quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A Minha Alegria de Pobre

E amanhã termina as minhas férias. Logo agora que eu estava tão no ritmo do blog e dessa vida de nadafazência. Nadafazência, a propósito, vem do francês vagaboundàge, a título de curiosidade.
Recomeçam os trabalhos sérios, as preocupações que me estressam, enfim, as coisas ruins. Por outro lado, recomeçam as notas boas (ou não, mas eu tenho uma autoconfiança perigosa e um otimismo pouco espontâneo mas muito eficiente), o aprendizado, por que eu de fato vou a escola para aprender, recomeçam as amizades e tal. No fim, a balança pende para o lado bom e todo mundo fica bem.
E tudo indica que este ano será o melhor, como foi o ano passado. Por que ano retrasado eu achava que ia ser difícil o ano seguinte, e de fato foi, mas por causa disso também foi o melhor. Isso que ano passado eu não estava lá muito próximo de alguns amigos de fora da escola, e como esse ano estou, então será perfeito e ai de quem achar o contrário.

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Um ano perfeito começando pelas férias perfeitas. Li muuuuito¹²³, tanto quanto as outras atividades deixavam, e um pouco além. Escrevi algumas coisas ficcionais, de terror e ficção científica. É ótimo não ter nada de fora para turvar a criatividade ou para postergar uma escrita. Dormi muuuito, tanto quanto li, e realizei uma fantasia quase erótica que eu vinha nutrindo desde o início do ano letivo de 2008: passar o dia todo na cama, se não dormindo, assistindo filmes. E, por falar nisso, também assisti muuuitos filmes, não tanto quanto li ou dormi, mas assisti mais do que costumo.
Fora essas atividades sedentárias e solitárias (que eu amo de paixão), eu fui pra Imbé (praia) e comemorei o aniversário do Jader lá, visitei parentes, saí com amigos, com a minha guria, passeei pelo bairro, enfim, fiz tudo o que podia e não podia.
E, como vocês estão inteirados, eu escrevi algumas coisas legais aqui no blog.

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Uma coisa que me preocupava era terminar as férias antes de sentir saudades da escola. Por sorte isso não vai acontecer. Ontem, às 23h e 56min, aproximadamente, eu senti saudades das aulas e do resto. Tardiamente, mas ela veio.

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O tempo está muito louco. Do inferno mormacento que foi alguns dias atrás, passou-se para uma fraca era glacial agora. Estou exagerando, obviamente, por que adoro uma hipérbole exagerada, do mesmo modo que gosto de pleonasmos redundantes. Mas não deixa de ser. Foi dar 25°C que todo mundo desaposentou os casacos e foi à luta. O cheiro de naftalina da rua os denunciava.
Eu, pessoalmente, aproveitei para usar uma calça, sem passar calor. Na verdade, quase passei frio, apesar da camiseta grossa.

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Ok, acho que era só isso mesmo. Tenho que me controlar e escrever menos hoje, por que tenho que ir pra cama daqui a pouco se eu quiser ter uma duração saudável de sono. Eu só vim escrever hoje por que queria dar um último suspiro antes de mergulhar de novo no submundo do colégio. Duvido que eu vá deixar o blog largado como ano passado, agora que o blog está totalmente agradável para mim, mas tudo é possível.

Tudo.

Abraço!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sobre Capas de Livros

Mesmo com a globalização quase no auge, o que mais existe por aí são tribos. Tipo de gente. Gêneros de música. Tipos de gente + gêneros de música. Tudo.
Emos, punks, pagodeiros, roqueiros, funkeiros, manos do rap, maloqueiros do shopping, patricinhas, mauricinhos, góticos, hippies, indies, otakus, homossexuais, heterossexuais, transexuais, pansexuais, feministas, machistas, ateus, católicos, protestantes, crentes, islâmicos, judeus, budistas, hinduístas, deístas, agnósticos, nerds, geeks, gremistas, colorados, brancos, negros, amarelos, vermelhos, ingleses, europeus, asiáticos, brasileiros, gaúchos, varzeanos, esquerdistas, centristas, direitistas, conservadores, liberais... são tantos rótulos que é só esperar mais um pouco que eu lembro de mais.
Tudo bem agrupar as pessoas nesses diferentes grupos, mas isso já virou um vício que leva ao preconceito. Por que ao agrupar, de certo modo criamos na cabeça uma imagem do grupo, e não de cada um separado. Para quem vê de fora, todos naquele grupo são iguais, e isso é o preconceito em sua mais literal interpretação.
A única coisa que todos temos iguais é que somos diferentes uns dos outros. Não só fisiologicamente, já que gêmeos univitelinos tem o mesmo DNA e cabeças muito diferentes. O que acontece, é que desde que nascemos a mente muda devido a cada experiência que temos, e cada experiência nova nós vemos com a mente que viu a experiência anterior, então para duas pessoas serem iguais, só se elas tiverem todas as experiências iguais. O que, amigo bom de física, é impossível desde o momento que é impossível duas pessoas ocuparem o mesmo lugar.
Estranho isso, mas verdadeiro: duas pessoas não podem ser iguais por que elas não são a mesma pessoa! Se você pensar nisso, a fundo, vai torrar uma meia dúzia de neurônios, mas os sobreviventes ficarão mais fortes do que antes e você vai no fim ser uma pessoa melhor.
Se ninguém é igual a ninguém, não convém determinar de antemão que, por exemplo, dois hippies sejam iguais, ou que todos os comunistas são canibais que comem criancinhas com chimia no café da manhã. Cada pessoa tem tanto a mostrar quanto nós mesmos, e perdemos muito ao ignorar isso.
Claro que uma certa generalização é importante, senão não haveriam culturas diferentes (nem boa parte das guerras), o que eu gostaria que o mundo todo entenda, a começar pelos loucos que me lêem, é que o rótulo que a pessoa leva é só um rótulo, diz respeito a apenas uma parte do que a pessoa é por dentro.
Então não é verdade que todo funkeiro/punk/pagodeiro/outro-grupo use drogas. O que acontece é que uma pessoa que tem na mente um mundo tão pequeno a ponto de só conhecer um tipo de música por que é modinha, é uma pessoa bastante propensa a ser usuária de drogas. Isso pode até ser preconceito meu, mas assumo ele.
Outra coisa tão irritante quanto a generalização dos rótulos pelos costumes, é a generalização dos costumes pelos rótulos. Ouvir Simple Plan não é “coisa de emo”. É uma característica bastante importante nesse grupo, mas daí a achar que qualquer um que escuta essa banda é emo é muito preconceito.
Alguém que, como eu, deseja acabar com o preconceito (todos eles), não deveria se importar de ser chamado de emo. Mas acho que todos que, como eu, são gente fina e que gostam de ter amigos, vão entender que é necessário essa porção de hipocrisia para manter uma rede de amizades respeitável. Muitos dos meus amigos mais próximos são preconceituosos. Mas essa é só uma das características deles. Não dá também para criar mais um grupo e rotulá-lo como “preconceituosos”. Quero ser feliz e o jeito é ser tolerante mesmo com os intolerantes. Ou não, muahahaha. Até porque eu adoro piadas sobre emos, gays, loiras, e piadas preconceituosas em geral. Nada pode limitar o humor, nem nenhuma outra criação da mente. Podem até me punir pelo que eu falo, mas atrás dos meus olhos e entre minhas orelhas quem manda sou eu.
Para citar um exemplo mais grotesco e insólito, eu gostaria de pedir que qualquer um que tenha menos de uma idade em que consiga discernir certo e errado, ou que esteja lendo isso de um país com leis rígidas a respeito do que é respeitável ou não, ou que vai se ofender com isso, parasse de ler agora ou continuasse a ler depois do próximo parágrafo.
Então, uma coisa que sempre é associada ao homossexualismo, em tal grau que nem notamos mais, é o sexo anal. Quem, dos homens que estão lendo isso aqui, nunca passou pela situação de, entre os amigos, falar alguma coisa e eles levarem na malícia, tirando o cara pra gay? “Posso sentar?”, você pergunta inocentemente para o amigo que tem um lugar vago ao lado, e ele responde (isso na melhor das hipóteses) “Ah, sei lá, isso é contigo e com tua orientação sexual”. Falo isso por que sei, e ouvi de gente que sabe, de homens que sentem prazer no brioco, e (quando estão numa relação de intimidade em que o homem pode conversar com a parceira sobre esse tipo de coisa) pedem pra sua mulher para satisfaze-los. Os mesmos homens vomitariam se fosse outro homem a satisfaze-los, ao invés da própria mulher.
Enfim, é desagradável esse assunto, não se pode negar. Existem milhares de tabus que a gente nem sabe que é tabu. Mas deu pra captar a moral.
E também serve pra que vejam que existem coisas piores do que meus eventuais posts científicos, que eu sinto que tanto aborrecem os leitores. Quando eu botei o pretensioso subtítulo de “um blog sobre tudo, e mais”, eu não estava brincando.

E se alguém vier me chamar de qualquer um dos rótulos que listei no início do post, é por que não entendeu NADA do que eu falei hoje. Mas aceito que me chamem de nerd. E só.

Well, povo e pova, é isso. Como diria meu amigo Bob Marley, “Dis is mai méssedj tchu iu-rurru”.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

OMG, a Língua está Mudando

Pois é, dizem as más línguas que quando um povo se isola acabam surgindo diferenças. Quando é por pouco tempo, na linguagem; quando por muito, até na fisiologia. O exemplo da fisiologia foi o que deu origem às diferentes etnias, e o da linguagem deu origem aos diferentes modos de se comunicar verbalmente.
Por exemplo, o sânscrito. Antigo bagarai, deu origem aos idiomas e dialetos da Índia e arredores (na Índia tem línguas e deuses de todos tamanhos, formas e cores, pra todos os gostos). O latim, mais conhecido nosso, em um lapso de sorte, se misturou com o grego e em menor escala com outras línguas e acabou se transformando na Língua Portuguesa, com letra maiúscula e tudo. Teve menos sorte com o espanhol, que eu acho uma língua muito feia, mas teve sorte parecida com o italiano, que é show de bola.
Mas o que acontece quando nenhum povo está isolado, todos interconectados através desta rede amada idolatrada salve salve que é a internet? Poucos tem o direito de arriscar uma resposta.
Por que a internet, assim como foi a televisão em sua própria época, é uma grande mudança. Quem foi criança antes de mim deve saber melhor disso. Milênio passado computador era raro, e hoje em dia abundam lanhouses em qualquer lugar. E por isso não dá pra saber as conseqüências a longo prazo, por que é a primeira vez que as crianças tem quatro “genitores”: o pai, a mãe, a televisão (que foi também pai/mãe/educador da geração passada) e a internet.
Mas uma mudança significativa está em âmbito lingüístico, e isso não é nenhum palpite meu, está acontecendo de fato.
A começar com o internetês. Filho direto do português com o computador/SMS/MSN, essa linguagem é bastante útil por que economiza caracteres e dinamiza as conversas via messenger. Todos o conhecemos, e depois de um mês sendo assíduo freqüentador de orkut e chat qualquer um já é craque para decodificar o que os outros estão dizendo. Algumas palavras do internetês:
q = que
qt/qto = quanto
qd/qdo = quando
td/tdo = tudo
tb/tbm = também
bm = bem
c = se
bj/bjo/bju = beijo
abs = abraço
flw = falou
rs = risos
rsrsrs = muitos risos
E por aí vai. A moral é diminuir o número de letras sem alterar o sentido, trocando sílabas por letras que a representem (cá por k) ou engolindo vogais inúteis (não lembrei de nenhuma, hehehe).
O vc é um caso á parte. Por que essa palavra é alvo de muitas diminuições ao longo do tempo. De vossa mercê, passou para vosmecê, então para você, em alguns lugares é ocê ou cê, e na internet assumiu a forma vc, ou v6 quando no plural. Outro caso criado com o internetês é a carinha feliz :), que também pode ser carinha triste :(, com rabo de cavalo :)~, mandando beijo :* ou mostrando a língua :P.
Outro caso especial são as risadas. Um bom "falante" de internetês não se satisfaz com um simples hehehe, hahaha, hihihi ou similar, ele usa husahusahusahusahusahus para demonstrar que ele está realmente se rindo todo do outro lado da tela. Isso quando o capslock não entra na parada, por que quando entra shUSHAUSHAUshUSHusahuSHUsahusHUShu é por que a pessoa está morrendo de rir, sem conseguir respirar, se debatendo no chão e ainda assim conseguindo teclar contigo.

Indo mais fundo na genealogia do português, percebemos que o internetês ficou careta, qualquer um usa. Então o internetês, através de inseminação artificial, teve um filho com a rebeldia e a carência, ao som de muito Simple Plan, que chamamos carinhosamente de miguxês. O nome é derivado da sua mais conhecida palavra: miguxo. Quando ler um texto em miguxês, você deve estar psicologicamente preparado para imaginar, sempre, que a pessoa que fala está falando meio pra dentro, com as mãos cruzadas na frente do cinto de couro, escondendo o pescoço, beicinho, com a maior cara de pidão do mundo. Qualquer coisa que ressalte a atitude emo que estiver ao alcance do teclado.
Mas em termos práticos, o miguxês é muito complicado. Ele não facilita a vida da pessoa, pelos xxx que entram na conversa. Mas é bem bonitinho, quando não é irritante.
Se você quiser escrever em miguxês, deve botar som de ch (mas escrevendo x) no lugar dos s's. E inventar algumas palavras: miguxu, coleguxu, morixu... E plural é sempre com x também: miguxux, coleguxux, morixux. No resto, eleve as características do internetês à máxima potência.
Nas gargalhadas, faça parecer que você teve um ataque em cima do teclado. Nada de se conter com h, u, a e s. Pode k, l, p, f, g, r, tudo. Desde que inspire vontade no seu coleguxo de MSN de chamar a SAMU, tá valendo. E emoticons, nossa, solte a criatividade. Se quer dar um beijo grande, mande dois pontos seguidos da intensidade do beijo, tipo :*********. Se misturar isso com mudanças de cores e botar em negrito/itálico/sublinhado, a coisa no fim pode parecer obra de arte.

Indo ainda mais fundo na fertilidade da mente virtual, encontramos o tiopês, que tem traços do miguxês, mas tem como idéia central inversão de letras e acréscimo desnecessário de acentos e símbolos gráficos. Gato vira gaot, idiotice vira iidotiec, essas coisas. Não existem letras maiúsculas, por que um verdadeiro tiopense tem total incapacidade de apertar duas teclas ao mesmo tempo.
Há algumas palavras inventadas também. Essas surgiram em círculos de amigos nerds. Você pode reparar quando puder, que onde tem um grupo nerd, existem algumas palavras ou sinais que só eles entendem, para que possam chamar de noobs ou wannabes quem não entender. Segue uma lista de palavras encontradas no tiopês que um amigo meu postou na comunidade da turma:
/euri <-- EU RI
fikdik <--- Fica a dica
gaydacu <--- viado
q <--- ? (sim, literalmente o ponto de interrogação)
-q <--- ? (sim, literalmente o ponto de interrogação)[2]
-qqqqqqqqqqqqqqqqqq <---- WTF
tiopes consiste em escrever tudo junto e ateh msm errado (inverter algumas letras e talz)
substituir o UEI por AY (de gay) tbm eh uma modinha do tiopes....
Nota: WTF vem do internetês inglês, e significa what the fuck.

Mais indecifrável do que o tiopês só a língua do 1337 (leet). Essa surgiu em rodinhas de nerds (mais uma), que tinham uma calculadora científica e tempo livre de sobra. Não que isso seja um crime. Eu e meus colegas conseguimos fazer uma calculadora dizer "belos seios" virando o visor de cabeça pra baixo e apertando algumas teclas, ;). Depois que saiu das calculadoras ociosas e veio pra net, a língua do 1337 incorporou ao seu alfabeto símbolos e tudo o que tiver no teclado (e o que não tiver no teclado também. Alguns mais viciados sabem algumas manhas pra conseguir qualquer símbolo teclando uma sequência numérica enquanto segura alt). Matemática vira M473m471{4, e o resto das palavras é ainda pior.

Enfim, para onde nossa língua está evoluindo? Qualquer coisa é uma evolução, mas bah, as pessoas me olham como se eu fosse um alienígena por escrever certo, hehehe.

Abs p/ tds!

"Depois da reforma ortográfica, nunca mais trema na linguiça".

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O que é um Pontinho Minúsculo Dentro de Outro Pontinho Minúsculo?

Caras, estou começando a me encher do ócio. Me matriculei em uma escola de música, para aprender a tocar piano, e a semana ficou longa demais, demora demais para chegar o dia do curso. Se fosse em qualquer outra época eu provavelmente nem notaria a semana passar, talvez esquecesse de ir no curso, mas nas férias isso não é possível. Estou empolgado com o curso, e isso fica ainda mais em evidência por eu não ter mais nada (ou quase nada) com o que ficar empolgado.
Vendo o professor tocar, acabei por finalizar um processo de mudança de conceito que já vinha tomando espaço na minha cabeça desde que eu me aproximei mais da música. Agora eu sei que não quero apenas saber tocar, mas quero saber usar o instrumento como se fosse uma mera extensão da minha vontade, com o intuito único e grandioso de não apenas me aprazer com a música, mas me aprazer com o fato de que eu que estou produzindo os sons que estão agradando os meus ouvidos.
Digo isso para sentirem o quanto estou sem nada com o que pensar. Quando um cara sério como eu (?) tem tempo para pensar e conseguir entender as próprias emoções a ponto de expressa-las tão poeticamente como eu fiz no parágrafo anterior, é por que a situação ta preta mesmo. Isso pode não ser uma regra geral, até por que regras gerais não existem, tudo é uma grande exceção (viram? Poetizando tudo...), mas se aplica a mim no momento.

Eu estava esses dias, em um desses dias calorentos e bafentos que foram cometidos aqui (sim, “foram cometidos”, por que dias como aqueles devem ser considerados crimes, não meros acontecimentos banais), e fui pra cozinha tomar água, como tenho feito alguns milhares de vezes ultimamente. Peguei a garrafinha com o líquido que, mesmo sem ter gosto, em um dia como aquele agradava tanto o paladar quanto uma galinha escabelada (requeijão no fundo, seguido de uma camada de galinha, uma de queijo para tampar a galinha e uma de batata palha, para terminar o prato e justificar o nome pouco ortodoxo) o agradava em uma gelada noite de sexta no inverno, e me parei em frente à janela da cozinha que dá para o quintal dos fundos. Primeiramente, estranhei alguma coisa, mas não tinha certeza do que era. Então parei para analisar as coisas: o céu estava um pouco maior do que de costume. Sim, eu sei que o céu tem sempre o mesmo tamanho, mas visto da janela da minha cozinha, o azul do céu não é tão significante quanto seria de esperar de algo que cobre (do lado de fora da casa), metade da visão, do horizonte pra cima.
Mais alguns milissegundos de observação e notei a causa de tamanha algazarra no setor de novidades do cérebro: uma árvore foi cortada no vizinho de trás, e onde estava antes o verde das folhas agora encontravam-se outras coisas, desde o azul do céu, que me chamou a atenção no início, até casas, lá longe, no morro, que eu nunca tinha visto por esse ângulo.
Nada demais, com certeza. Eu nem iria me lembrar disso, não fosse por ter o blog, que abre portas para novas reflexões no dia-a-dia mais do que muitas outras coisas. Mas mesmo que eu não tivesse esse tino para coisas insignificantes, o “susto” de ver azul além do normal não seria evitado. Por que quando uma pessoa passa quinze anos indo até a janela da cozinha para tomar água e pensar em coisas corriqueiras e se acostuma a ver uma árvore, a escutar os passarinhos nela, e uma vez ou outra, ver os maconheiros fumando coisas no telhado parcialmente escondido pela árvore, e do nada tudo isso vira lembrança, não é uma coisa que possa passar despercebida pela mais insensível das criaturas. Ainda mais quando os quinze anos em questão são a vida toda da pessoa.
Isso porque o cérebro humano é altamente condicionável. O costume é muito importante, neuralmente falando. Quando do tipo bom, nos faz fazer atividades naturalmente, sem o esforço do pensamento. Quando do tipo ruim, nos faz não perceber certas coisas. Quebra-lo estimula sinapses neurais e evita o Alzheimer, e no fim deixa o cérebro mais saudável.
Essa capacidade de mudar as lembranças já guardadas, isto é, a capacidade de assimilar que uma árvore foi cortada e em seu lugar agora há uma visão mais ampla, está por trás de grandes e importantes características dos seres humanos. É isso que possibilita a nós: aprender a tocar piano, aprender novas línguas, lembrar do número novo do celular de um amigo, e várias outras, das quais “poder ficar tão inteligente quanto qualquer um, não importa o que os genes digam” não é a mais importante.
A aprendizagem modifica-nos, melhora-nos, nos faz diminuir um pouco o abismo que nos separa do que quer que seja para o qual temos potencial. Não importa a situação, nós nos acostumamos a ela, e logo ela nos é natural mais uma vez. O cérebro é novidadeiro, gente.
Este tipo de visão sobre nós, quer dizer, analisar o bicho homem como um animal não diferente dos outros, pode parecer triste para alguns, por desmistificar um pouco a idéia de que o homem é importante. Não é importante não, só somos uma mera ameba vivendo nas encostas suaves de um grão de areia, e esse grão de areia está numa praia gigante, situada em um mundo maior ainda. E essa é ainda uma visão otimista das coisas. Por que na verdade uma visão da verdade, uma perspectiva real da importância da gente no cosmo, não nos cabe. Nossas mentes fracas, que foram produzidas em um mundo de coisas médias, que passaram por eventos históricos aparentemente grandiosos, e que chegaram aos dias atuais com essa idéia fixa de importância, não foram feitas para entender o Tudo. Não foram feitas para terem perspectivas reais sobre algo. Uma “prova” disso, se é que me é permitido chamar assim, é que mesmo que saibamos que é o que acontece, somos naturalmente compelidos a rejeitar a idéia de que uma pluma e uma bola de chumbo caem com a mesma velocidade no vácuo. Isso por que nós não nascemos no vácuo, e onde nascemos uma pluma, quando cai, e se cai, cai muito vagarosamente. A bola de chumbo não, não interessa o vento, ela cai tão rápido quanto pode e, não raro, esmaga o nosso dedão.
Mas enfim, o fato de não sermos nada mais que um amontoado de moléculas orgânicas, que, por sobreposição de complexos mecanismos, e sobreposição de sobreposições de complexos mecanismos, pensam que pensam, diminui o fascínio que temos que ter por estarmos aqui levantando essas questões? Eu acho que não.
Essa é a mensagem que tenho hoje: a complexidade do universo, a nossa complexidade, isso tudo é fascinante, por ser o que é. Todos fariam bem em ver isso, e experimentariam de momentos agradáveis e sublimes de reflexões sobre isso tudo se o fizessem.

De qualquer modo, deixo aqui o meu pedido de desculpas por mais esse post longo (isso se alguém de fato chegar tão longe para ler esse pedido de desculpas), mas é que meus dedos são cada vez menos domesticáveis.

Um abraço a todos!

“Não hesitaria um segundo em trocar o maravilhamento da ignorância pelo maravilhamento da compreensão” – Douglas Adams

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Post Cultural

Cultura era o que estava faltando em um blog que leva a minha assinatura. Blogueiros de todos os tipos tem isso em comum: fazer com que o blog tenha sua cara. E seria impossível que o meu blog tivesse a minha cara sem que tivesse alguns posts sobre cultura. A cultura de verdade (literatura, cinema, música, diversão), além da já familiar cultura pop, tão presente aqui, nas diversas reflexões que eu meto entre uma piadinha mal-sucedida e outra.
Por que eu, do alto da minha falsa modéstia de mentira, não poderia fazer de conta que eu não gosto de cultura. Todas elas. Ta certo que abomino a banda Calipso, torço o nariz para best-sellers e tenho igual pé atrás com filmes superproduzidos, mas no geral, sou bem eclético e respeito razoavelmente as diferenças entre um estilo e outro. Então, o que eu quero dizer com essa introdução desconjuntada, é que a cultura faz parte da minha vida, e de mim, e portanto eu não posso ter um blog sem que ela faça parte dele também, e não posso perder a chance de espalhar um pouco bons memes, mesmo sabendo que quem de fato vem ler isso aqui já deve estar, em maior ou menor grau, infectado pelo gosto do conhecimento, da cultura, da inteligência.

Como post cultural inaugural, hoje eu vou deixar minha opinião sobre alguns filmes que olhei nas férias. Aguardem para breve (ou não), post sobre livros, sobre jogos de computador, talvez um sobre música e outros sobre os assuntos culturais que me vierem na telha, quando eu não tiver causos como o do ônibus para contar ou uma opinião polêmica que eu tenha para discretamente compartilhar com vocês.

Hancock
Bem diferente dos demais filmes sobre super-herois. A idéia de um super-heroi (com essa reforma, como afinal se escreve super herói?) bêbado, que voa bêbado, e que causa furos gigantescos no orçamento do governo é uma coisa que ocorre a poucos de nós. A idéia do orçamento furado pode nos atingir quando vemos o super homem tocando um prédio em cima do vilão, mas só quando temos um senso crítico um pouco acima da média. Os efeitos especiais são ótimos, bem reais mesmo, e nos extras do DVD pode-se ver o quanto a tecnologia está no cinema: inventaram uma máquina, meio que uma esfera, e o ator fica dentro dela, fazendo as expressões que o diretor pedir; então, de vários pontos diferentes da máquina começam flashes e fotos (uma de cada vez, mas extremamente rápido), para ver perfeitamente como a pele do rosto reage com a luz. Segundo um dos carinhas que trabalha com isso, a pele não só reflete a luz, como também a refrata e a desvia, algo assim, que no mais quer dizer que não é brincadeira de criança fazer um rosto que pareça real no computador, mas que com aquela máquina isso pode ficar bem mais fácil.
Tecnologias à parte, eu sempre gosto dos filmes em que o Will Smith trabalha, e a moral desse filme é bem boa. Não posso dizer com certeza se as atuações são verossímeis, por que não sou a pessoa mais sensível do mundo para isso, mas posso dizer que se o filme não é ótimo nesse quesito, ele engana bem.

O Dia em que a Terra Parou
Os efeitos especiais desse são mais impressionantes do que os do Hancock, beeem mais, só que no resto deixa a desejar. A idéia é ótima, uma raça alienígena manda um representante para falar com os líderes mundiais sobre salvar a Terra. Mas é só isso. As demais surpresas durante o filme são derivações dessa idéia base. Comentei com alguns amigos que esse filme ficaria ótimo como um conto, ou uma noveleta, mas como filme... não foi tão feliz. Poderiam ter explorado mais o lado ficção científica do filme, que não teria ficado pesado.
Uma coisa que notei com esse filme, é que o Keanu Reeves de fato não é tão bom ator assim. Eu achei ótima a atuação dele no Matrix e nesse filme agora, por que aquela cara de nada dele combina com os papéis. Mas aquilo não atuação, é ele mesmo. Por isso que tantos falam mal dele. Não vou apedreja-lo, mas preferia o Christian Bale pra esse papel, como para qualquer papel dele.
Vale a pena assistir pelos efeitos, e por que a idéia é bem forte, o tipo que faz amantes de FC se emocionarem. Se tu não se propor a achar as falhas que apontei, você vai gostar bastante do filme.

Quebrando a Banca
Não é tão novo quanto os outros dois, mas ainda assim é recente. O que deixa a história de alunos gênios do MIT que usam a matemática para se dar bem no blackjack ainda mais fascinante, é que ela é real. O jeito que eles fazem para ganhar dinheiro existe e funciona, e de fato os cassinos não gostam disso. E amo de paixão filmes como esse, que fazem pensar sem ter lição de moral. Outros nesse rol são Número 23, Uma mente Brilhante e um que deu há poucos dias de madrugada na Globo, Kinsey: vamos falar de sexo.
Não há muito o que dizer desse filme. Nota dez, com nota extra se você for alguém que gosta de matemática tanto quanto eu. Se não gosta, depois de olhar esse filme talvez goste. Se não gostar de matemática depois de olhar o filme, provavelmente vai estar apaixonado por jogos de baralho.

Well, me estendi demais com esse post. Esse é um assunto tão simples de falar, e tão extenso! Com apenas três filmes, eu já excedi o tanto que eu escrevo em cada post. Se continuar, metade dos que me visitarem não vão ler metade desse post. Então por hoje é só.

Abraço!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Chamem o Greenpeace

“Ah, ócio!
Me crias bócio
Queria a última flor do lácio
Mas eu não posso
Que fracasso.”

Para citar um amigo poeta e minha atual situação. Toda a ação no orkut ainda é insuficiente para acalentar o meu espírito entediado. Não é possível que todos estejam desfrutando da praia, ou em algum lugar sem internet, ou seqüestrados pelas Farc, mas as vezes é isso mesmo que eu penso, dada a situação vazia do orkut e, não por acaso, da minha agenda. O ano passado me viciou em tarefas, em ocupações. Não sabia que isso iria continuar mesmo durante as férias. Pensei que não, que eu ia passar o tempo todo estirado na cama descansando os neurônios pro próximo round na escola, mas se o faço não é por cansaço, e sim por pura falta de algo melhor para fazer.
No início da semana fui lá eu pra minha dinda, passar o tempo, abstrair um pouco dessa minha rotinazinha mixuruca. Funcionou.
No caminho pra lá, especificamente no ônibus, entrou uma senhora calibre 2362 mais ou menos, que, como as leis da física e do olhômetro de qualquer um preveriam, entalou na roleta da passagem. Na hora do ocorrido eu estava distraído, olhando pela janela e pensando na diferença entre os liberais e os conservadores, que um amigo meu me ensinou pelo MSN, e só voltei à superfície do planeta Terra por que ouvi uma onda de risos indo desde perto do motorista até o fundão do ônibus.
Então, eis os pensamentos que me ocorreram nos segundos seguintes a eu notar a tia gorda presa lá na frente: “Ah, não, seis bilhões de pessoas no mundo e isso tem que acontecer no ônibus que eu estou usando!”, “Coisa triste isso acontecer com essa mulher, aposto que ela nunca mais vai no McDonalds depois dessa!”, e o último pensamento antes dos segundos que eu falei acabarem “Que falta de respeito dessa gentalha (gentalha!, gentalha!, pffff) rir dela... Pobre é bucha”.
Depois dos pensamentos, parei pra avaliar melhor a situação. A porta estava perto, então qualquer emergência (baleias encalhadas explodem por causa dos gases dentro do corpo, certo? Se não, o cheiro delas apodrecendo deve ser tão ruim quanto) era só escapulir por ela, nem que tivesse que abri-la a dentadas.
A mulher lá na frente tentava de todo jeito se mexer e nada, ela tinha se trancado de vez naquilo lá. Passados os cinco minutos iniciais de deslumbramento com a novidade, a pobraiada passou a parar de rir e lembrar do que o pastor falou-lhes na missa do final-de-semana, aquele papo de ter compaixão pelos menos afortunados e tal. Mais cinco minutos e eles notaram que no momento a senhora gorda (imensa!) era a pessoa menos afortunada da hora, e puseram-se a ajudar. Dois homens foram ajuda-la a se acalmar (um deles estava ajudando desde o início); uma moça estendeu uma água pra tia agonizante, pois essa última apresentava uma insalubre cor avermelhada, e não sabia-se ainda se era só de vergonha ou se ela estava sufocando mesmo; e o resto do pessoal “ajudou” dando a sua própria opinião. Todos ao mesmo tempo. Parecia reunião de família, todo mundo falando, cortando o assunto dos outros, discutindo a morte da bezerra e de quem ia ficar com a herança, essas coisas. Eu captei alguns dos discursos, e um deles até deu uma boa idéia para remover a coitada. Foi lá e passou-lhe a idéia e os votos de melhora de todos os passageiros que conseguiram cutucar ele para que ele passasse a mensagem. A idéia era a seguinte: ela mesma se segurar nos ferros de cima e se içar, para conseguir girar um pouco a roleta, e pôr fim ao seu sofrimento.
Mas não deu certo. Ela não se mexia de jeito nenhum. Nem pra frente, nem pra trás, nem pra cima, nem pros lados, nem diagonal direita superior, nada. Como não surgiam idéias melhores, todos (ao mesmo tempo ainda), começaram a fazer críticas de tudo, do transporte público, do governo, do Seu Norberto que saiu do BBB, do cobrador imbecil que “não sei como não viu que uma senhora daquele tamanho não passaria na roleta!”, esse tipo de reclamação.
E eu quietinho ali no meu canto. Só observando. Pensando que apesar do sufoco eu ia ter finalmente assunto pro blog. Para pelo menos uns parágrafos de um post. Desgraça de uns, alegria de outros, totalmente justificável. Quando chegou na minha parada, desci faceiro por deixar pra trás aquela situação. Entraram pessoas pelo lado que eu saí, por que lá na frente não cabiam mais seres viventes (sim, o motorista continuava pegando passageiros, por que, oras, não é qualquer coisinha que vai deixar de movimentar a roda capitalista, né).
Pelo que eu escutei antes de sair, eles iriam até o fim da linha e de lá pra garagem desmontar a roleta e retirar os restos mortais da tia. Se fosse circular, acho que iam rodar com ela lá até de noite, para só então tira-la. Suponho que ela passa bem, ela tinha pelo menos bastante reservas para o inverno.

Então, pessoal, é por isso que é importante comer devagar e ter uma dieta balanceada, fazer bastante exercícios físicos. Isso, e ter dinheiro e um carro para não precisar andar de ônibus.

Abraço!