (só consegui contar isso agora, nesses termos, por que a Humildade foi dar uma volta e deixou o Ego comandar um pouco também).
Foi uma viagem muito proveitosa, e eu gostei bastante. Foi feita em parcelas, um pouco a cada dia, já que tempo é artigo raro em final de ano. Espero fazê-la mais vezes, e nas próximas que eu consiga respostas mais consistentes para as dúvidas mil que eu tenho. Por enquanto só sei, com certeza quase razoável, que preciso de férias e de uma namorada, mas nem preciso dizer que essa certeza varia bastante.
Nas próximas viagens desse tipo que falei querer fazer, sou até sujeito a algo que é perigoso (ou não) e desejável (ou não): na volta para cá, seja onde esse “cá” for, o caminho estava diferente, não só por que a mente está em constante mudança, mas por que ocorreram algumas mudanças mais salientes, e nas próximas viagens desse tipo talvez as mudanças sejam tão significativas que eu não encontre o caminho de volta e me perca em mim mesmo.

Que, me arrisco a dizer, talvez seja o objetivo principal...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Para Além do Muros

Caríssimos, o mundo é grande. Muito maior do que podemos imaginar, e isso quer dizer que é bem grande mesmo. Não “grande” como imaginamos na aula de geografia, mas “grande” como quando conhecemos gente legal vinda de lugares que a gente nem sequer sabia que existia antes.
E foi por essa experiência que passei nas três últimas semanas, e será sobre ela que falarei (escreverei) hoje.
Antes de mais nada, para o caso de haver alguém desapercebido de informações relevantes lendo esse post hoje, é interessante que eu apresente alguns fatos. Fato número 1: eu faço parte do Coral Municipal Infanto-Juvenil da Secretaria de Educação e Desporto de Novo Hamburgo (que é a cidade onde moro). Fato 2: quando meu coro viaja para algum lugar longe, dentro ou fora do país, é comum sermos hospedados por corais locais, e, em troca, como diz o Fato 3, quando eles vem para cá nós os hospedamos.
Por isso, há algumas semanas eu hospedei duas coralistas de um coro de San Carlos, Uruguai. (eu fiquei pasmo quando as vi, por serem elas mais bonitas do que se espera de estrangeiras, e por que geralmente a nossa regente não deixa meninos hospedarem meninas, por receio de que nós, brasileiros de mente suja, corrompamos a imaculada pureza das donzelas que vamos hospedar...). Deu bastante correria, fomos até mesmo a um evento do Fórum Social Mundial, o qual merece um comentário à parte por ter tudo a ver comigo: capoeira, cultura afro, ideais hippies, socialismo. Sim, isso foi bem irônico.
Apesar da barreira lingüística, foi uma experiência bastante produtiva, fiz vários amigos e amigas novos, internacionalizei meu MSN, enfim, aproveitei bem a estadia deles aqui. Não corrompi a pureza delas e tal, mas também não se pode ter tudo. (6)
Mas esse não foi o único modo pelo qual expandi as cercas da minha mente. Uma semana depois ocorreu aqui na minha cidade a Mostratec, feira Internacional de Ciência e Tecnologia, segunda maior do mundo, organizada pela minha escola. Nela eu trabalhei de intérprete de inglês, e isso me deu a oportunidade de descobrir que eu já falo o suficiente de inglês para me virar bem por aí, se precisar.
Fiquei traduzindo o estande de um grupo cazaquistanês, lá do (adivinha?) Cazaquistão, a terra do Borat. Por sorte minha, os Kazakhs que eu tinha que traduzir (Yernazar, Galymzhan e Timur) eram super inteligentes e dividiam comigo a tarefa de tentar entender o que o outro quer dizer. Geralmente, em uma relação de um brasileiro e alguém de fora, quem tem que se ferrar para que haja entendimento é o brasileiro, salvo nesse tipo de exceção, ou quando o estrangeiro fala português, o que é ainda mais raro.
Passando o tempo com o pessoal da feira, entre um palavrão e outro (ensinamos ao pessoal da Moldávia, um país minúsculo da Europa Oriental, o equivalente em português para fuck you e para motherfucker, e ambas expressões foram facilmente aprendidas; “Obrigado” e “De nada” foram mais complicadas de ensinar), ficava claro que, ao mesmo tempo que os jovens são os mesmos em todo lugar, só mudando as moscas, também existem diferenças sutis no modo de viver. Em alguns lugares, por exemplo, o banho não parece ser algo que faça parte da rotina; em outros, o contato físico entre homem e mulher é assaz limitado, sendo um verdadeiro sacrilégio você se despedir de alguém do sexo oposto com um beijinho na bochecha. O intercâmbio cultural é bastante intenso, e embora não seja o objetivo principal, conhecer novas línguas é sempre uma atividade desejável. Ainda mais com aquelas argentinas... bah! Não que eu tenha conseguido algo, por que eu apesar da carinha sou meio lento nesses assuntos. Mas isso está sendo resolvido, pois defeitos como esse não são para serem levados para a vida toda.
Isso sem falar que nessas feiras se juntam gente de todos os tipos, com um nível de instrução às vezes bem elevado. No primeiro dia da Feira eu participei (leia-se: ouvi boquiaberto) de uma discussão acerca de Filosofia entre dois espanhóis e um carioca, que tem um sotaque tão forte que praticamente pode ser considerado outro idioma. Nos demais eu assisti a uma palestra de um cara que tem pelo menos seis pós-doutorados, tirei foto com o Marcos Pontes, chupei um pirulito mexicano de melancia com pimenta... e a lista seguiria mais, se minha mente não estivesse embriagada de sono agora. Falar uma língua diferente da materna é exaustivo, e dá dor de cabeça no início.
Enfim, para concluir: o mundo é bem maior do que pensamos, e é uma pena que muitos fechem os olhos para as maravilhas que a compreensão e a razão nos trazem nessas oportunidades. Espero que você, leitor, não seja um desses.

Abraço!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sobre feiras, livros e garotas

Bem, o tempo é uma ilusão e sua contagem é algo deprimente. Só marcamos e contamos o tempo para tentar dar algum brilho àquela coisa insignificante que chamamos de vida, e somos tão obtusos que não temos capacidade de ver o engano que estamos submetendo a nós mesmos. Claro que existem certas aplicações interessantes dessa contagem, desde os tempos remotos de quando plantávamos batatas, ao invés de comprá-las prontas no supermercado. Naquela época, era bastante necessário saber a data mais acertada para fazer com que as batatas crescessem fortes e felizes nos alimentando e nos deixando mais fortes e felizes que elas. Mais tarde, na Segunda Onda (a industrialização), foi bom marcar o tempo para que pudéssemos chegar no horário certo aos compromissos certos, sem falar em fazer com que todos os babacas analfabetos do proletariado trabalhassem a mesma quantidade de horas.
Mas, no fim, o tempo não existe. O que achamos que é o tempo é na verdade uma peça pregada pelas reações químicas no nosso cérebro, como todo o resto. Então, botem fogo nas funções horárias que o professor de Física lhes enfia goela abaixo e esqueçam o fato de que eu demorei uma semana inteira para vencer a preguiça e escrever o post sobre a Feira do Livro da Nilo Peçanha.

Well, povo e pova, todo mundo sabe que eu participei de uma feira do livro na semana passada. Quem não sabe é só ler o post anterior que acaba ficando sabendo. E para quem não sabe, mas acha que sabe e por isso não vai ler o post anterior, eu vou explicar a história desde o início.
No início era o Caos. Veio Deus e blá blá blá...
...até que o Frodo, grande amigo meu, convidou o Antônio, outro grande amigo meu, a participar de uma antologia de Ficção Científica, e num processo de indicações e aceitações de sugestão o Frodo também me convidou.
Eu escrevi um conto então, mandei e fui aprovado (não sem antes aceitar sugestões de mudança em certas partes do texto). Quando dei por mim estava com os exemplares em mãos para vender. Vendi para os amigos, para os amigos dos amigos, e minha mãe vendeu para as clientes dela.
Minha mãe é sócia de um Salão de Beleza, e babona do jeito que ela é, logo todas as clientes dela sabiam do meu livro. A notícia espalhou-se praticamente como a gripe suína. Não, perdão, espalhou exatamente como a gripe suína.
Uma das infectadas pela idéia foi a Profª Lara, agora uma grande amiga minha, que depois de ler o conto, começou a conversar comigo sobre a possibilidade de eu ir na feira do livro da escola onde ela trabalha para conversar com os alunos de lá sobre leitura, escrita e sobre o conto que eu publiquei.
Aceitei, claro. Ela, junto com a Profª Simoni, apresentaram o conto para alunos de 5° e 6° anos, e foi com eles que eu conversei.

No dia do bate-papo eu estava super nervoso. Imagina? Falar sobre livros com alunos em uma escola do Brasil? Só podia ser furada. Engoli a desconfiança e intimei a Lara a ficar do meu lado para eventualmente segurar a minha mão e dar um apoio moral (risos). Na hora, com o pessoal ao meu redor fazendo perguntas, eu nem lembrava mais do nervosismo; ele tinha ido parar lá atrás do cérebro, junto com os Sentimentos Esquecidos, se escondendo embaixo dos Sentimentos Que Não Te Abandonam Embora Tu Queira Muito Que Eles O Façam.
As perguntas variaram bastante; foram desde “de onde vem a tua inspiração” até “pra qual time tu torce?”, e me surpreendi respondendo a elas como se estivesse acostumado a fazê-lo há muito tempo. Nem gaguejei! Cheguei até a passar pra eles um discursinho sobre os benefícios da leitura e o porquê de ser perda de tempo não gostar de ler.
Depois do bate-papo, de manhã e de tarde houve também sessão de autógrafos. Sim, caro leitor, não leste errado, “sessão de autógrafos”. Quando vi que tinha gente pedindo autógrafos pra mim como se eu fosse um Stephen King da vida, acho que meu ego não agüentou; foi demais para ele. Quando recobrou a respiração e os batimentos cardíacos, explodiu em um salto magnífico, que faria a Daiane dos Santos babar. Pelo que eu soube, no momento ele está orbitando um sistema estelar binário em algum lugar da Borda Oriental da Galáxia, e vai demorar a voltar.
Foi uma experiência incrível. Muito incrível mesmo. Para mim, que nunca tinha feito isso antes, e para os alunos, que não conheciam um escritor que usasse All Star.

Meus sinceros agradecimentos a todos os que contribuíram para que isso acontecesse, mesmo!

Um abraço bem forte em todos vocês!

PS: uma nota sobre garotas, para fazer sentido o título do post: dê um pouco de fama, ou melhor, dê um pouco de destaque para um garoto, que na hora, imediatamente, o nível de sex appeal dele cresce exponencialmente, independente dos demais fatores de atração. Eu e os cantores emocore que o digam!
PPS: pessoal da Nilo: se fizerem alguma pergunta, deixem um e-mail de contato para que eu possa responder, ok? Ou conversem comigo direto em Marcus423@gmail.com

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Post Quase Cultural

Há muito tempo que não comento livros aqui nesse espaço, e não vai ser hoje que eu vou comentar, é claro. Preguiça de elaborar uma resenha que seja legal, e se eu fizer com preguiça, não fica bom. Certas coisas só devem ser feitas se forem bem-feitas, e isso (hoje) é uma delas.
Então, descartada a possibilidade de eu comentar livros aqui, é provável que mais pessoas cheguem ao fim deste texto, e não desistam na metade ou antes. Não os leitores de sempre; esses, eu sei, lêem os meus textos até o fim. Se por que gostam do texto ou por que gostam de mim, já é uma questão metafísica demais para o momento.
Em lugar de resenhas, então, vou falar de literatura, pelo menos a parte da literatura que também faz parte da minha vida, então o que tiver daqui pra diante no post é a intersecção entre a literatura e o meu Eu de Hoje, filtrada pela minha (e de todos nós) incapacidade de descrever perfeitamente determinados fatos e circunstâncias. As idéias e a percepção de cada um são muito difíceis de serem expressadas, por manterem uma distância respeitável das mentes das outras pessoas*. O objetivo de todo escritor (alguns querem é ganhar dinheiro, mas os demais) é melhorar o modo como se traduzem idéias em códigos que as outras mentes, digo, pessoas possam entender, mesmo que tal entendimento não seja também tão fácil**, como vejo que o será esse parágrafo.
Mas enfim.

Comecei a escrever em um diário. Como o nome sugere, eu o faço todos os dias. Quando falho em um, no próximo eu duplico o tamanho, não por punição, mas por natureza. A abstinência me entusiasma sobremaneira e quando vejo lá se foram quatro páginas de caderno.
A idéia inicial de fazer o diário eu não sei. Os objetivos são vagos, e para cada pessoa eu teria uma resposta diferente. Por exemplo, se o Amigo Dos Desabafos me perguntar, eu digo que é por que assim eu vejo meus problemas por outro ângulo, e facilito uma possível resolução e amadurecimento.
Pro Amigo Neurocientista, eu digo que é para melhorar a memória (paradoxalmente, ao deixar registrado o que eu fiz, fica mais fácil de eu não precisar consultar os registros...). Pro Amigo Prático, eu digo que é apenas uma forma de melhorar a escrita, e o faço escrevendo um diário por causa do motivo que eu diria para o Amigo Loucão.
Pro Amigo Loucão, eu digo que é por que eu sinto uma necessidade grande às vezes de deixar escorrer as idéias que eu tenho na cabeça para o papel, passando pela escrita. Simplesmente minha cabeça não cala a boca, me deixa hiperativo, meio na lua e, em casos extremos, com insônia. Por essas idéias uivantes serem ou idiotas ou complexas demais (ou ambas), eu não sinto vontade de postá-las no blog. Como grande parte das idéias que eu tenho são desse ou daquele grupo, fica difícil eu conviver comigo mesmo sem deixar isso em algum lugar.
Todos os motivos são reais. E a idéia de que pouca gente entenderia se eu explicasse tudo, achando estranho que eu tenha mais de um motivo para fazer algo, é o tipo de coisa que eu deixo pra escrever no diário. Isso e * e **.

Outra parte da intersecção de que falei no início, é uma mais literária mesmo. Semana que vem eu participarei de uma feira do livro aqui na minha cidade, graças a minha participação na Antologia Solarium, sobre a qual eu falei em um passado remoto. Eu vou conversar lá com turmas de 5° e 6° ano sobre leitura e sobre escrita. Quando me perguntaram se eu topava participar eu pensei “Se eu gostaria de participar de uma feira do livro, onde eu vou falar sobre duas das coisas que eu mais sou apaixonado? Por acaso macacos gostam de bananas?”. Aceitei, claro, hehehe.
As turmas que eu falei também lerão o meu conto, e parte da conversa será sobre ele. Estou muitíssimo entusiasmado, e acho que será bastante válida a experiência. Depois de ocorrido a dita feira, eu conto como foi.

Um último ponto importante na intersecção (bem no meio da intersecção: o ego). Recentemente eu recebi o que geralmente se chama de elogio pelo blog. Mas eu diria mais, foi praticamente uma declaração de amor incondicional (exageropontocom), hehehe. Eu gostaria de dizer que se o prazer que as pessoas tem em me ler for metade daquele que eu tenho em escrever pra elas, essas pessoas já tem o equivalente moral de um orgasmo, ;)

Um abraço forte!

domingo, 23 de agosto de 2009

Renegando ao Movimento Sedentário

Pois é, caríssimos, a vida está sempre nos provando que idéias que antes tínhamos não são tão boas como achávamos, e que idéias que não tínhamos seriam bem prazerosas de serem tentadas. Novidades são interessantes, e há quem diga que viver é isso mesmo: se tocar de cabeça nas oportunidades, arriscar o que puder, ao mesmo tempo que se mantem a cabeça fixa em cima do pescoço e o pescoço preso ao resto do corpo.

O que quer dizer, em outras palavras, que a vida é um troço mutcho loco.

E é mesmo. Dia desses, minha turma viu uma palestra sobre Kung Fu (a filosofia chinesa) e o Wu Shu (a arte marcial da filosofia chinesa do Kung Fu). Aqui no ocidente ambos conceitos não são lá muito diferenciados, pra nós é tudo um monte de gritos e kame-hame-has.
Posso dizer que adorei a palestra, mesmo. Fiquei todo pilhado para passar a praticar Kung Fu, e até pesquisei alguns preços em algumas academias do centro da cidade. Todos, é claro, estavam fora do orçamento. Por isso tive que mandar pra minha escola um cadastro que, entre outras coisas, os informa de que eu estaria interessado em fazer estágio para ganhar algum dinheiro caso eles estivessem interessados em meus serviços.
Como não me chamaram, fiquei sem ir no Kung Fu.

Paralelo a isso, eu estava ficando cada vez mais consciente da saúde e coisa e tal, a baboseira toda que vocês estão sonolentos de saber. E então, só para ajudar, uma amiga, durante uma conversa em que falávamos sobre artes marciais, comentou sobre as pernas de quem faz Muay Thai, que são, nas palavras dela, “nossa...!”.
Me choquei com aquilo. Guardei para mim, mas aquilo foi uma dessas informações que não se contentam em entrar na cabeça, elas entram, quicam lá dentro, e ficam fazendo acrobacias o tempo todo para serem relembradas.
E é por isso que, na última quarta-feira, entrei para uma academia daqui de perto de casa. Não é Muay Thai, mas é o mais próximo que eu consigo chegar disso. Também não está bem dentro do orçamento, mas é bem mais barato e consegui uma amiga da minha mãe que precisa de aulas particulares de matemática e, oh!, descobri que dando aula pra ela eu posso pagar a academia e minha mãe não precisa nem se coçar.

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Lá conheci bastante gente. A secretária é super gente fina, lê alguns livros que eu já li, e sempre sorrindo de bem com a vida.
Um outro cara que faz nos mesmos horários que eu é, também, muito legal, conta histórias legais e está sempre me ajudando a decifrar as instruções dos treinos.
Tem também, claro, um Negrão, com N maiúsculo, de “Nossa senhora que cara grande”, cujos bíceps tem bíceps que tem bíceps, e que tem, entre seus antepassados, um armário e uma parede. Mas, apesar do tamanho e de falar três tons acima do limite inferior da audição humana, ele é super legal e prestativo.
Em alguns momentos também tem os maloqueiros do morro, levantando pesos consideráveis e ostentando músculos anabolizados, mas com esses eu não conversei muito.
Todo mundo de lá parece ser legal (exceto os maloqueiros) e realmente estou me sentindo muito bem de ir lá. Talvez seja psicológico, mas estou feliz que meu cérebro consiga me enganar tão bem.

E não se preocupem, eu pesquisei na internet e, desde que eu não pegue pesado, o meu crescimento longitudinal não será afetado. Pelo menos até os 21 anos, eu ainda quero crescer um pouco.

Recomendo o hábito de ir na academia para quem puder, porque apesar das dores, compensa bastante!

Abraço!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pé de Valsa

Este final de semana foi emblemático, e entrou para a minha lista pessoal de melhores finais de semana do mundo.
Primeiro, durante a semana, recebi o convite, bastante improvável aliás, de ir no Baile da Linguiça. Como todos vocês sabem, sábado foi o dia da linguiça, ou se não sabiam, agora sabem. Em todos os lugares de cultura majoritariamente germânica, como é o caso da minha adorada Capital Nacional do Calçado, o cardápio de sábado foi um só: linguiça. Assada, frita ou crua, o que importava era que fosse linguiça.
E, como é de tradição aqui no bairro, a igreja católica promoveu um baile em comemoração ao dia da dita cuja, que eu só não repito o nome pra não gastar a palavra. A entrada foi cara, como também é de tradição, mas valeu cada centavo. E olha que eu sou migalheiro em relação a dinheiro, mais ainda em tempos de crise do dólar, essas coisas.
Já lá dentro, conversei com algumas pessoas, evitei de conversar com outras, sabem como é. Como era de se esperar de um baile organizado pela igreja, com o agravante de ser da cultura alemã, o grosso do pessoal que estava lá era de jovens sexagenários, septuagenários e octogenários. As pessoas mais novas eram filhas ou netas das papa hóstias e do puxa-sacos do padre. Mas isso não chegou a me abaixar o entusiasmo pelo baile, estava louco para fazer alguma coisa no que eu achava que seria a última semana de férias (ouvi boatos de que existem boatos sobre aumentar ainda mais o recesso escolar de inverno por causa da gripe A) e não seria um ou outro tendo um ataque cardíaco que ia abalar isso.
Na hora da janta, eu estava azul de fome. Tivemos que esperar um monte de gente ir se servir antes de nós, por que ainda estávamos esperando os parentes da minha prima e, principalmente, por que não queríamos ser soterrados pela avalanche de pessoas famintas que se tocaram no Buffet. Na devida hora, nos servimos e, meu chapéu, como a comida estava boa. Eu sou bem chato pra comer, mas aquela comida, apesar de ser linguiça, estava boa, com ou sem trema.
Tempo suficiente depois, um cara foi no palco improvisado e sorteou uma (adivinhem?) linguiça de meio metro, e em seguida uma de um metro e meio. É linguiça pra caramba, passarão semanas antes que os sorteados estejam novamente com o hálito em dia.
Então começou o baile. A banda estava boa, e acabou de vez com o preconceito que eu tinha com bandinhas alemãs, por que tocavam bem mesmo.
E é aí que começa a parte boa mesmo do fim de semana. Fui dançar com a minha prima, dancei umas duas músicas com ela, sentei. Cinco segundos depois a mãe da minha prima me tira pra dançar. Dancei duas ou três músicas com ela, e sentei. Cinco segundos depois, a irmã da mãe da minha prima me tira pra dançar e eu danço umas duas músicas com ela, e sento. Nisso, minha prima me tira pra dançar uma valsa, por que ela queria mostrar para o namorado dela como era. Dancei, e então sentei. A sobrinha da mãe da minha prima veio e me tirou para dançar, por que o marido dela não sabia e não estava no humor para aprender. Pois bem, eu fui, dancei umas duas músicas e sentei de novo. E depois fui dançar, e fui nesse ritmo até o intervalo do baile, quando o pessoal começou a cansar.
Eu, é claro, estava um pouco cansado também, mas estava feliz demais para notar na ocasião. A dança é a linguagem da alma, e a minha alma tinha bastante coisas para falar.
Depois do intervalo e da parte retrô do baile, quando a banda tocou sucessos de antigamente, aconteceu algo que deixaria qualquer um puto, menos a mim, que achei normal. Eu estava lá dançando animado, em um ritmo acelerado, quando a perna da minha parceira de dança, não sei como, nem de que jeito, parou em uma posição tal que impediu a minha própria perna de fazer o movimento de retorno, o que resultou que eu, 15 anos, 1,70m de altura, pesando 65kg, olhos azul-esverdeados, corpo atlético e pinta de galã caí com tudo na tal perna da parceira. Eu não achei ruim, nem ela, creio, mas certamente os espectadores acharam divertidíssimo. Foi a última música que ela dançou comigo, não sei por que.

Quando acabou o baile, escutei uma coisa que elevou minha auto-estima a níveis alarmantes e fez o meu ego dar um salto à lua e permanecer lá até agora: “Quem salvou a noite foi o Vini!”. Vini, no caso, sou eu. E é importante ressaltar que isso tem um valor do caramba para mim que, no fundo, tenho complexo de inferioridade. Não me senti o macho alfa do grupo (risos), mas senti como se eu fosse importante, e eu nem lembrava como era isso. Passei por vários momentos, nos últimos tempos, em que eu me considerei um lixo, e relembrar que na verdade eu não valho tão pouco foi bom. Pra dizer o mínimo.
Voltei para casa, ainda levitando, e tomei um banho. Quando o corpo começou a esfriar que eu notei as dores da guerra: minhas pernas e pés estavam em frangalhos, minha bunda (que, por algum motivo inextricável, é a parte do corpo que fica mais tensa quando eu danço) ainda estava dura, etc. Mas quanto a essas eu estava vingado antecipadamente: sei de cinco ou seis calcanhares que eu pisei que nunca mais serão os mesmos.

Por isso, pessoal, respeitem a linguiça(?)!

Abraço!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Não é a Morte da Bezerra

O temor da morte é um dos mais antigos, e de certo modo é algo que movimenta o mundo desde sempre. Isso e a vontade de fazer sexo, mas não vem ao caso exatamente.
Medo de morrer e medo de que morra algum ente querido, ou algum querido que não seja ente(!?), nos privando de sua companhia e nos desesperando com o fato de que vê-lo novamente só em lembranças. Porém a dor da perda é superável, mas a morte não, e é por isso que eu temo a minha própria morte mais do que a morte das pessoas a minha volta: se eles morrerem, a dor vai ser grande, enorme em alguns casos, mas passa e momentos alegres voltarão; já se eu morro, não tem choro nem vela, já era. Na minha visão, é preferível uma situação de dor absurda, mas com esperança de felicidade do que uma situação de total falta de expectativa (de tristeza ou felicidade).
No caso improvável de que eu morra, sei que o mundo continua mesmo sem a minha presença. Digo improvável por que existem seis bilhões de pessoas lá fora para morrer, então por que isso aconteceria logo comigo? Pois é.

Existem pessoas que não querem morrer queimadas ou afogadas, devido o alto sofrimento envolvido no processo. Algumas gostariam de morrer dormindo, ou anestesiadas pra caramba. Eu, por outro lado, não gostaria de morrer. De fato, pretendo viver para sempre; mas como os fatos não dependem de pretensões, sei que não vai acontecer como quero. Talvez objetivando tão inalcançável objetivo eu chegue mais longe do que se pretendesse algo não absurdo, mas isso também já é questão para debate de filosofia, e não para este post deliberadamente mórbido. Viver para sempre, então, talvez não seja possível. E também não é tão certo que isso seria legal, já que em termos de tempo, eu só vivi 15 anos. Para o mundo, “todo o tempo do mundo” é a eternidade, mas para mim isso por enquanto dura 15 anos. Essa defasagem de perspectivas certamente leva a julgamentos errados. Concluindo essa idéia, viver na eternidade mesmo que possível, talvez não seja uma boa idéia. Vai saber.
Deixada de lado então a imortalidade, e visto que uma vida que acaba tem um fim (por definição, algo “que acaba”, é por que tem um fim, Ana Maria Braga!), se eu pudesse escolher como eu esticaria as pernas eu escolheria fazê-lo fazendo algo que eu goste. Ou que eu goste na época que tal coisa acontecer. Lendo, caminhando, sentado pensando... Simplesmente do nada meu coração parar e eu fechar os olhos como se fosse tirar mais uma soneca. Afinal, “o sono é uma morte incompleta; a morte é o sono perfeito”.
Em outras palavras, uma morte tranqüila, de causas naturais. Da mesma forma que todo mundo morreria se não existissem as armas e o fast-food.
A época da morte é ainda mais difícil de escolher. Contanto que demore bastante, a morte seria bem vinda apenas depois do momento que eu já não sou independente para viver. Minha cabeça acho que vai ser boa até a hora da morte, então talvez eu vou estar apenas com o hardware avariado. Concluo então que não existe conclusão para isso. Estar lúcido é o suficiente para ser feliz? Cabe a cada um responder, eu acho.

Comigo já morto, não sei se faz algum sentido eu dizer como gostaria que fosse o meu enterro. A minha atual crença (ou mais apropriadamente “falta de”) é uma visão material e racional da vida, segundo o qual a vida acaba quando as funções cerebrais acabam. Nenhuma alma ou espírito para supervisionar o que os meus amigos e parentes fariam com o meu corpo defunto.
Mas, ora bolas, se as coisas fizessem sentido em tempo integral a vida seria uma sucessão de chatices previsíveis. Como não é o caso, então o que na verdade não faz sentido é eu deixar de dizer como eu gostaria que fosse o meu enterro só por que tal emissão de opinião não vai na prática me dizer respeito. Então lá vai.
Fugindo do lugar-comum de dizer que eu quero um enterro feliz, com música e dança, eu quero um enterro onde todos estejam chorando a cântaros por minha partida. Me reservo o direito a esse egoísmo último. Quero morrer amado e admirado, e quero que as pessoas expressem isso. De preferência em vida, mas se não for possível que o façam no meu velório.
Na parte religiosa, não faço questão que tenha um padre ou pastor abençoando o meu “invólucro sagrado” vazio. O que vai acontecer é que meus parentes vão acabar chamando um, e se isso os confortarem, tanto melhor. Todos nós temos direito a essa irracionalidade em um momento difícil como o que descrevo. Eu, pessoalmente, penso seriamente em pedir apostasia da igreja, se isso não me custar dinheiro ou um preconceito muito forte. Se eu estiver errado, me entendo com o Monstro do Espaguete Voador depois. A possibilidade de que tudo o que sabemos está errado é sempre uma possibilidade; não trabalhar com essa idéia é demonstrar ignorância tanto quanto quem nem quer saber das outras possibilidades.
De qualquer modo, eu também pretendo (por todo o tempo que pretendo viver) ser uma pessoa boa, e isso, espero, talvez me redima do pecado de acreditar no que atualmente me parece mais acreditável.

A morte é um tema bastante difícil de esgotar. Mas não é de todo triste, pois faz parte da vida e nos impulsiona no sentido de continuar vivendo cada dia como se ele fosse o último. E esse é o nosso objetivo, não?

Abraço!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Um Pouco de Ciência

Caríssimos, aviso de antemão que o texto que se segue a essa introdução pode ser bastante chato para pessoas que difiram muito em interesses de mim, mas depois de uma longuíssima e profundíssima reflexão nos últimos cinco minutos me decidi por escrever assim mesmo, por que lê só quem quer e se de algum modo ou outro eu contagiar alguém com minhas idéias, tanto melhor.
Então, aos trabalhos.

Minha mente é bastante inquieta, e raramente que eu consigo de fato pensar em trivialidades. No mais das poucas vezes em que penso em trivialidades, minha mente inquieta (e perturbada, segundo a visão de alguns) acaba expandindo e enfiando algum pensamento diferente no meio, ou vendo tudo de uma perspectiva nova. Isso é legal, e adoro brincar de viajar.
Não é um negócio muito simples, porque requer um grande esforço no sentido de não controlar os pensamentos. Em grau de dificuldade, está um degrau abaixo de não pensar em nada, pelo menos para mim. Pensar objetivamente é um vício, mas que com jeito pode ser contornado, nem que sejam poucas vezes e por diversão.
Stephen King, no livro Saco de Ossos, fala, através do personagem principal do livro, que o escritor é uma pessoa que ensinou a sua mente a se comportar mal. Então, ao menos sob essa definição, eu sou um escritor, hehehe.
Mas então, uma dessas viagens, alucinações, momentos vegetativos, chame como quiser, eu pensei sobre a idéia a seguir. Até nem é uma idéia, é um fato que apenas durante uma dessas deliradas que eu notei, e mais tarde em várias deliradas (nos momentos menos oportunos) que eu entendi melhor as coisas que antes havia deslumbrado.

Então, pensem em um átomo (a partir daqui, especialmente, vale o que eu falei no início dessa tortura, digo, desse texto). Ou melhor, pensem nos prótons e nêutrons que o formam, e mais a fundo, pensem nos quarks que formam os prótons e nêutrons que formam o átomo que eu falei. Pois então, os quarks, insensíveis que são, não estão nem aí para aquilo que estão formando. Para eles não interessam os nêutrons e prótons, o que lhes apraz é viverem em pares ou trios (pesquisem sobre isso para saber mais). Isso por que as forças de atração e repulsão que existem entre essas tais partículas é de tal forma que inevitavelmente elas iriam “querer” formar pares e trios.
Mais acima no nível de compreensão, estão então os nêutrons e os prótons e também os elétrons, que não citei anteriormente. Os quarks dentro deles estão de tal forma unidos que nem lembramos mais que cada nêutron e cada próton tem três indivíduos específicos dentro de si. De forma parecida a antes, os prótons e nêutrons e elétrons têm uma predisposição (por causa de forças da natureza também, parecidas com as que impeliram os quarks a se unirem) a se unirem em átomos. Como todos vocês já devem ter ouvido falar, existe uma tabela, chamada de “Tabela Periódica dos Elementos Químicos”. Escolheram esse nome por: se tratar de uma tabela, um gráfico composto de linhas e colunas; ser periódica, isto é, certas propriedades se repetirem periodicamente; e ser dos elementos químicos. Criatividade zero, mas enfim.
Nesse nível, passamos a desprezar o que acontece dentro do átomo, lidando com ele como se ele fosse algo sólido (com carga, etc etc etc). Eles se juntam em moléculas, obedecendo as leis químicas, que se juntam em células, que são o constituinte básico de algumas coisas insignificantes, como nós.
Enquanto isso, os quarks estão bem felizes dançando ciranda cirandinha vamos todos cirandar dentro dos prótons, não atentando nem um pouco para o fato de fazerem parte de nós.
O que eu quero salientar, pessoal, a coisa que me fascina na ciência e em tudo, é que por causa de leis básicas, fundamentais, que regem coisinhas pequenas, as coisas grandes acontecem. Quem é que iria dizer que as leis que fazem os quarks se unirem, quando muitos quarks estão juntos, produzem efeitos colaterais tão estranhos?
Vou dar dois exemplos. Hoje estou didático, com vontade de que todos saiam do meu blog com algo novo para pensar, ao invés de só perder temo lendo esse monte de babaquice sem sugar algo de bom. O primeiro, é para o eventual pessoal que sejam meus colegas ou não, que sejam da área técnica. Qualquer um entende, mas é mais aproveitável para quem já sabe das coisas.
Existem determinados materiais que são bons condutores de eletricidade, outros que são maus condutores (isolantes) e existem os intermediários entre eles que são os semicondutores. Não vou nem levantar a questão de que agora já tratei os materiais como se eles não fossem feitos de quarks.
Esses semicondutores, se tratados de uma certa forma, são chamados de tipo N, e de outra, de tipo P. Um tipo tem elétrons sobrando e outro tem elétrons faltando (ambos, então, conduzem eletricidade). Até aí tudo bem, mas o que acontece quando grudamos ambos os tipos em um componente eletrônico?
Juntando os dois, nós formamos um diodo. Esse componente tem a propriedade de conduzir eletricidade em apenas uma direção. Só não explico o porquê para não tornar esse texto ainda mais cansativo.
Se juntarmos três pedaços, dois de um e um do outro, teremos um transistor. Esse é mais complicado que o anterior, e eu mesmo não conheço suas propriedades. Mas são bastante úteis, visto que muitos o consideram como uma das maiores invenções do século.
Se juntarmos vários diodos e vários transistores, nós podemos construir um CI (circuito integrado), que é um componente que realiza uma função específica, e elevando a complexidade, temos um microprocessador, que todos sabemos o que é.
Tudo devido aos átomos de semicondutores.
O segundo exemplo é um que todo mundo que tenha coração vai entender. Por que mesmo o mais impensante dos homens já parou para pensar nisso. Isso ou minha mente é perturbada mesmo.
Falo da emoção. Por que mais complexo que isso, nem o LHC.
Ela surgiu da evolução (Darwin e essa coisa toda), e devido aos inúmeros pequenos detalhes, acabou se tornando algo muito mais grandioso. Muito mais cheio de conseqüências do que de objetivos cumpridos.

Então, caras, os quarks não tem culpa. O amor, o desamor, a amizade, e tudo o que você puder relacionar à emoção, são apenas conseqüências do acaso. Portanto, não são mágica ou algo sobrenatural. Elas são hipernaturais, visto que são causadas por uma série de outras coisinhas com causa natural.
E isso não as desmerece ou diminui, só as tornam mais desejáveis. Temos que aproveitá-las. A probabilidade de elas existirem em um universo como o nosso é pequena o suficiente para ser possível que só existam aqui, então, não desperdicem a chance de viverem que todos nós temos.

Amém.

***

Aos sobreviventes, meu muito obrigado por deixarem eu encher suas cabeças de minhoca. Aos não sobreviventes, meus sinceros sentimentos.

Abraço!

terça-feira, 23 de junho de 2009

"Be Happy", dizem eles

Durante esse último mês, não vou mentir para vocês, só não postei por que eu não estava me sentindo muito bem, emocionalmente.

Não poucas foram as vezes em que vocês leram aqui por essas bandas eu falando que estava triste sem motivo, apenas causas hormonais causadas por essa fase maravilhosa da vida. Pois é, que saudade que eu tinha desse mau humor! Por que pelo menos ele não tinha um motivo real e logo passava. Agora eu sei o motivo da minha aflição muda, mas sinto o peso dos grilhões nos meus pulsos, então não posso fazer nada, ou quase nada, para mudar minha situação.
Poder fazer eu posso, mas o medo é grande e a inexperiência é ainda maior. Quem nunca tropeçou, quando tropeça a primeira vez, destroça os joelhos. E esse é o único ponto bom: é preciso essas batidas de cabeça de vez em quando para acordar o vivente, e me fazer aprender.

Então, pra condensar melhor:
- talvez eu poste, talvez não poste nos próximos dias.
- A emoção é muito mais complicada de controlar do que a razão, e isso, embora eu já tivesse escutado e assimilado, só agora entendo.
- Agora, pela primeira vez, eu me sinto um adolescente normal, que tem problemas e que se odeia de vez em quando.
- A escola está ótima. Embora as coisas estejam mais difíceis, minhas notas melhoraram em relação ao ano passado, quando já eram boas.
- Eu vou sobreviver, ;)
(o problema é como...)

Então, não levem em conta esse post de hoje quando forem analisar minha escrita, por que ele é absolutamente frágil frente qualquer crítica bem fundamentada. Às vezes o cara precisa dar uma desabafada para estranhos (e alguns amigos do dia-a-dia, e outros unicamente virtuais), até mesmo sem tocar no problema mesmo.

Abraço!

sábado, 23 de maio de 2009

Cultura, pra não perder o costume

Comentar filmes é algo que gosto de fazer, por que entre um e outro comentário inteiramente destinado ao filme sempre entra algo extra, alguma coisa que estava boiando na minha cabeça a espera de oportunidade de ser compartilhada com o mundo. Como Asimov disse certa vez sobre seu hábito de escrever: “Sinto um prazer inocente em fazer isso. Afinal de contas, tenho muita coisa a dizer, e procurar manter tudo comprimido dentro de mim facilmente poderia danificar meus órgãos internos”. Faço minhas as palavras dele (quanta audácia!), e toco o bonde.

Então, vou comentar dois filmes e o primeiro filme que vou comentar é “Perfume – A história de um assassino”. Baseado em um livro de um autor que confesso a vocês que não lembro o nome (Santo Pai Google me soprou agora: o autor chama-se Patrick Süskind, e é alemão, como pode-se notar pelo sobrenome heterodoxo do tiozinho), conta a história de um garoto que tem um dom incrível: um olfato supra humano. A ambição da vida dele é produzir um perfume irresistível, e o jeito que dá para fazê-lo é extraindo a essência de 13 virgens. Para extrair a tal essência, e ele encara isso como mero detalhe, ele mata as jovens, e isso acaba levando as outras pessoas da história, de mentes menos libertas dos conceitos mundanos e portanto pessoas que não vêem com bons olhos o hábito do protagonista de matar jovens e emplastar os seus corpos nus para extrair seus cheiros, a persegui-lo.
A sensação de olhar esse filme é semelhante à de ler um bom livro. O que quer dizer, baseado em uma lógica simples, que esse é um ótimo filme. Não é previsível, não pode-se distinguir rapidamente bonzinhos de mauzinhos e nem pode-se rotular o final de feliz ou triste, então não recomende esse filme para algum espectador assíduo da Mamãe Globo, porque ele não vai gostar.
Ao contrário de outras tantas histórias que estamos acostumados a assistir, essa não tem uma moral ou algo que possamos levar dali. É a arte pela arte, dá pra dizer. Seu final não é triste nem feliz, é apenas um final. Final feliz é coisa de sessão da tarde, e quando algum autor escapa do beco escuro da falta de criatividade que é esse clichê, e cria uma história do calibre do “Perfume”, devemos dar graças a Deus, dançar ao redor da fogueira e acender velas para Buda, só pra ter certeza.
Enfim, recomendado para quem tem um gosto parecido com o meu, que gosta de novidades ou para quem quer ver as virgens nuas.

O segundo filme que eu gostaria de comentar e indicar para vocês é “V de Vingança”. Igualmente ao anterior, esse não tem bons e maus, embora tenha bastante evidenciado quem é “nós” e quem são “eles”.
O pano de fundo para a história é uma Inglaterra do futuro onde fanáticos religiosos tomaram o poder e instauraram um regime totalitário dos mais completos: repressão da opinião, preconceito a gays/lésbicas/ateus/muçulmanos/outros-grupos-minoritários, lavagem cerebral, toque de recolher... etc. A pena, por exemplo, para alguém que é descoberto com um Al Corão em casa, é a de morte por fuzilamento. Totalitarismo totalmente triste.
A história em si é sobre um revolucionário, chamado simplesmente de “V”, e sobre os mistérios que o envolvem. Nesse filme é preciso pensar mais do que em Perfume, já que aqui o roteiro é mais amarrado e pensado (não que Perfume seja burro, mas é passível de ser olhado sem pensar muito). É baseado em uma graphic novel de mesmo nome, e talvez por isso tenha tantas idéias complexas internas.
Graphic Novel, para quem não sabe, é o nome bonito para História em Quadrinhos. Adulto nenhum, ou pelo menos não um adulto que seja plenamente aceito pela sociedade atual, admite publicamente gostar de HQ. Mas é chique ler graphic novels, e uma revista com esse nome dá a impressão de que só se pode ler enquanto beberica um champanhe francês frente a lareira.
V de Vingança, então, está fortemente recomendado também.

Recado dado, cabeça esvaziada, já me vou.

Abraço!

domingo, 17 de maio de 2009

Positive Vibrations

Eu tenho me observado ultimamente, nos últimos 15 anos para ser mais preciso, e notei que sou bastante influenciável. Não por todos, algumas pessoas tem um poder de persuasão maior do que outras, mas não é desse tipo de influência a que me refiro. Por que o que me influencia mesmo, é a atmosfera de algum lugar, me deixando alegre, triste, intimidado, encorajado, com vontade de sair correndo pelado, enfim, mexendo de algum jeito com a minha cabeça.
Eu posso estar totalmente alegre, e do nada ficar triste; ou estar triste e do nada ficar feliz; ou do nada ficar com vontade de fazer alguma coisa (os maliciosos de plantão talvez podem se vangloriar agora, já que é possível que tenham captado corretamente a malícia que eu quis passar). Dependendo da música, da temperatura, da cotação do dólar e da quantidade de compromissos da semana seguinte.
Durante a observação que eu fiz de mim mesmo, então, também notei que certos lugares me deixam deveras deprimido. Quando passo, por exemplo, perto da entrada do shopping aqui da minha cidade, me sinto com cinco centímetros de altura, todas as pessoas ao meu redor parecem querer que eu seja atropelado na próxima esquina e todos os maloqueiros e mendigos parecem mentalizar alguma forma de me assaltar ou espancar. A sensação me persegue, até a entrada do sebo que eu freqüento. Ali, de alguma forma, a atmosfera é mais leve e eu consigo respirar aliviado (apesar do intermitente cheiro de livro velho carcomido de traças). Energias positivas, diriam os hippies.
Mas, de uma vez por todas, o que é essa tal energia positiva?
Primeiro seria interessante descobrir de que energia eles falam. Térmica, química, mecânica, elétrica... não parece ser nenhuma dessas. Correntes esotéricas adoram dar explicações científicas para as coisas que não entendem, dando uma certa credibilidade para as próprias crenças absurdas (e para os produtos das suas lojas).
Dizer que o que causa estresse nas pessoas é o acúmulo de energias negativas no corpo é um exemplo das coisas que eles falam. É possível que exista algo a ver, mas o ponto que eles enfatizam é o “negativas”. Oras, a carga do elétron é dita negativa por pura convenção, poderíamos tranquilamente dizer que na verdade quem tem carga negativa é o próton, mas isso iria contra séculos de afirmação do contrário.
A negatividade de um humor, então, nada tem a ver com essas explicações bestas. Nem a energia vital da pessoa (alguém aí lembra do kame-hame-há do Goku?) tem a ver com isso, se é que existe. O humor da pessoa é algo controlado por dentro, nada tendo a ver com o que existe fora da cabeça da pessoa.
Os estímulos externos desencadeiam emoções na gente, mas somos nós que temos que decidir se isso vai ou não estragar o nosso dia. Um bom dia só depende de nós, que somos quem irá decidir a quais coisas devemos dar importância, as boas ou ruins, e até mesmo se devemos dar importância a alguma coisa. Seria legal se algum fanático descobrisse que a sua tão amada energia positiva depende na verdade de uma certa capacidade de controlar as reações químicas neuronais, e não da vontade divina de obscurecer a sua aura.

Então pessoas, é isso que eu quero dizer pra vocês hoje, resumidamente:
- se quiserem ser felizes, vocês podem ser felizes;
- esoterismo fede, ciência rules.

Um abraço!

PS: se algum amigo fanático seu ler isso por cima do seu ombro e quiser saber o meu endereço, desconverse e mude assunto. A minha integridade física agradece, ;)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Mundo Estranho

Acordei em um dia dessa semana, sem saber que haveria algo diferente. Fiz tudo normal, mas aos poucos fui notando estranhas mudanças ao meu redor.
Primeiramente, não fiquei com sono em nenhum momento da manhã, sendo que tradicionalmente eu dou umas pregadas de olho de alguns segundos. Consequentemente, peguei rapidamente a matéria, algo que não acontecia desde o ano passado com a minha pessoa.
Passou-se algum tempo, sem mudanças estranhas ou interessantes. Então, como era dia de coral, desci pro centro. Ao passar pelo viaduto, estavam andando na minha direção duas garotas. Tudo certo, bonitas, aparentemente simpáticas entre si, e quando passam por mim uma delas estende a mão para mim e na mão dela tinha um desses panfletos que se entrega na rua. Instintivamente estendi a mão, ela era bonita né, fazer o quê. Quase que eu caio na brincadeira da tirana. Mas recuei a mão a tempo de evitar passar por um possuidor de bobice desmedida. Elas riram, eu ri, e continuei andando.
Mais adiante no caminho, um carro vermelho passa por mim e eu olho para o motorista. Por um microssegundo ocorre aquela centelha elétrica de reconhecimento. O carro anda mais um pouco e então estaciona na calçada. Eu dou uma corrida, pensando “Eba, carona!” e quando olho para o motorista, o motorista me olha de volta e nós ficamos nos olhando, quando eu brilhantemente quebro o silêncio constrangedor perguntando “Eu te conheço?”, ao que ele me responde “Não sei”.
O diálogo segue por mais três ou quatro frases curtas, onde ele me pergunta onde eu estudo e para onde estou indo. Aparentemente, ele me conhece do Orkut, mas meu sentido aranha me avisou do perigo de ser um desses engraçadinhos que acham que podem inventar novas formas de seqüestro. Então, falei no melhor jeito amigável possível que valeu a gente se vê, e ele não pareceu se importar com a minha retirada para que ele pudesse começar a se chamar de idiota que fica parando a qualquer momento para ver se conhece um rapaz que estava passando.
Depois desse episódio, passei a notar que todas as pessoas na rua estavam invariavelmente simpáticas, quando sempre é o contrário. Ah, acabei ficando de bom humor também, não dá pra evitar.
Cheguei no ensaio, tudo normal, fui pra casa com uma idéia de post para o blog. Isso, principalmente, foi o que eu achei estranho. Tempão sem escrever e do nada me dá essa lâmpada piscando acima da cabeça com uma idéia. Mas, claro, cheguei em casa, tomei um banho e o entusiasmo foi todo junto no ralo.
Mas hoje retomei a idéia, e está aí o resultado. Estava com saudades disso.

Enfim, espero que amanhã, quando eu acorde, o mundo – ou eu, afinal não sei o que mudou – continue assim como está agora.

Abraços fortes!

domingo, 12 de abril de 2009

Sei que nada sei, mas isso já é alguma coisa

Todos que já leram algum texto meu estilo cannabis sabem que eu sou dado a experiências de revelação e libertação mental, as tais divagações sobre o Tudo, o Nada e Nós Aí No Meio. Eu sempre dou um toque de viagem/loucura/alucinação das braba, mas na verdade eu de fato tenho esses momentos em que minha cabeça abre-se a uma nova idéia quase a ponto do cérebro sair rolando pra fora.
Por esses dias tive mais uma dessas (sempre que avistarem o “por esses dias...”, cuidado, lá vem reflexão). E tudo em cima de uma certa frase, ou certas frases. “Trocaria tudo o que sei pela metade que ignoro”, “Quanto mais se sabe, mais se sabe que nada se sabe”. O que me levou a pensar, primeiramente, foi o curso de música. Sabem, eu faço coral há cinco anos e sabia que eu sabia muito pouco, mas pensava que eu pelo menos tivesse uma idéia do plano geral. Que nada. Só se entende o significado de não saber algo depois que já se sabe aquilo. Nem me passava pela cabeça a maior parte das coisas que aprendo agora.
Na mesma semana, pra reforçar a reflexão (no meu caso não precisaria, mas ajudou também) eu descobri que apoiava a voz de forma errada. “Apoiar”, em canto coral, quer dizer controlar o diafragma (músculo que enche e esvazia os pulmões) para a máxima eficiência do uso do ar e para não precisar se esguelar para que a voz saia mais forte. (o jeito científico que usei para explicar soa chato, mas depois de um tempo você entende melhor). E eu o fazia de forma errada. Cinco anos de canto coral, todo ensaio a regente falava pra fazer apoio, desde o tempo em que eu estava aprendendo isso, e nunca fiz de forma correta. Isso dá um banho de perspectiva na pessoa, e mostra que sempre, ever, tem algo a ser aprendido.
Os outros exemplos são da escola, e não vale a pena mencionar cada um. Coisas que eu tinha por certas desde a terceira série se mostraram inválidas, e algumas outras coisas que eu nem sequer imaginava existirem estou aprendendo agora. Meio que eu não esperava mais novidades do mundo, só aprofundamentos no que eu já sabia, mas mais uma vez, felizmente, eu estava errado.
E depois de feito o aumento de percepção, irrevogável, tu passa a enxergar coisas que não teria visto de outra maneira. Isso é tão lindo, transcende tanto a religiosidade e a crença, que me dá pena das pessoas que passam a vida inteira na ignorância, sem nem expressar um interessezinho que seja em mudar de opinião, sem pensar se o que elas acham certo é o certo certo de verdade ou se é apenar um certo que elas acham certo por que disseram que era certo então ta tudo certo. Me trinca os ovos gente assim.

Mas enfim, hostilidades e piedades à parte, o fato é que eu já ficaria bastante feliz se infectasse o pessoal aqui do blog com o vírus da curiosidade, da inquietude e do prazer em descobrir algo novo. A vida é curta demais para que a desperdicemos sem evoluir como seres humanos dignos que somos.

Entonces, moçada, Feliz Páscoa, boa renovação da vida de vocês, e pensem no que eu disse e venho sempre dizendo: pensar é bom, faz bem e é um ótimo passatempo quando passa das quatro horas de uma tarde de domingo e você que não tem mais nada pra fazer com o seu dia.

Abraço!

***

E tem novidade quente por aqui. Através do convite do meu amigo e ídolo Frodo de Oliveira, vou participar da antologia de contos de ficção científica Solarium Vol. 1, organizada pelo próprio Frodo. Esse livro (em breve série de livros) faz parte do selo Anthology da editora Multifoco, que está interessada em apresentar novos talentos ao mercado literário. E eu entrei de cabeça nessa, claro.
Segue abaixo o Release do livro:

SOLARIUM –
Contos de Ficção Científica



BEM-VINDOS AO FUTURO!

Este é o convite que a antologia SOLARIUM faz àqueles que não têm medo de
vislumbrar o que ainda está por vir. Cidades perdidas, seres de outros planetas,
batalhas monumentais, galáxias distantes, tudo isso faz parte do inconsciente
coletivo dos que, um dia, se apaixonaram pelo mundo fantástico da Ficção
Científica. Convidamos você a desvendar conosco o grande mistério que é o
futuro, este eterno desconhecido...

AUTORES:

ANDRÉ GARZIA, CHICO ANES, DANNY MARKS, EMANOEL FERREIRA, FRODO OLIVEIRA, GABRIEL ZIGUE, HUGO VERA, HUMBERTO AMARAL, JOSÉ GERALDO GOUVÊA, LARISSA REDEKER, LINO FRANÇA JR., LUIZ R. R. FARIAS JR., MAGALHÃES NETO, MARCELO ANDRADES, MÁRCIO ARAGÃO, MARCUS VINÍCIUS DA SILVA, NUNO LAGO, PABLO CASADO, RICARDO DELFIN, RONALDO LUIZ SOUZA, SABINE MENDES, VICTOR STÉFANO.

(fim do release)
Então, amigos e amigas, esta é a minha primeira participação em um livro, a partir de agora eu já posso me considerar um escritor profissional (risos) e não apenas um aspirante a artista. E como nem tudo são flores na vida de Joseph Climber, e como por enquanto eu não sou nenhum Best-seller, quem faz a maior parte das vendas sou eu próprio, além é claro dos outros autores da antologia, cada um com a parte que lhe cabe. Então, se por acaso alguém quiser comprar um exemplar, contatem-me no e-mail Marcus423@gmail.com para que possamos ajeitar direitinho endereços e modos de pagamento. Não apenas por minha causa também, pois tem muita gente Boa com B maiúsculo nessa antologia. Pois bem, eu podia estar roubando, podia estar matando, mas não, estou aqui pedindo que espalhem o gosto da leitura por aí, ao mesmo tempo que me ajudam a bancar esse meu primeiro passo rumo ao próximo passo (infame essa).

Agora sim, abraços!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

É o momento certo para isso, acho...

Bem, pessoal, é com grande lamentação que venho hoje aqui nesse meu espaço que por tanto tempo foi uma extensão da minha pessoa para dizer que não dá mais. Já chega, é pesado demais para mim a responsabilidade de manter um espaço suficientemente bom para ser lido.

Então, adeus.

...

Rá, peguei vocês.

Um bom resto de 1° de abril pra vocês!

Abraço!

sábado, 28 de março de 2009

A Quem Interessar Possa

Não é incomum dizermos coisas sem sabermos seu significado, ou sem entender por que elas significam o que significam. Quando dizemos, por exemplo, “o livro está sobre a mesa”, logo nos vem na cabeça a imagem de um livro, que é um amontoado de folhas escritas que trazem informações ou entretenimento, sobre, ou seja, em cima de ou apoiado em, a mesa, que é o apoio mais conhecido das residências deste país, comumente encontrada em cozinhas e, nas casas mais abastadas, nas salas de jantar.
Já quando dizemos “fulano está com mau humor”, não é uma coisa assim tão simples, mecânica. Se ele estivesse com catapora era mais fácil de imaginar, doente, mas mau humor é um negócio mais subjetivo. Amor, amizade, essas coisas, então nem se fala: tu acha que sabe até pensar melhor e descobrir que na verdade não sabe não, e que tem coisa pra caralho que tu não sabe.
E isso já é outro exemplo. O “pra caralho” não tem muito sentido, afinal. Existem outras expressões neste rol, mas vou me aprofundar especificamente nessa.
“Pra caralho” não quer dizer “para o caralho”. É mais uma expressão que denota intensidade, e como toda expressão, essa teve uma origem interessante.
Primeiramente, deixe-me falar-lhes sobre Pérbuly Fuzell (1789-1870). Foi um escritor europeu que deixou sua marca na literatura por exagerar no exagero. Suas obras foram escritas, na maior parte, recheadas de exageros e mais exageros. Quando notou que começava a ganhar má fama por isso, cunhou o termo hipérbole (baseado no seu próprio nome), para mascarar de habilidade técnica esse seu tique literário. Enfim, a sua obra completa já é um exagero por si só: em seus 81 anos de vida, escreveu mais de 300 livros.
Por causa de sua fama (que ele não conseguiria perder nem com a invenção de mil eufemismos para o exagero), ficou comum ouvir-se a expressão “à moda de Fuzell”, mais tarde diminuída para “à Fuzell”. Como em “bonita à Fuzell” ou “morreu gente à Fuzell”.
Durante a Primeira Guerra Mundial ocorreu um conflito menor, mas também muito sangrento, na Europa Oriental. Foi a Guerra do Catete, entre o reino do Catete e uma nação igualmente insignificante. Havia o costume de falar que um soldado “matou x para o Catete”, o que quer dizer que durante os combates ele matou x pessoas das linhas inimigas em nome do Catete. Como eu disse, foi uma guerra sangrenta, então as expressões “matou pra Catete” e “matou a fuzéu” se confundiam bastante.
Bem mais tarde, depois que Catete foi associado a cacete, cacete foi associado a pedaço de pau e pau foi associado a vocês sabem o quê, seguindo no melhor do raciocínio Deus-é-amor/o-amor-é-cego/Steve-Wonder-é-cego/Steve-Wonder-é-Deus, a expressão pra caralho saiu fresquinha do forno. Agradeçam essa pesquisa aos mais conceituados etimologistas da atualidade.

E, como a maior parte de vocês deve desconfiar, isso tudo é mentira. Portanto, cuidado com o que vocês leem na internet, por que qualquer um bota o que quiser na rede, e tem lixo a fuzéu por aí.

Abraço!

terça-feira, 17 de março de 2009

Embarcando no Transatlântico da Maionese

Oh man, é com grande alegria que lhes digo que não consigo ficar muito tempo sem escrever aqui, ou em qualquer lugar. Alegria minha, não sei a de vocês, mas é com alegria maior ainda que digo que tem gente que também gosta das coisas que eu escrevo e do jeito que eu escrevo as coisas que eu escrevo, mesmo que alguns trechos fiquem praticamente ilegíveis mesmo pra mim, que foi quem criou e coisa e tal.
Os motivos de eu não conseguir ficar sem escrever é o de sempre, e ao mesmo tempo sempre tão novo: a cabeça não cala a boca. Passa um tempo sem que eu expresse os meus pensamentos, e eu começo a ver coisas que eu não veria se não estivesse com a cabeça cheia de pensamentos (ou usando drogas, mas não é o caso), como por exemplo, ver uma formiga passar e ter revelações filosóficas sobre qualquer coisa, e isso é comum. Pode ser uma revelação antiga, reciclada, mas uma revelação é sempre uma revelação, e a cada uma nova muda o jeito de ver a vida, muda tudo, e isso é uma beleza, deixa o espírito pronto pra enfrentar a eterna novidade do mundo.
Outro motivo é por que eu viajo demais nas idéias também. Vide parágrafo anterior.
E isso agora não está acontecendo só no âmbito da escrita e da intelectualidade e pseudointelectualidade, mas também na música. Como os com capacidade mnemônica mais bem exercitada vão poder se lembrar, eu comecei mês passado um curso de piano, e isso me fez pensar em algumas coisas (diga, existe alguma coisa que não surta esse efeito em mim? Eu não saberia responder). Por que depois que comecei a aprender, eu passei a enxergar a música de um modo diferente. Eu, que estou ha pelo menos cinco anos mergulhado na música por causa do coral e das amizades, me impressionei com o aumento da minha sensibilidade nesse campo depois de começar o tal curso. Passei a perceber coisas que antes eu não percebia, passei a lembrar mais facilmente de músicas sendo que antes era preciso ginástica mental pra fazer isso, entre outras mudanças. Então, a conclusão desses pontos desconjuntados, é que por mais que tu saiba algo, tu ainda não sabe nada de nada. Antes de começar o curso, eu era um completo ignorante a respeito da música. E só vou passar da faixa da estupidez em relação a isso se me esforçar muito, mesmo tendo essa minha facilidade natural de sugar conhecimentos e mudar de opinião.

E esse final de parágrafo me remete a outro assuntinho que eu andei pensando nesses dias. Para exemplificar, vou usar um exemplo bem corriqueiro.
Aula de física. Professor explicando a matéria. Depois de explicar, passa a lista de exercícios a serem feitos. Depois de feitos, pergunta se a turma entendeu. E é aí o pulo do gato que eu quero chegar.
Qual é o seu conceito de “entender” algo? Eu quase nunca consigo dizer que entendi bem alguma coisa, assim logo que o professor pergunta, mas baseado no meu passado posso dizer com segurança e conhecimento de causa que se não entendo de cara não é por que sou burro, mas tem a ver com o meu conceito de entender. Se eu disser que entendi, pode esperar um 10 na próxima prova, ou um 9, mas os erros vão ser falta de atenção ou monguisse de minha parte mesmo.
E essa coisa não se restringe a conceitos, pode-se ver em um monte de coisas. Cores, sabores, etc, ninguém sabe se é o mesmo pra todos. Sentimentos, então, nem se fala. Quando alguém diz que morre de amores por outro alguém, isso talvez nem signifique nada, ou talvez signifique, depende quem diz né. Em época de eleição, os “hinos” dos candidatos adoram isso, enchem-se de palavras bonitas que apenas uma em cada 50 pessoas saberia dizer de fato o que é. Poetas passam dias e dias escrevendo para explicar o que é o amor para eles. É um intento meio impossível, mas rende bons versos, meu amigo Camões que o diga (“amor é contentamento descontente”, nada melhor).
Eu cheguei a mentalizar algo, uma “representação gráfica de como se comporta a mente humana e o universo criado por ela” (no melhor estilo trabalho escolar), que desse uma idéia do que eu quero dizer com tudo o que eu disse. Imagine uma bolha. Essa bolha é sua mente, e o universo criado e percebido por ela. Agora imagine várias bolhas, e perceba que essas são as outras pessoas e seus respectivos universos particulares. Conforme a proximidade do centro, a substância da bolha vai ficando mais resistiva ao avanço de algo que tenta penetra-la, ou seja, quando outra bolha tenta ocupar o mesmo espaço da sua bolha, forma-se uma zona de intersecção (sempre quis usar isso fora da aula de matemática) que seja até um máximo de onde não consegue mais seguir adiante, e nessa zona de intersecção está tudo o que você tem de comum com outra pessoa, ou que pode explicar para ela. O resto é totalmente seu, e felizmente ou não nunca vai conseguir explicar satisfatoriamente para ninguém. Exemplificar coisas que estão nesse grupo é trabalho para você e sua reflexão de hoje (ah é, até parece).

E estou escrevendo tudo isso por que estou lendo um livro sobre Inteligência Quântica, que seria meio que a explicação “científica” (por enquanto e por precaução, imagine muitos milhões de aspas juntas a essas aí) do Segredo. E no livro o cara fala sobre ceticismo e outros grupos que comem criancinhas no café da manhã. E comenta que é bom ser cético (sempre avaliar se uma idéia é boa o suficiente para substituir uma já existente) mas ser cético demais é tenacidade, o que em bom português é ser teimoso. O problema, é que o conceito de cético bom não é o tipo de coisa que está na zona de intersecção da minha mente e da do autor daquela coisa, então não sei agora o que eu penso sobre isso e sobre mim mesmo.

Será que sou cético? Será que não conseguir engolir um misticismo antigo fantasiado de ciência e embalado em palavras científicas, mesmo que acredite em sua eficácia porém não concorde com suas causas, é teimosia e cabeçadurismo da minha parte? Será que isso importa? Será que Capitu traiu Bentinho, ou isso foi uma ilusão muito bem criada pelo Machado idolatrado salve salve?

Esses e outros mistérios você pode responder nos comentários, ou esperar que um dia eu chegue lá sozinho, neste mesmo batcanal, neste mesmo bathorário (ou não).

batAbraço!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Notícias e Conto

Quinta-feira terminaram as minhas férias, mas só fomos para a escola para não fazer nada e receber o aviso que não pode mais pintar bixos. Agora é sério o aviso. Quero dizer, em todos os anos que houve o aviso o aviso foi sério, mas ano passado, por exemplo, que foi quando eu era bixo, ainda não tinha multa de mil a vinte mil reais para quem submetesse um bixo a qualquer grau de humilhação. Que sem graça. Só por causa dos caras retardados que afogam gente e que sodomizam bixetes eu não posso expressar a minha felicidade em ter novos colegas com um saudável batom na cara!
Mas pelo menos agora não morre mais ninguém.
Há menos que morra de cansaço. Por que bá, estudar cansa mais que trabalho, com certeza. Aqui falo o cansaço aquele de que a qualquer momento do dia que tu deitar, tu dorme. Esforço físico causa cansaço físico, e isso se resolve sentando e relaxando. Já esforço mental dá sono, e esse só se resolve dormindo, e isso descansa também.
No fim da segunda-feira, que foi quando a aula começou a valer, eu parei pra pensar de noite, e notei que eu estava com muita saudade de estar cansado. E na mesma hora matei a saudade, assim, instantaneamente. Mas preciso ser forte, e sangue de Jesus tem poder! Rsrsrs

Nada de legal para passar a vocês hoje, então vou postar junto com esse boletim de notícias um conto de terror que escrevi nas férias, (férias = aquele período de tempo que eu sinto muita saudade, muita muita muita saudade). É totalmente ficcional, e quero saber o que vocês acham dele que é o meu primeiro conto macabro.

Abraço!

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Amigo Virtual

Lícia o conhecia à apenas uma semana, mas já estava íntima de seus segredos, como não é raro neste tipo de relacionamento. Conhecera-o pela internet, e passou conversar virtualmente com ele desde então.
Descobrira que tinham muitas coisas em comum: livros, músicas, filmes, gostos em geral. Ela sabia que ele estava totalmente apaixonado por ela. Otávio deixava isso extremamente claro, mesmo sem dize-lo diretamente. Por isso, passaram a namorar através da internet, tendo as letras e os programas de mensagens instantâneas como mensageiros.
Depois da primeira vez que fizeram sexo virtual, Otávio enviou para ela a mensagem “Lícia, minha flor, acho que estou te amando”. Por um momento Lícia ficou totalmente sem resposta. Aquilo abriu uma profunda ferida no seu peito, uma ferida que ela sabia que nunca cicatrizaria.
E começou a se lembrar dos momentos felizes, do primeiro beijo, a primeira transa, as confidências, as aventuras, de como ele a chamava carinhosamente de “minha flor”, o amor... A cada nova lembrança, a ferida se abria mais, e por ela só não escoavam lágrimas por que essas já haviam terminado. Era uma dor muda, a pior.
Mas pior do que as lembranças boas, foram as que sucederam-se a elas. Uma tentativa de agrada-lo com uma surpresa, chegando em sua casa sem avisar. O susto. A outra correndo para se arrumar e ir embora, enquanto ele em vão tentava explicar-se para uma Lícia desamparada, sem ação. Tristeza. Apatia total no trabalho. Depois soube que ele se mudou, e isso não contribuiu nada para seu humor. “Eu o amava tanto”, pensava. “Desde os nossos quinze anos, descobrimos tudo juntos, como ele pôde fazer isso comigo?”. Mais tristeza.
Depois de dois anos de zumbi, depois que todos os amigos a abandonaram quando perderam as esperanças de resgatar sua felicidade, tomara sua decisão. E agora estava ali, conversando com Otávio, que indagava a alguns minutos por que ela não respondia.
Parou os devaneios e inventou uma desculpa qualquer para justificar a demora, e continuou conversando. Admirou-o pela webcam, e pensou “Ele é perfeito”. Antes de ir embora, ele ainda comentou que teria que deletar o seu histórico de mensagens, para o caso da sua namorada querer olhar as mensagens dele. “Eu te amo”, justificava ele, “mas quero evitar problemas deste tipo com a minha namorada. Quando eu terminar com ela, nada nos impedirá de fazermos o que quisermos”.
O fato de ele ter namorada não a incomodava tanto quanto se poderia esperar. Lícia, na verdade, dissera a ele que também tinha namorado, por isso apagaria o seu próprio histórico. Otávio saberia da verdade na hora certa. Uma coisa pequena como essa não atrapalharia nada.
Mais alguns dias depois, Lícia não suportou mais e marcou um encontro com Otávio, na casa de Otávio. Ele foi pego de surpresa, mas disse que tudo bem, a casa e ele estariam esperando ansiosamente a sua visita. Sugeriu até que fosse no sábado, para que tivessem mais tempo para se conhecer pessoalmente.
No dia marcado, Lícia estava um pouco nervosa, não por medo, como qualquer uma estaria no seu lugar, mas por que não queria que nada saísse errado. Já se desapontara demais para uma pessoa só. Arrumou-se, pegou o que precisava e foi para a casa de Otávio.
Chegando lá, Otávio a recebeu com um lascivo beijo, o qual foi correspondido a altura. Ele era tão irresistivelmente lindo quanto parecia pela webcam. Lícia entrou, e Otávio fechou a porta.
Os vizinhos ouviram gritos, mas quando a polícia chegou só havia um corpo dentro de casa.

***

De manhã cedo, Lícia estava em sua casa, assistindo ao noticiário matinal. O sabor da vingança lhe era estranho, mas estava gostando. Em seu regozijo, lambuzava-se e ainda escorriam gotas de sangue até o chão, quando no noticiário informaram do assassinato brutal de um homem que foi identificado como sendo Otávio Meirelles. Os peritos declararam que o assassino, ainda não identificado, tinha usado um objeto como uma adaga para dilacerar o corpo da vítima.
Lícia não demonstrou reação. Eles não mostrariam, mas o assassino havia retirado o coração da vítima, e ele não se encontrava na cena do crime. Por que estava agora no colo de Lícia, parcialmente consumido, como símbolo do início de uma sangrenta vingança contra todo um gênero.
E com esse pensamento, Lícia finalmente sorriu.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A Minha Alegria de Pobre

E amanhã termina as minhas férias. Logo agora que eu estava tão no ritmo do blog e dessa vida de nadafazência. Nadafazência, a propósito, vem do francês vagaboundàge, a título de curiosidade.
Recomeçam os trabalhos sérios, as preocupações que me estressam, enfim, as coisas ruins. Por outro lado, recomeçam as notas boas (ou não, mas eu tenho uma autoconfiança perigosa e um otimismo pouco espontâneo mas muito eficiente), o aprendizado, por que eu de fato vou a escola para aprender, recomeçam as amizades e tal. No fim, a balança pende para o lado bom e todo mundo fica bem.
E tudo indica que este ano será o melhor, como foi o ano passado. Por que ano retrasado eu achava que ia ser difícil o ano seguinte, e de fato foi, mas por causa disso também foi o melhor. Isso que ano passado eu não estava lá muito próximo de alguns amigos de fora da escola, e como esse ano estou, então será perfeito e ai de quem achar o contrário.

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Um ano perfeito começando pelas férias perfeitas. Li muuuuito¹²³, tanto quanto as outras atividades deixavam, e um pouco além. Escrevi algumas coisas ficcionais, de terror e ficção científica. É ótimo não ter nada de fora para turvar a criatividade ou para postergar uma escrita. Dormi muuuito, tanto quanto li, e realizei uma fantasia quase erótica que eu vinha nutrindo desde o início do ano letivo de 2008: passar o dia todo na cama, se não dormindo, assistindo filmes. E, por falar nisso, também assisti muuuitos filmes, não tanto quanto li ou dormi, mas assisti mais do que costumo.
Fora essas atividades sedentárias e solitárias (que eu amo de paixão), eu fui pra Imbé (praia) e comemorei o aniversário do Jader lá, visitei parentes, saí com amigos, com a minha guria, passeei pelo bairro, enfim, fiz tudo o que podia e não podia.
E, como vocês estão inteirados, eu escrevi algumas coisas legais aqui no blog.

***

Uma coisa que me preocupava era terminar as férias antes de sentir saudades da escola. Por sorte isso não vai acontecer. Ontem, às 23h e 56min, aproximadamente, eu senti saudades das aulas e do resto. Tardiamente, mas ela veio.

***

O tempo está muito louco. Do inferno mormacento que foi alguns dias atrás, passou-se para uma fraca era glacial agora. Estou exagerando, obviamente, por que adoro uma hipérbole exagerada, do mesmo modo que gosto de pleonasmos redundantes. Mas não deixa de ser. Foi dar 25°C que todo mundo desaposentou os casacos e foi à luta. O cheiro de naftalina da rua os denunciava.
Eu, pessoalmente, aproveitei para usar uma calça, sem passar calor. Na verdade, quase passei frio, apesar da camiseta grossa.

***

Ok, acho que era só isso mesmo. Tenho que me controlar e escrever menos hoje, por que tenho que ir pra cama daqui a pouco se eu quiser ter uma duração saudável de sono. Eu só vim escrever hoje por que queria dar um último suspiro antes de mergulhar de novo no submundo do colégio. Duvido que eu vá deixar o blog largado como ano passado, agora que o blog está totalmente agradável para mim, mas tudo é possível.

Tudo.

Abraço!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sobre Capas de Livros

Mesmo com a globalização quase no auge, o que mais existe por aí são tribos. Tipo de gente. Gêneros de música. Tipos de gente + gêneros de música. Tudo.
Emos, punks, pagodeiros, roqueiros, funkeiros, manos do rap, maloqueiros do shopping, patricinhas, mauricinhos, góticos, hippies, indies, otakus, homossexuais, heterossexuais, transexuais, pansexuais, feministas, machistas, ateus, católicos, protestantes, crentes, islâmicos, judeus, budistas, hinduístas, deístas, agnósticos, nerds, geeks, gremistas, colorados, brancos, negros, amarelos, vermelhos, ingleses, europeus, asiáticos, brasileiros, gaúchos, varzeanos, esquerdistas, centristas, direitistas, conservadores, liberais... são tantos rótulos que é só esperar mais um pouco que eu lembro de mais.
Tudo bem agrupar as pessoas nesses diferentes grupos, mas isso já virou um vício que leva ao preconceito. Por que ao agrupar, de certo modo criamos na cabeça uma imagem do grupo, e não de cada um separado. Para quem vê de fora, todos naquele grupo são iguais, e isso é o preconceito em sua mais literal interpretação.
A única coisa que todos temos iguais é que somos diferentes uns dos outros. Não só fisiologicamente, já que gêmeos univitelinos tem o mesmo DNA e cabeças muito diferentes. O que acontece, é que desde que nascemos a mente muda devido a cada experiência que temos, e cada experiência nova nós vemos com a mente que viu a experiência anterior, então para duas pessoas serem iguais, só se elas tiverem todas as experiências iguais. O que, amigo bom de física, é impossível desde o momento que é impossível duas pessoas ocuparem o mesmo lugar.
Estranho isso, mas verdadeiro: duas pessoas não podem ser iguais por que elas não são a mesma pessoa! Se você pensar nisso, a fundo, vai torrar uma meia dúzia de neurônios, mas os sobreviventes ficarão mais fortes do que antes e você vai no fim ser uma pessoa melhor.
Se ninguém é igual a ninguém, não convém determinar de antemão que, por exemplo, dois hippies sejam iguais, ou que todos os comunistas são canibais que comem criancinhas com chimia no café da manhã. Cada pessoa tem tanto a mostrar quanto nós mesmos, e perdemos muito ao ignorar isso.
Claro que uma certa generalização é importante, senão não haveriam culturas diferentes (nem boa parte das guerras), o que eu gostaria que o mundo todo entenda, a começar pelos loucos que me lêem, é que o rótulo que a pessoa leva é só um rótulo, diz respeito a apenas uma parte do que a pessoa é por dentro.
Então não é verdade que todo funkeiro/punk/pagodeiro/outro-grupo use drogas. O que acontece é que uma pessoa que tem na mente um mundo tão pequeno a ponto de só conhecer um tipo de música por que é modinha, é uma pessoa bastante propensa a ser usuária de drogas. Isso pode até ser preconceito meu, mas assumo ele.
Outra coisa tão irritante quanto a generalização dos rótulos pelos costumes, é a generalização dos costumes pelos rótulos. Ouvir Simple Plan não é “coisa de emo”. É uma característica bastante importante nesse grupo, mas daí a achar que qualquer um que escuta essa banda é emo é muito preconceito.
Alguém que, como eu, deseja acabar com o preconceito (todos eles), não deveria se importar de ser chamado de emo. Mas acho que todos que, como eu, são gente fina e que gostam de ter amigos, vão entender que é necessário essa porção de hipocrisia para manter uma rede de amizades respeitável. Muitos dos meus amigos mais próximos são preconceituosos. Mas essa é só uma das características deles. Não dá também para criar mais um grupo e rotulá-lo como “preconceituosos”. Quero ser feliz e o jeito é ser tolerante mesmo com os intolerantes. Ou não, muahahaha. Até porque eu adoro piadas sobre emos, gays, loiras, e piadas preconceituosas em geral. Nada pode limitar o humor, nem nenhuma outra criação da mente. Podem até me punir pelo que eu falo, mas atrás dos meus olhos e entre minhas orelhas quem manda sou eu.
Para citar um exemplo mais grotesco e insólito, eu gostaria de pedir que qualquer um que tenha menos de uma idade em que consiga discernir certo e errado, ou que esteja lendo isso de um país com leis rígidas a respeito do que é respeitável ou não, ou que vai se ofender com isso, parasse de ler agora ou continuasse a ler depois do próximo parágrafo.
Então, uma coisa que sempre é associada ao homossexualismo, em tal grau que nem notamos mais, é o sexo anal. Quem, dos homens que estão lendo isso aqui, nunca passou pela situação de, entre os amigos, falar alguma coisa e eles levarem na malícia, tirando o cara pra gay? “Posso sentar?”, você pergunta inocentemente para o amigo que tem um lugar vago ao lado, e ele responde (isso na melhor das hipóteses) “Ah, sei lá, isso é contigo e com tua orientação sexual”. Falo isso por que sei, e ouvi de gente que sabe, de homens que sentem prazer no brioco, e (quando estão numa relação de intimidade em que o homem pode conversar com a parceira sobre esse tipo de coisa) pedem pra sua mulher para satisfaze-los. Os mesmos homens vomitariam se fosse outro homem a satisfaze-los, ao invés da própria mulher.
Enfim, é desagradável esse assunto, não se pode negar. Existem milhares de tabus que a gente nem sabe que é tabu. Mas deu pra captar a moral.
E também serve pra que vejam que existem coisas piores do que meus eventuais posts científicos, que eu sinto que tanto aborrecem os leitores. Quando eu botei o pretensioso subtítulo de “um blog sobre tudo, e mais”, eu não estava brincando.

E se alguém vier me chamar de qualquer um dos rótulos que listei no início do post, é por que não entendeu NADA do que eu falei hoje. Mas aceito que me chamem de nerd. E só.

Well, povo e pova, é isso. Como diria meu amigo Bob Marley, “Dis is mai méssedj tchu iu-rurru”.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

OMG, a Língua está Mudando

Pois é, dizem as más línguas que quando um povo se isola acabam surgindo diferenças. Quando é por pouco tempo, na linguagem; quando por muito, até na fisiologia. O exemplo da fisiologia foi o que deu origem às diferentes etnias, e o da linguagem deu origem aos diferentes modos de se comunicar verbalmente.
Por exemplo, o sânscrito. Antigo bagarai, deu origem aos idiomas e dialetos da Índia e arredores (na Índia tem línguas e deuses de todos tamanhos, formas e cores, pra todos os gostos). O latim, mais conhecido nosso, em um lapso de sorte, se misturou com o grego e em menor escala com outras línguas e acabou se transformando na Língua Portuguesa, com letra maiúscula e tudo. Teve menos sorte com o espanhol, que eu acho uma língua muito feia, mas teve sorte parecida com o italiano, que é show de bola.
Mas o que acontece quando nenhum povo está isolado, todos interconectados através desta rede amada idolatrada salve salve que é a internet? Poucos tem o direito de arriscar uma resposta.
Por que a internet, assim como foi a televisão em sua própria época, é uma grande mudança. Quem foi criança antes de mim deve saber melhor disso. Milênio passado computador era raro, e hoje em dia abundam lanhouses em qualquer lugar. E por isso não dá pra saber as conseqüências a longo prazo, por que é a primeira vez que as crianças tem quatro “genitores”: o pai, a mãe, a televisão (que foi também pai/mãe/educador da geração passada) e a internet.
Mas uma mudança significativa está em âmbito lingüístico, e isso não é nenhum palpite meu, está acontecendo de fato.
A começar com o internetês. Filho direto do português com o computador/SMS/MSN, essa linguagem é bastante útil por que economiza caracteres e dinamiza as conversas via messenger. Todos o conhecemos, e depois de um mês sendo assíduo freqüentador de orkut e chat qualquer um já é craque para decodificar o que os outros estão dizendo. Algumas palavras do internetês:
q = que
qt/qto = quanto
qd/qdo = quando
td/tdo = tudo
tb/tbm = também
bm = bem
c = se
bj/bjo/bju = beijo
abs = abraço
flw = falou
rs = risos
rsrsrs = muitos risos
E por aí vai. A moral é diminuir o número de letras sem alterar o sentido, trocando sílabas por letras que a representem (cá por k) ou engolindo vogais inúteis (não lembrei de nenhuma, hehehe).
O vc é um caso á parte. Por que essa palavra é alvo de muitas diminuições ao longo do tempo. De vossa mercê, passou para vosmecê, então para você, em alguns lugares é ocê ou cê, e na internet assumiu a forma vc, ou v6 quando no plural. Outro caso criado com o internetês é a carinha feliz :), que também pode ser carinha triste :(, com rabo de cavalo :)~, mandando beijo :* ou mostrando a língua :P.
Outro caso especial são as risadas. Um bom "falante" de internetês não se satisfaz com um simples hehehe, hahaha, hihihi ou similar, ele usa husahusahusahusahusahus para demonstrar que ele está realmente se rindo todo do outro lado da tela. Isso quando o capslock não entra na parada, por que quando entra shUSHAUSHAUshUSHusahuSHUsahusHUShu é por que a pessoa está morrendo de rir, sem conseguir respirar, se debatendo no chão e ainda assim conseguindo teclar contigo.

Indo mais fundo na genealogia do português, percebemos que o internetês ficou careta, qualquer um usa. Então o internetês, através de inseminação artificial, teve um filho com a rebeldia e a carência, ao som de muito Simple Plan, que chamamos carinhosamente de miguxês. O nome é derivado da sua mais conhecida palavra: miguxo. Quando ler um texto em miguxês, você deve estar psicologicamente preparado para imaginar, sempre, que a pessoa que fala está falando meio pra dentro, com as mãos cruzadas na frente do cinto de couro, escondendo o pescoço, beicinho, com a maior cara de pidão do mundo. Qualquer coisa que ressalte a atitude emo que estiver ao alcance do teclado.
Mas em termos práticos, o miguxês é muito complicado. Ele não facilita a vida da pessoa, pelos xxx que entram na conversa. Mas é bem bonitinho, quando não é irritante.
Se você quiser escrever em miguxês, deve botar som de ch (mas escrevendo x) no lugar dos s's. E inventar algumas palavras: miguxu, coleguxu, morixu... E plural é sempre com x também: miguxux, coleguxux, morixux. No resto, eleve as características do internetês à máxima potência.
Nas gargalhadas, faça parecer que você teve um ataque em cima do teclado. Nada de se conter com h, u, a e s. Pode k, l, p, f, g, r, tudo. Desde que inspire vontade no seu coleguxo de MSN de chamar a SAMU, tá valendo. E emoticons, nossa, solte a criatividade. Se quer dar um beijo grande, mande dois pontos seguidos da intensidade do beijo, tipo :*********. Se misturar isso com mudanças de cores e botar em negrito/itálico/sublinhado, a coisa no fim pode parecer obra de arte.

Indo ainda mais fundo na fertilidade da mente virtual, encontramos o tiopês, que tem traços do miguxês, mas tem como idéia central inversão de letras e acréscimo desnecessário de acentos e símbolos gráficos. Gato vira gaot, idiotice vira iidotiec, essas coisas. Não existem letras maiúsculas, por que um verdadeiro tiopense tem total incapacidade de apertar duas teclas ao mesmo tempo.
Há algumas palavras inventadas também. Essas surgiram em círculos de amigos nerds. Você pode reparar quando puder, que onde tem um grupo nerd, existem algumas palavras ou sinais que só eles entendem, para que possam chamar de noobs ou wannabes quem não entender. Segue uma lista de palavras encontradas no tiopês que um amigo meu postou na comunidade da turma:
/euri <-- EU RI
fikdik <--- Fica a dica
gaydacu <--- viado
q <--- ? (sim, literalmente o ponto de interrogação)
-q <--- ? (sim, literalmente o ponto de interrogação)[2]
-qqqqqqqqqqqqqqqqqq <---- WTF
tiopes consiste em escrever tudo junto e ateh msm errado (inverter algumas letras e talz)
substituir o UEI por AY (de gay) tbm eh uma modinha do tiopes....
Nota: WTF vem do internetês inglês, e significa what the fuck.

Mais indecifrável do que o tiopês só a língua do 1337 (leet). Essa surgiu em rodinhas de nerds (mais uma), que tinham uma calculadora científica e tempo livre de sobra. Não que isso seja um crime. Eu e meus colegas conseguimos fazer uma calculadora dizer "belos seios" virando o visor de cabeça pra baixo e apertando algumas teclas, ;). Depois que saiu das calculadoras ociosas e veio pra net, a língua do 1337 incorporou ao seu alfabeto símbolos e tudo o que tiver no teclado (e o que não tiver no teclado também. Alguns mais viciados sabem algumas manhas pra conseguir qualquer símbolo teclando uma sequência numérica enquanto segura alt). Matemática vira M473m471{4, e o resto das palavras é ainda pior.

Enfim, para onde nossa língua está evoluindo? Qualquer coisa é uma evolução, mas bah, as pessoas me olham como se eu fosse um alienígena por escrever certo, hehehe.

Abs p/ tds!

"Depois da reforma ortográfica, nunca mais trema na linguiça".