domingo, 23 de agosto de 2009

Renegando ao Movimento Sedentário

Pois é, caríssimos, a vida está sempre nos provando que idéias que antes tínhamos não são tão boas como achávamos, e que idéias que não tínhamos seriam bem prazerosas de serem tentadas. Novidades são interessantes, e há quem diga que viver é isso mesmo: se tocar de cabeça nas oportunidades, arriscar o que puder, ao mesmo tempo que se mantem a cabeça fixa em cima do pescoço e o pescoço preso ao resto do corpo.

O que quer dizer, em outras palavras, que a vida é um troço mutcho loco.

E é mesmo. Dia desses, minha turma viu uma palestra sobre Kung Fu (a filosofia chinesa) e o Wu Shu (a arte marcial da filosofia chinesa do Kung Fu). Aqui no ocidente ambos conceitos não são lá muito diferenciados, pra nós é tudo um monte de gritos e kame-hame-has.
Posso dizer que adorei a palestra, mesmo. Fiquei todo pilhado para passar a praticar Kung Fu, e até pesquisei alguns preços em algumas academias do centro da cidade. Todos, é claro, estavam fora do orçamento. Por isso tive que mandar pra minha escola um cadastro que, entre outras coisas, os informa de que eu estaria interessado em fazer estágio para ganhar algum dinheiro caso eles estivessem interessados em meus serviços.
Como não me chamaram, fiquei sem ir no Kung Fu.

Paralelo a isso, eu estava ficando cada vez mais consciente da saúde e coisa e tal, a baboseira toda que vocês estão sonolentos de saber. E então, só para ajudar, uma amiga, durante uma conversa em que falávamos sobre artes marciais, comentou sobre as pernas de quem faz Muay Thai, que são, nas palavras dela, “nossa...!”.
Me choquei com aquilo. Guardei para mim, mas aquilo foi uma dessas informações que não se contentam em entrar na cabeça, elas entram, quicam lá dentro, e ficam fazendo acrobacias o tempo todo para serem relembradas.
E é por isso que, na última quarta-feira, entrei para uma academia daqui de perto de casa. Não é Muay Thai, mas é o mais próximo que eu consigo chegar disso. Também não está bem dentro do orçamento, mas é bem mais barato e consegui uma amiga da minha mãe que precisa de aulas particulares de matemática e, oh!, descobri que dando aula pra ela eu posso pagar a academia e minha mãe não precisa nem se coçar.

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Lá conheci bastante gente. A secretária é super gente fina, lê alguns livros que eu já li, e sempre sorrindo de bem com a vida.
Um outro cara que faz nos mesmos horários que eu é, também, muito legal, conta histórias legais e está sempre me ajudando a decifrar as instruções dos treinos.
Tem também, claro, um Negrão, com N maiúsculo, de “Nossa senhora que cara grande”, cujos bíceps tem bíceps que tem bíceps, e que tem, entre seus antepassados, um armário e uma parede. Mas, apesar do tamanho e de falar três tons acima do limite inferior da audição humana, ele é super legal e prestativo.
Em alguns momentos também tem os maloqueiros do morro, levantando pesos consideráveis e ostentando músculos anabolizados, mas com esses eu não conversei muito.
Todo mundo de lá parece ser legal (exceto os maloqueiros) e realmente estou me sentindo muito bem de ir lá. Talvez seja psicológico, mas estou feliz que meu cérebro consiga me enganar tão bem.

E não se preocupem, eu pesquisei na internet e, desde que eu não pegue pesado, o meu crescimento longitudinal não será afetado. Pelo menos até os 21 anos, eu ainda quero crescer um pouco.

Recomendo o hábito de ir na academia para quem puder, porque apesar das dores, compensa bastante!

Abraço!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pé de Valsa

Este final de semana foi emblemático, e entrou para a minha lista pessoal de melhores finais de semana do mundo.
Primeiro, durante a semana, recebi o convite, bastante improvável aliás, de ir no Baile da Linguiça. Como todos vocês sabem, sábado foi o dia da linguiça, ou se não sabiam, agora sabem. Em todos os lugares de cultura majoritariamente germânica, como é o caso da minha adorada Capital Nacional do Calçado, o cardápio de sábado foi um só: linguiça. Assada, frita ou crua, o que importava era que fosse linguiça.
E, como é de tradição aqui no bairro, a igreja católica promoveu um baile em comemoração ao dia da dita cuja, que eu só não repito o nome pra não gastar a palavra. A entrada foi cara, como também é de tradição, mas valeu cada centavo. E olha que eu sou migalheiro em relação a dinheiro, mais ainda em tempos de crise do dólar, essas coisas.
Já lá dentro, conversei com algumas pessoas, evitei de conversar com outras, sabem como é. Como era de se esperar de um baile organizado pela igreja, com o agravante de ser da cultura alemã, o grosso do pessoal que estava lá era de jovens sexagenários, septuagenários e octogenários. As pessoas mais novas eram filhas ou netas das papa hóstias e do puxa-sacos do padre. Mas isso não chegou a me abaixar o entusiasmo pelo baile, estava louco para fazer alguma coisa no que eu achava que seria a última semana de férias (ouvi boatos de que existem boatos sobre aumentar ainda mais o recesso escolar de inverno por causa da gripe A) e não seria um ou outro tendo um ataque cardíaco que ia abalar isso.
Na hora da janta, eu estava azul de fome. Tivemos que esperar um monte de gente ir se servir antes de nós, por que ainda estávamos esperando os parentes da minha prima e, principalmente, por que não queríamos ser soterrados pela avalanche de pessoas famintas que se tocaram no Buffet. Na devida hora, nos servimos e, meu chapéu, como a comida estava boa. Eu sou bem chato pra comer, mas aquela comida, apesar de ser linguiça, estava boa, com ou sem trema.
Tempo suficiente depois, um cara foi no palco improvisado e sorteou uma (adivinhem?) linguiça de meio metro, e em seguida uma de um metro e meio. É linguiça pra caramba, passarão semanas antes que os sorteados estejam novamente com o hálito em dia.
Então começou o baile. A banda estava boa, e acabou de vez com o preconceito que eu tinha com bandinhas alemãs, por que tocavam bem mesmo.
E é aí que começa a parte boa mesmo do fim de semana. Fui dançar com a minha prima, dancei umas duas músicas com ela, sentei. Cinco segundos depois a mãe da minha prima me tira pra dançar. Dancei duas ou três músicas com ela, e sentei. Cinco segundos depois, a irmã da mãe da minha prima me tira pra dançar e eu danço umas duas músicas com ela, e sento. Nisso, minha prima me tira pra dançar uma valsa, por que ela queria mostrar para o namorado dela como era. Dancei, e então sentei. A sobrinha da mãe da minha prima veio e me tirou para dançar, por que o marido dela não sabia e não estava no humor para aprender. Pois bem, eu fui, dancei umas duas músicas e sentei de novo. E depois fui dançar, e fui nesse ritmo até o intervalo do baile, quando o pessoal começou a cansar.
Eu, é claro, estava um pouco cansado também, mas estava feliz demais para notar na ocasião. A dança é a linguagem da alma, e a minha alma tinha bastante coisas para falar.
Depois do intervalo e da parte retrô do baile, quando a banda tocou sucessos de antigamente, aconteceu algo que deixaria qualquer um puto, menos a mim, que achei normal. Eu estava lá dançando animado, em um ritmo acelerado, quando a perna da minha parceira de dança, não sei como, nem de que jeito, parou em uma posição tal que impediu a minha própria perna de fazer o movimento de retorno, o que resultou que eu, 15 anos, 1,70m de altura, pesando 65kg, olhos azul-esverdeados, corpo atlético e pinta de galã caí com tudo na tal perna da parceira. Eu não achei ruim, nem ela, creio, mas certamente os espectadores acharam divertidíssimo. Foi a última música que ela dançou comigo, não sei por que.

Quando acabou o baile, escutei uma coisa que elevou minha auto-estima a níveis alarmantes e fez o meu ego dar um salto à lua e permanecer lá até agora: “Quem salvou a noite foi o Vini!”. Vini, no caso, sou eu. E é importante ressaltar que isso tem um valor do caramba para mim que, no fundo, tenho complexo de inferioridade. Não me senti o macho alfa do grupo (risos), mas senti como se eu fosse importante, e eu nem lembrava como era isso. Passei por vários momentos, nos últimos tempos, em que eu me considerei um lixo, e relembrar que na verdade eu não valho tão pouco foi bom. Pra dizer o mínimo.
Voltei para casa, ainda levitando, e tomei um banho. Quando o corpo começou a esfriar que eu notei as dores da guerra: minhas pernas e pés estavam em frangalhos, minha bunda (que, por algum motivo inextricável, é a parte do corpo que fica mais tensa quando eu danço) ainda estava dura, etc. Mas quanto a essas eu estava vingado antecipadamente: sei de cinco ou seis calcanhares que eu pisei que nunca mais serão os mesmos.

Por isso, pessoal, respeitem a linguiça(?)!

Abraço!