2560, AD.
Depois da roda, da lâmpada, do laser e do desodorante roll-on, a invenção mais útil da humanidade foi a viagem no tempo. Os seus criadores jamais poderiam ter imaginado que um dia seria usada tão largamente como hoje, para os mais variados fins. Claro que, por necessitar-se de uma grande quantidade de matéria exótica para manter o buraco de minhoca aberto tempo suficiente para viajar no tempo e por ser a matéria exótica tão difícil de ser obtida em um universo chato como o nosso sem altíssimas quantidades de energia, os únicos que conseguem pagar por uma viagem são aqueles que têm dinheiro suficiente para alugar uma estrela e extrair, a partir dela, toda a energia necessária. Uma vez podendo-se viajar no tempo, basta voltar consideravelmente e abrir uma conta-poupança no seu próprio nome para que no futuro (o seu presente) você tenha (com os juros sobre juros sobre juros) todo o dinheiro que um dia você sonhou em ter para manter ativa a sua máquina do tempo.
Resolvido o problema do “como fazer”, as pessoas se voltaram para o problema mais interessante de “o que” fazer. Então as possibilidades encheram os olhos de todos.
Dentre elas uma bastante interessante foi também o fim das reuniões de terapia em grupo como as conhecemos. As terapias de grupo consistem em uma pessoa ouvir o problema da outra e consolá-la, talvez até ajudá-la a resolver seu problema; quanto melhor uma entender a outra, mais fácil de resolver o problema. Ora, quem é que conhece você melhor do que ninguém? Você mesmo! Ou seja, conversando consigo mesmo você tem muito mais chances de resolver o seu próprio problema.
Para isso os viajantes do tempo faziam o seguinte: alugavam uma sala e ficavam sozinhos nessa sala o tempo que achassem suficiente para uma reunião ser bem-sucedida; ao fim desse tempo, voltavam no tempo até o início da reunião, onde se encontravam consigo mesmos; então, ao fim dessa reunião, voltavam ao início novamente, onde se encontravam com outras duas versões de si; e assim sucessivamente, quantas vezes se quisesse.
Esse macete nem sempre era usado com o objetivo de uma melhor terapia. Vladmir Tempobobalhov, o Muito Multiplexado (como é mais conhecido), que o diga. Em 2483 ele promoveu um jogo de futebol em que era, simultaneamente: o árbitro, os 11 jogadores de cada time, os bandeirinhas, os vendedores de cachorro-quente, os câmeras, os técnicos, o locutor, os gandulas, os animadores de torcida, os guardas e todos os 200 mil torcedores. O jogo terminou em 4 x 2 para o time dele. Ele é até hoje reconhecido mundialmente como o exemplo final de organização, autodisciplina e, por ter vivido o jogo uma vez em cada lugar possível, envelhecendo 40 anos no processo, burrice.
Outro uso que não poderia ter passado em branco, a humanidade sendo assim tão libidinosa, foi a auto-orgia. Esse fetiche é também chamado de eufilia, ou mais musicalmente de euísmo. Consiste, como deve ter ficado claro, em voltar no tempo para manter relações sexuais consigo mesmo, ou com vários “consigos mesmos”. Isso levantou questões polêmicas entre os mais radicais. Por exemplo: “Quem volta no tempo para fazer sexo consigo mesmo é homossexual? Está se masturbando?”. Depois de dias quebrando a cabeça com isso, os radicais decidiram finalmente deixar essa dúvida de lado, voltar no tempo e se foder.
Algo comum foi as pessoas tentarem voltar no tempo para mudar algo que tivessem feito de errado. Não deu certo. Não deu certo porque a) geralmente só pioravam a situação e b) a Matemática envolvida em alterar o rumo da História é tão complexa que o Universo, quando se depara com esse tipo de problema, simplesmente dá as costas e continua se esforçando em Não Fazer Nenhum Sentido.
Isso tudo se refletiu, também, na criação de provérbios novos, como, por exemplo “deu uma de Tempobobalhov”, quando alguém faz uma idiotice, ou o muitíssimo moralizador “não faça a si mesmo aquilo que você não quer que mais tarde você acabe fazendo consigo mesmo”, de certo modo alertando para os perigos do euísmo.
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A idéia aqui não é fazer sentido, e se você achou alguma inconsistência na lógica toda, parabéns, você tem cérebro. Se não se importou, parabéns, tem senso de humor.
A idéia, na verdade, é fazer com que ninguém esqueça a sua toalha hoje, 25/05, dia Internacional da Toalha, em homenagem a um dos seis caras mais fodas da história: Douglas Noel Adams, o verdadeiro DNA.
Porque tudo depende da flexibilidade do rabo do jacaré.
Adendo: não sei como, mas eu (sim, eu) acabei esquecendo que dia 25/05 também é o Dia Internacional do Orgulho Nerd. Nerds do mundo, parabéns! (entretanto o post continua adequado, hehehe)