terça-feira, 25 de maio de 2010

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2560, AD.

Depois da roda, da lâmpada, do laser e do desodorante roll-on, a invenção mais útil da humanidade foi a viagem no tempo. Os seus criadores jamais poderiam ter imaginado que um dia seria usada tão largamente como hoje, para os mais variados fins. Claro que, por necessitar-se de uma grande quantidade de matéria exótica para manter o buraco de minhoca aberto tempo suficiente para viajar no tempo e por ser a matéria exótica tão difícil de ser obtida em um universo chato como o nosso sem altíssimas quantidades de energia, os únicos que conseguem pagar por uma viagem são aqueles que têm dinheiro suficiente para alugar uma estrela e extrair, a partir dela, toda a energia necessária. Uma vez podendo-se viajar no tempo, basta voltar consideravelmente e abrir uma conta-poupança no seu próprio nome para que no futuro (o seu presente) você tenha (com os juros sobre juros sobre juros) todo o dinheiro que um dia você sonhou em ter para manter ativa a sua máquina do tempo.

Resolvido o problema do “como fazer”, as pessoas se voltaram para o problema mais interessante de “o que” fazer. Então as possibilidades encheram os olhos de todos.

Dentre elas uma bastante interessante foi também o fim das reuniões de terapia em grupo como as conhecemos. As terapias de grupo consistem em uma pessoa ouvir o problema da outra e consolá-la, talvez até ajudá-la a resolver seu problema; quanto melhor uma entender a outra, mais fácil de resolver o problema. Ora, quem é que conhece você melhor do que ninguém? Você mesmo! Ou seja, conversando consigo mesmo você tem muito mais chances de resolver o seu próprio problema.

Para isso os viajantes do tempo faziam o seguinte: alugavam uma sala e ficavam sozinhos nessa sala o tempo que achassem suficiente para uma reunião ser bem-sucedida; ao fim desse tempo, voltavam no tempo até o início da reunião, onde se encontravam consigo mesmos; então, ao fim dessa reunião, voltavam ao início novamente, onde se encontravam com outras duas versões de si; e assim sucessivamente, quantas vezes se quisesse.

Esse macete nem sempre era usado com o objetivo de uma melhor terapia. Vladmir Tempobobalhov, o Muito Multiplexado (como é mais conhecido), que o diga. Em 2483 ele promoveu um jogo de futebol em que era, simultaneamente: o árbitro, os 11 jogadores de cada time, os bandeirinhas, os vendedores de cachorro-quente, os câmeras, os técnicos, o locutor, os gandulas, os animadores de torcida, os guardas e todos os 200 mil torcedores. O jogo terminou em 4 x 2 para o time dele. Ele é até hoje reconhecido mundialmente como o exemplo final de organização, autodisciplina e, por ter vivido o jogo uma vez em cada lugar possível, envelhecendo 40 anos no processo, burrice.

Outro uso que não poderia ter passado em branco, a humanidade sendo assim tão libidinosa, foi a auto-orgia. Esse fetiche é também chamado de eufilia, ou mais musicalmente de euísmo. Consiste, como deve ter ficado claro, em voltar no tempo para manter relações sexuais consigo mesmo, ou com vários “consigos mesmos”. Isso levantou questões polêmicas entre os mais radicais. Por exemplo: “Quem volta no tempo para fazer sexo consigo mesmo é homossexual? Está se masturbando?”. Depois de dias quebrando a cabeça com isso, os radicais decidiram finalmente deixar essa dúvida de lado, voltar no tempo e se foder.

Algo comum foi as pessoas tentarem voltar no tempo para mudar algo que tivessem feito de errado. Não deu certo. Não deu certo porque a) geralmente só pioravam a situação e b) a Matemática envolvida em alterar o rumo da História é tão complexa que o Universo, quando se depara com esse tipo de problema, simplesmente dá as costas e continua se esforçando em Não Fazer Nenhum Sentido.

Isso tudo se refletiu, também, na criação de provérbios novos, como, por exemplo “deu uma de Tempobobalhov”, quando alguém faz uma idiotice, ou o muitíssimo moralizador “não faça a si mesmo aquilo que você não quer que mais tarde você acabe fazendo consigo mesmo”, de certo modo alertando para os perigos do euísmo.

***

A idéia aqui não é fazer sentido, e se você achou alguma inconsistência na lógica toda, parabéns, você tem cérebro. Se não se importou, parabéns, tem senso de humor.

A idéia, na verdade, é fazer com que ninguém esqueça a sua toalha hoje, 25/05, dia Internacional da Toalha, em homenagem a um dos seis caras mais fodas da história: Douglas Noel Adams, o verdadeiro DNA.

Porque tudo depende da flexibilidade do rabo do jacaré.

Adendo: não sei como, mas eu (sim, eu) acabei esquecendo que dia 25/05 também é o Dia Internacional do Orgulho Nerd. Nerds do mundo, parabéns! (entretanto o post continua adequado, hehehe)

domingo, 16 de maio de 2010

No Geral, Nada Útil

Identificar padrões é uma habilidade bastante admirada quando se trata de competição entre espécies: o grupo que souber melhor quando vai chover, abrir sol, ou quando a manada de mamutes de carne suculenta vai estar mais desprevenida e portanto souber o momento crucial para atacar e encher a barriga das famílias do clã por alguns dias, é o grupo que terá mais chance de prosperar e ser feliz nesse mundo indiferente e insensível. Rotular situações e coisas foi, pois, muito importante para nós até aqui, e continua sendo, mas alguns exemplares de homo sapiens levam as coisas meio além do satisfatório, e isso não é satisfatório.

Esse costume se traduziu, em uma versão moderna, na padronização maluca da revolução industrial. Se “tal jeito” funciona, que todos façam desse “tal jeito”. Criou-se a ilusão de que existia um jeito único de fazer determinada tarefa; esse jeito é o mais lucrativo, menos trabalhoso e que traz todo o benefício que todo dono de fábrica quer: dinheiro.

Ou seja: o belo é magro. O descolado é irresponsável. O homem é ignorante, bruto, forte. A mulher é submissa, delicada, tem peito, bunda e gosta de sexo. Etc (parênteses: acho lindíssima a expressão latina et caetera. Deve ser porque é proparoxítona. Adoro proparoxítonas. Fecha parênteses).

Um viva para quem bitola a mente desse modo. “Bem aventurados sejam os inocentes, pois deles é o reino do céu”, ou algo assim, estou citando de cabeça. A ignorância é uma bênção, mas nesse caso (e em muitos outros), prefiro pensar.

Por que se pensa que um ateu não pode freqüentar um grupo de jovens cristãos? É preciso acreditar em tudo que “é preciso” acreditar para ser bom? Afinal, fé é ou não é pré-requisito para se ter ética e senso moral?

O mesmo se aplica a uma hipotética situação inversa. Por que uma pessoa religiosa, que baseia suas crenças religiosas na fé, não poderia acreditar nas questões baseadas na razão? Não são só pontos de vista diferentes, são campos de pensamento diferentes, são formas de pensar diferentes. Qualquer intromissão de uma nos assuntos da outra é criminosa ou contraproducente, e todos deveriam saber separar as duas coisas. Quando um crente tenta provar a criação do mundo em 7 dias, é porque ainda não entendeu o que é fé; quando um intelectual acha que agradecer a Deus pelo dia ou pela refeição é perda de tempo, é por que ainda não entendeu os poderes do sentimento de gratidão, e porque esquece-se das limitações psicológicas de ser um humano. Mesmo que não faça sentido, se isso fizer a pessoa se sentir bem e “funcionando” melhor, já está aí um sentido pronto; não é irracional, só que é racional em um ponto mais fundo da coisa.

Um outro caso de padronização que me ocorreu agora, por nenhum motivo, foi o dos menores. Poxa, o que custa me deixar, digo, deixar entrarem menores em festas noturnas? Sabe, 16 anos é quase 18 (16 foi um número qualquer, nada a ver com o fato de ser a minha idade). E (agora sim, é sério), quem disse que um ser humano de 18 anos é mais responsável que um de 16? Eu sei que se fosse permitida a entrada de menores de 18 em todas as festas, seria um caos, por que no geral os menores de 18 são sujeitos escrotos com pouco ou nada de cérebro, que vão estragar a diversão (às vezes não muito sadia) dos mais velhos.

Sim, mimimi adolescente. Mas hão de concordar comigo que é foda ser considerado um delinqüente em potencial só porque todos os outros adolescentes o são. Excluído de dois modos: de um pelos adolescentes que são de fato delinquentes em potencial e de outro pelo resto do mundo, que pensa que eu sou um delinqüente em potencial.

Mas não há o que fazer. Quando eu ultrapassar a barreira etária mágica que separa os que podem e os que não podem beber bebidas alcoólicas (bebidas essas que em excesso continuam matando os neurônios, mesmo que quem as beba tenha mais de 18), eu também não deixarei a ralé menor de 16 entrar nas minhas festas, por mais altos que sejam seus QI’s.

Ah, estou com sono. Me desculpem se eu ofendi alguém, as vezes não é a intenção. Mas no geral, se ser considerado um idiota “que não entende Deus” ou um inconformado que reclama da vida for o preço por eu estar sendo eu mesmo, está valendo.

E tá barato.

sábado, 8 de maio de 2010

Deficiência

Deficiência, segundo o dicionário, é uma “imperfeição, falta, lacuna”. Deficiente, então, é alguém que tem alguma característica ruim que foge ao normal, comum, da maioria. Um cego, por exemplo, é alguém em que falta a visão, no surdo a lacuna é a audição, no deficiente mental a agilidade nas ideias, o discernimento etc.
Mas aqui eu quero falar de uma deficiência mais sutil, que me atormenta desde antes que eu a percebesse. Não consigo gostar de outra pessoa.
O que, é claro, tem suas exceções. Minha mãe, por exemplo, é uma pessoa que eu amo, que é essencial para mim, e portanto está fora disso. Meus amigos, a quem dispenso um amor diferenciado e lindo também podem se considerar fora de perigo, por que eles também estão no meu coração. Quando digo que não consigo gostar de alguém me refiro àquele amor de que os poetas falam, àquele amor de suspirar por alguém que está longe (ou perto; não sei se o suspiro deixaria de vir com a pessoa ao lado).
Eu olho os outros, amigos e conhecidos, todos com suas namoradas. Tão bonito, as relações simbióticas que se formam, um fazendo parte do outro, ambos se amparando e sendo uma referência firme num mundo de conceitos moles. Um é “essencial” para o outro, como eu falei da minha mãe e dos meus amigos. Só que com a mãe é diferente: ela está lá desde sempre, e há algo no amor de mãe que sempre foi e sempre será, por mais que se brigue e se discuta ela nunca deixa de ser mãe. Com os amigos também é diferente: embora sejam próximos, eles apenas fazem parte da nossa vida, não compartilham da “mesma” vida, como nas simbioses que eu falei ter visto entre os meus amigos e suas respectivas namoradas.
É aí que eu chego na parte da choradeira, que você leitor estava torcendo para que não chegasse, que fosse apenas uma brincadeira. Até suponho que estranhem eu estar falando de um assunto assim tão próximo da Terra, esquecendo por um momento as questões transcendentais da religião (fiz um retiro por esses tempos, onde pude constatar que o meu ateísmo é firme, forte e está aí para ficar; mas que, porém, não me impede de ser não só tolerante em relação à religião de modo geral, como também tratá-la de forma utilitária para fins de bem-estar psicológico [ponto pacífico: felicidade, bem-estar e prazer é diferente de realidade e verdade; pode-se ter as primeiras mesmo aceitando as segundas]) e da ciência. Mas é que esse (a deficiência) é um assunto em que tenho pensado muito ultimamente.
Eu quero ter alguém próximo de mim, com amor verdadeiro. Coisa de filme. Coisa de menininha, podem dizer, só que para mim é um avanço e tanto assumir essas coisas.
O ruim, o porquê de eu achar que tenho essa deficiência, é que eu não acho a pessoa que pode preencher essa lacuna. Existem muitas meninas bonitas, muitas simpáticas, a maioria já tem namorado, nenhuma que me inspire a “simbiose”. Pode ser porque eu penso no significado de “para sempre” e “eterno”. Pode ser porque eu sou individualista demais e não admito que alguém entre na minha vida. Pode ser porque nenhuma parece ser boa o suficiente. Pode ser porque eu sou imaturo e não consigo lidar com a responsabilidade de ter o sentimento de alguém nas mãos.
Pode ser por uma miríade de coisas. E não sei por qual delas é realmente. Só sei que esse sentimento me falta e que na busca por ele muitas pessoas (que não têm a mesma deficiência que eu, que tem facilidade de se entregar) saem machucadas. Eu quero um pouco de constância nesse mar de hormônio e um pouco de chamego nesse mundo de espinho. (poético, né? Deve ser o fundo do poço.)

Tem seis bilhões de pessoas no mundo. Três bilhões são do sexo feminino. Matematicamente é impossível que entre elas não exista uma que dê certo comigo. Mas e se eu já a conheci e deixei passar? Certas coisas são únicas na vida.

...

Paro por aqui, antes que eu deprima algum leitor, que tem os próprios problemas com os quais se entristecer. Se quiserem deixar algum conselho, ou mesmo um oi, deixem nos comentários ou me mandem um e-mail, ;’)

Abraço!