quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal

Mais um final de ano chega, com todos as suas festas, despedidas, promessas, amigos-secretos, presentes, apelos comerciais e reuniões familiares e de amigos. Muita gente vai brigar por causa do último pedaço do chester, muita gente vai brigar por que não tem pedaço algum de chester pra comer, mas todos são, de alguma forma, atingidos pela magia natalina. Por que isso? O que tem essa data de tão importante e comovente?

Há uns 2500 anos, quando o reino davídico de Judá existiu, os judeus estavam certos de que Deus era o juiz do mundo, e que ele castigava os infratores e beneficiava os bons e justos ainda em vida, na forma de bênçãos ou maldições, dependendo o caso. (seja o que for que eles considerassem bondade ou justiça, na época). O que aconteceu-lhes, em seguida, pôs em cheque algumas de suas crenças sobre justiça: todos eles, judeus bons e judeus maus, sofreram quando o seu reino foi destruído pelos caldeus. O azar da guerra não escolheu quem atingir: atingiu quem estava mais perto e mais indefeso.

Mas eles não largaram suas crenças. De alguma forma, para eles, Deus tinha que restabelecer o equilíbrio e lhes dar de volta o reino que tiveram, lhes dar de volta uma “Era de Ouro”, como era chamada a época antes da destruição do reino. Começou a crescer a crença de que Deus enviaria um rei que seria bom para eles e que faria o reino crescer novamente, e por isso muitos falavam da vinda do Messias (ou seja, “o ungido”, já que o rei era ungido com óleo como parte do ritual de entronização). Divagações sobre como seria a nova Era de Ouro mantinham as pessoas esperançosas a respeito de suas vidas; você também acreditaria no que lhe contassem se essa crença lhe fizesse agüentar a vida desgraçada que você levaria lá.

Por algum motivo irracional (existe algum racional?), os judeus foram perseguidos então, o que só fez aumentar a crença em um futuro dourado. Surgiu também a idéia de que o rei que os salvaria seria o Filho do Homem, como diz-se no Livro de Daniel. Mais tarde, houve um popular pregador da Judéia, João Batista (o próprio), cuja mensagem dizia que estava próximo o dia em que o salvador chegaria.

E dessa forma a expectativa de que alguém chegaria pela porta de emergência com um extintor de incêndio divino era grande e bem difundida, e não tardaram a aparecer os candidatos. Houveram vários, mas um em especial se salientou em relação aos demais, por efetivamente ter juntado seguidores (os outros não levaram a nada). Seu nome era Jesus de Nazaré.

Se ele nasceu de uma virgem, se ele era realmente filho de um ente superior, se ele realizou milagres (puxa, imagina transformar água em vinho!), enfim, se o que falam dele é verdade, isso não me compete concluir. Muitos falam a favor e muitos contra, mas o que ninguém pode negar é a sua mensagem. Apesar de ter sido morto como um perigo para a ordem pública, por que nenhum governante é bobo de deixar vivo alguém que boa parte do povo considera como sendo aquele que vai acabar com o domínio daquele que boa parte do povo considera como sendo um tirano sem escrúpulos, sua mensagem de paz era simples e verdadeira: fazer o bem sem olhar pra quem, como uma parenta minha falava. Suas lições de altruísmo e bondade precederam Gandhi em uns dois mil anos, e de alguma forma ele conseguiu convencer bastante gente disso, apesar do atraso da época.

O Natal é a época em que todos nós devemos parar e pensar no que aquele fulano falou, e no que muitos depois dele falaram também. É uma época para repensarmos nosso conceitos de moral e de ética, e de repensarmos nossa vida como um todo. Se estamos fazendo tudo o que poderíamos fazer, se estamos fazendo algo que seria melhor que não fizéssemos, essas coisas. Pelo certo deveríamos fazer isso todos os dias, a todo momento, mas temos o costume de não apreciar a beleza de um jardim sem especular sobre as fadas que nele se escondem. Acho, pessoalmente, que a religião é um freio, mas acho também que analisando impessoalmente ela traz mais benefícios do que danos. Não fosse ela, ninguém pararia para pensar na mensagem pacifista de um revolucionário milenar, e muito menos fariam as reflexões conseqüentes de pensar sobre isso.

Por essa e por outras, camaradas, façam, neste Natal, aquilo que eu digo para vocês fazerem sempre: pensar, refletir. Mas nessa data pensem especialmente no próximo, e no que vocês podem fazer para aumentar a quantidade de felicidade no mundo.

Se mais pessoas fizessem isso, acredito que a Era de Ouro de fato retornaria...

Boas Festas!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Autor Convidado - Victor Stéfano - Pink Floyd, minimalismo e o problema da comunicação

“For millions of years, mankind lived just like the animals. Then something happened, which unleashed the power of our imagination. We learned to talk”

Aqueles que já leram alguma coisa minha talvez já tenham percebido que eu adoro citar. Especialmente, eu adoro citar o Pink Floyd. Primeiro, porque repetir o que já foi falado, ainda mais o que já foi falado numa música, é um ótimo jeito de se sobressair quando você não tem a menor idéia do que quer ou do que vai acabar dizendo. Por exemplo: seus amigos junkies estão falando de chá de cogumelo e o máximo que você já chegou perto disso foi sopa de champignon. Pra não boiar, você puxa o violão e manda um Ventania ou um Raulzito e tudo resolvido, pode voltar pro seu silêncio drug-free em paz. “All we need to do is make sure we keep talking”.Mas o segundo motivo é talvez o mais importante, que é o modo como eu posso simplesmente escolher qualquer letra do Pulse ou do Atom Heart Mother e sempre tem algo lá pra mim, sempre um ou dois versos rimados que resumem e talvez até algumas vezes resolvam as questões que martelam minha cabeça o dia inteiro e que lá dentro parecem render cadernos e mais cadernos de dissertações. Talvez eu e outros milhões de fãs fanáticos estejamos errados e o Pink Floyd nem seja uma banda fantástica assim, mas uma coisa é inegável: eles se comunicam perfeitamente ou pelo menos chegam muito perto disso. O que pra uns poderia levar um romance inteiro pra expressar, pra eles é uma questão de simplesmente juntar os versos que formam as imagens certas. E isso porque estou falando só da parte “literária”, que é a mais pertinente ao assunto a que eu estou tentando chegar, que é o problema da comunicação, e talvez falar de como a sonoridade influi nisso seja perda de tempo – com certeza não quero discutir gostos aqui.

O que talvez eu esteja sim disposto a perder algum tempo discutindo, é a habilidade de transmitir o que quer que seja que se queira ou que se acabe transmitindo, com as palavras certas. Não estou nem falando de forma. Estou falando de posicionar a antena e achar uma freqüência... muitas vezes você não sabe o que vai captar quando escreve – eu nunca sei - você pode pegar o finalzinho da novela, a TV Senado, a Rede Vida ou passar o resto da noite encarando a tela cheia de moscas piscando e chiando pra você. Nesse aspecto Kurt Cobain foi outro técnico de TV genial, e desconfio que ele também raramente sabia o que ia captar quando apontava as antenas pra si mesmo. Mas a mensagem de Kurt era específica pra nós, geração X, subproduto da era da superinformação, divórcios, e comprimidos que resolvem tudo – nossos pais lutaram contra ditaduras, e nós lutamos contra o quê? Nós mesmos? – e talvez por isso a obra do Nirvana não seja pra todos – mais uma vez, não estou falando de agradar, mas de comunicar. A mensagem está lá. A mensagem sempre está lá quando se fala de arte, mas nem sempre se pode fazer sentido pra todo mundo. Com o Pink Floyd, a mensagem é “uma fumaça de navio distante no horizonte”.

No caso do Nirvana, Kurt Cobain era minimalista, porque sabia que assim quando falasse de si mesmo estaria falando de uma angústia mútua. Até o nexo é um mero detalhe nas letras. O importante é o que se acaba transmitindo, querendo ou não, ligando determinadas palavras de uma determinada maneira. As palavras vinham do que o rodeava, é o máximo que se pode dizer com uma certa segurança, mas na era da convergência isso quer dizer praticamente tudo.

A música que escolhi pra começar esse texto como talvez alguns já saibam, é “Keep Talking”. Pra quem não conhece, essa frase de abertura, que é também a abertura da música, não é cantada, é falada por ninguém menos que o astro pop da física, Stephen Hawking. Quem já viu fotos, sabe que a única forma de expressão que sobrou ao Hawking é justamente a fala. É através apenas dessa fala, que nem sequer é sua voz original, mas de um sintetizador de voz, que Hawking faz física quântica parecer assunto de mesa de bar. Como ele mesmo diz “All we need to do is make sure we keep talking”. Não dá pra dizer que o cara é só um físico. Hawking é um escritor. Quem melhor que um escritor pra dar início a uma música assim?

Estou dizendo isso tudo simplesmente porque muita gente já me disse que gostava do que eu escrevia, apesar de não entender, quando muitas vezes não tem lá grandes coisas pra se entender mesmo nos meus textos... “It doesn’t have to be like this”. Tudo que eu faço é garantir que continue falando e abrir as janelas pra fumaça de neurônios queimando no horizonte. O que eu escrevo não está nem perto de ser uma hemorragia de sentimento ou sinceridade.

Ou talvez eu não tivesse a menor pretensão de dizer qualquer coisa quando transcrevi o começo da Keep Talking ali em cima, e tudo o que eu disse depois foi simplesmente o que acabou sendo dito quando eu liguei certas palavras numa certa ordem.

***

O Victor, além de grande amigo meu e parceiro de longas conversas sobre tudo, é guitarrista, compositor, blogueiro e escritor, tendo já um conto publicado na antologia Solarium (de ficção científica). O endereço do seu blog é http://blogdesetecabecas.blogspot.com/

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Mais um

Pessoal, amigos, parentes, cachorrinhos, vendedores de desodorante, fabricantes de ventilador: que calor que faz nesse fim de ano, e, ainda, que rápido passou esse ano!

Passou outubro, e logo em seguida Novembro não passou, simplesmente voou. Talvez o sentimento de expectativa pelo meu aniversário tenha ajudado, ou uma alteração estrutural da forma como o tempo se comporta em relação à matéria, em âmbito quântico e prático... mas daí seria muita canalhisse de Deus, e ele deixou de ser canalha depois do Novo Testamento. Logo, novembro passou rápido por causa do meu aniversário.

E foi bom. Eu gosto de ser amado, de ter a sensação de que as pessoas gostam de me ter por perto. Já dizia Schopenhauer (citando alguém que eu não lembro agora ao certo quem era, mas era alguém importante, então por favor respeito aí com os dinossauros da Filosofia) que uma vida feliz é aquela que, em análise fria e racional, é absolutamente preferível em relação à inexistência. O que, torcendo um pouco a idéia, dando umas ajustadas e cuspindo pra dar polimento, pode ser usado no sentido de que se alguém prefere sua companhia à sua ausência, é por que ela gosta de você, e isso é precisamente o que eu gosto de sentir. Carência pra caramba, a rodo.

E não sou como algumas pessoas, que fazem de tudo para não serem notadas no dia do seu aniversário. Se eu percebo que alguém não lembra que é meu aniversário, eu dou a idéia sutilmente, pergunto que dia é hoje e tal, mas se ainda assim ela não se liga, eu não desisto e digo na lata “hoje é meu aniversário, não quer me dar parabéns?”. Ninguém resiste a uma cara de pau dessas, e acabam dando parabéns.

Mas então, só postei hoje para informar ao mundo que eu me sinto bem, estou vivo, ainda respirando, lendo bastante, estudando algo bem próximo do que dizem ser o suficiente, e o mais importante: agora eu já entro na maior parte das boates que antes eu não sabia nem a cor de dentro.

Continuo sem saber a cor de dentro desses lugares, mas só o fato de saber que eu tenho a possibilidade legal de conhecê-los, já é o suficiente.

Um abraço!