segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Para Além do Muros

Caríssimos, o mundo é grande. Muito maior do que podemos imaginar, e isso quer dizer que é bem grande mesmo. Não “grande” como imaginamos na aula de geografia, mas “grande” como quando conhecemos gente legal vinda de lugares que a gente nem sequer sabia que existia antes.
E foi por essa experiência que passei nas três últimas semanas, e será sobre ela que falarei (escreverei) hoje.
Antes de mais nada, para o caso de haver alguém desapercebido de informações relevantes lendo esse post hoje, é interessante que eu apresente alguns fatos. Fato número 1: eu faço parte do Coral Municipal Infanto-Juvenil da Secretaria de Educação e Desporto de Novo Hamburgo (que é a cidade onde moro). Fato 2: quando meu coro viaja para algum lugar longe, dentro ou fora do país, é comum sermos hospedados por corais locais, e, em troca, como diz o Fato 3, quando eles vem para cá nós os hospedamos.
Por isso, há algumas semanas eu hospedei duas coralistas de um coro de San Carlos, Uruguai. (eu fiquei pasmo quando as vi, por serem elas mais bonitas do que se espera de estrangeiras, e por que geralmente a nossa regente não deixa meninos hospedarem meninas, por receio de que nós, brasileiros de mente suja, corrompamos a imaculada pureza das donzelas que vamos hospedar...). Deu bastante correria, fomos até mesmo a um evento do Fórum Social Mundial, o qual merece um comentário à parte por ter tudo a ver comigo: capoeira, cultura afro, ideais hippies, socialismo. Sim, isso foi bem irônico.
Apesar da barreira lingüística, foi uma experiência bastante produtiva, fiz vários amigos e amigas novos, internacionalizei meu MSN, enfim, aproveitei bem a estadia deles aqui. Não corrompi a pureza delas e tal, mas também não se pode ter tudo. (6)
Mas esse não foi o único modo pelo qual expandi as cercas da minha mente. Uma semana depois ocorreu aqui na minha cidade a Mostratec, feira Internacional de Ciência e Tecnologia, segunda maior do mundo, organizada pela minha escola. Nela eu trabalhei de intérprete de inglês, e isso me deu a oportunidade de descobrir que eu já falo o suficiente de inglês para me virar bem por aí, se precisar.
Fiquei traduzindo o estande de um grupo cazaquistanês, lá do (adivinha?) Cazaquistão, a terra do Borat. Por sorte minha, os Kazakhs que eu tinha que traduzir (Yernazar, Galymzhan e Timur) eram super inteligentes e dividiam comigo a tarefa de tentar entender o que o outro quer dizer. Geralmente, em uma relação de um brasileiro e alguém de fora, quem tem que se ferrar para que haja entendimento é o brasileiro, salvo nesse tipo de exceção, ou quando o estrangeiro fala português, o que é ainda mais raro.
Passando o tempo com o pessoal da feira, entre um palavrão e outro (ensinamos ao pessoal da Moldávia, um país minúsculo da Europa Oriental, o equivalente em português para fuck you e para motherfucker, e ambas expressões foram facilmente aprendidas; “Obrigado” e “De nada” foram mais complicadas de ensinar), ficava claro que, ao mesmo tempo que os jovens são os mesmos em todo lugar, só mudando as moscas, também existem diferenças sutis no modo de viver. Em alguns lugares, por exemplo, o banho não parece ser algo que faça parte da rotina; em outros, o contato físico entre homem e mulher é assaz limitado, sendo um verdadeiro sacrilégio você se despedir de alguém do sexo oposto com um beijinho na bochecha. O intercâmbio cultural é bastante intenso, e embora não seja o objetivo principal, conhecer novas línguas é sempre uma atividade desejável. Ainda mais com aquelas argentinas... bah! Não que eu tenha conseguido algo, por que eu apesar da carinha sou meio lento nesses assuntos. Mas isso está sendo resolvido, pois defeitos como esse não são para serem levados para a vida toda.
Isso sem falar que nessas feiras se juntam gente de todos os tipos, com um nível de instrução às vezes bem elevado. No primeiro dia da Feira eu participei (leia-se: ouvi boquiaberto) de uma discussão acerca de Filosofia entre dois espanhóis e um carioca, que tem um sotaque tão forte que praticamente pode ser considerado outro idioma. Nos demais eu assisti a uma palestra de um cara que tem pelo menos seis pós-doutorados, tirei foto com o Marcos Pontes, chupei um pirulito mexicano de melancia com pimenta... e a lista seguiria mais, se minha mente não estivesse embriagada de sono agora. Falar uma língua diferente da materna é exaustivo, e dá dor de cabeça no início.
Enfim, para concluir: o mundo é bem maior do que pensamos, e é uma pena que muitos fechem os olhos para as maravilhas que a compreensão e a razão nos trazem nessas oportunidades. Espero que você, leitor, não seja um desses.

Abraço!

2 comentários:

Kari disse...

É, meu amigo, o mundo é muito maior do que a nossa vã cabeçinha pode imaginar...

E eita que esses dias foram bem agitados em?? Eu já ia reclamar do sumiço, mas já perdoei...

Ah! E tu falou em sotaque eu lembrei... Quando o meu namorado (gaúcho) veio pra cá a primeira vez, minha mãe não entendia nada do que ele dizia, porque vocês falam rápido demais... Eu adoro isso de sotaques...

E tava com saudade já!
Beijão pra tu e parabéns por aprender e saber tantos idiomas, viu?!!

Antônio Dutra Jr. disse...

Digamos que eu tenho métodos bem mais diretos e eficazes de estabelecer intercâmbios e, hã, bem, conhecer novas línguas. =)

De qualquer forma, se te consola, posso afirmar que tu tá no caminho certo, guri. Novembro tá aí, tu completa dezesseis e, que tua mãe não leia isso, vou te levar pro "caminho do bem" (deixa eu escrever assim pra não gerar polêmica, ok?), onde tu vai aprimorar ainda mais tuas técnicas de comunicação tão bem difundidas teoricamente. Contudo, trinta minutos de prática e tu nunca mais vai querer filosofar a respeito de nada disso, hehehehe.

Abraço!