quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Autor Convidado - Marcus V. de Oliveira Gomes

Caso vocês não saiam muito de casa, não tenham acesso à televisão ou internet, eu tenho uma notícia para lhes dar: nós vivemos num mundo dividido.

De uma lado, temos delírios de pessoas que estudam e trabalham. Se houver algum outro verbo em meio a esses dois, é lucro. Delírios consumistas, o motor de uma sociedade que se importa mais com o lucro e luxo do que com o próprio progresso. Uma sociedade programada, onde a liberdade é uma utopia jamais conquistada. Somos condicionados. Tudo o que desejamos, o que almejamos, nós somos treinados para querer. Somos, até agora, uma geração sem expressão na história. Não vivenciamos alguma grande guerra, não sobrevivemos alguma grande crise que deixou todo mundo na miséria, nem derrubamos algum grande ditador ou presidente corrupto. Não temos a nossa face, a nossa marca. Não temos os nossos "anos 80" nem nosso "woodstock".

Do outro lado temos uma força nova, com um poder que não imaginamos, mas fazemos alguma ideia. Um terror inimaginável que cresce e se espalha, tomando novas formas e proporções. São essas as pessoas que passam a vida inteira de bunda pra cima rezando pra um ser imaginário. Uma alienação de mentes em massa que aterroriza quem? O nosso lado.

E essas são as duas grandes massas que formam essa guerra fantasma. Duas facções de alienados, explorados, pequenos seres iludidos que não podem sequer imaginar que a existência ou não deles não fará a mínima diferença na ordem do universo. Somos egoístas em pensar que somos uma raça importante. Não pensamos quando travamos guerras.

E em meio a esse caos, há os outros. E eu te pergunto...

... e nós?

***

Esse texto foi escrito pelo Marcus, que escreve no blog I Only Own My Mind, muitíssimo recomendado por mim, ;)
Muito obrigado pela participação, xará!

Abraços pra todos!

sábado, 11 de setembro de 2010

Pra não deixar passar

Em um dia fatídico como hoje, eu não poderia deixar de escrever alguma coisa.

Afinal, o dia 11 de setembro é a prova cabal de duas coisas:

a) o argumento ad nauseam e a lavagem cerebral funcionam;

b) a fé move montanhas. E derruba prédios.

Abraço!

Que Alá esteja com vocês!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Fogo nos Olhos

As discussões sobre direitos e igualdades entre os homens são sempre eventos interessantes e estimulantes, como a maior parte das discussões filosóficas. Mas, por outro lado, e ainda como a maior parte das discussões filosóficas, elas podem levar a alguns becos sem saída, algumas verdades que comem o próprio rabo (também conhecidas pelo nome musical “paradoxo”) e outras coisas que devem ficar uma maravilha na feijoada.

Todos concordam que ninguém é mais do que ninguém, que todo mundo deve ser tratado igual, que somos todos iguais e que julgar os outros é errado. Isso é uma verdade universal, veio escrita na pedra e todos devem aceitar.

A hipocrisia, é claro, é um mal humano e também devemos aceitá-lo. Eu sempre tentei não julgar ninguém, sempre esperar o melhor das pessoas e de um modo geral pressupor que todos que eu não conheço são pessoas interessantes. Mas não dá, não sei se porque eu sou muito cricri e vou ser um velho solitário que só conversa com as enfermeiras no asilo, ou se porque a maioria das pessoas é desprezível mesmo, mas é dessa forma que as coisas me parecem agora: algumas pessoas simplesmente não estão conectadas ao mundo como as outras. Algumas pessoas tem aquela centelha nos olhos, a fagulha de consciência que demonstra que ela está funcionando em ressonância com os demais ao redor.

Essa coisa sutil de que falo é um sentimento que às vezes tenho em relação a algumas pessoas. Não se trata apenas de inteligência, ou apenas de esperteza, ou apenas de consciência*; essas pessoas são aquelas que têm uma boa conversa, que dão a impressão de terem sido crianças curiosas (e, por isso, terem crescido com essa característica). Elas estão em equilíbrio entre o mundo de cá, que todos partilhamos, e o mundo de lá, que é de cada um de nós separadamente. Ou o mundo de fora e o de dentro, depende o ponto de vista.

As pessoas que não tem essa faísca no fundo dos olhos são as “outras”. Não tenho vocabulário para expressar o que acho exatamente delas. É só que simplesmente elas parecem ser personagens fracos de uma novela escrita por um amador; são puramente reativas, suas ações podem ser facilmente previstas a partir dos estímulos que recebem; são aquelas que são sempre manobradas** nas discussões.

Ter que lidar com gente assim é uma das coisas que me enfudece a paciência, mas isso é assunto para outro post.

Eu me sinto um pouco mal por pensar assim – me impaciento com as pessoas “apagadas”, porque acho uma afronta pessoal elas passarem pela vida tão a passeio, e porque não me sinto superior o suficiente para simplesmente ignorá-las – mas não consigo evitar. E isso também pode vir em outro post.

Acho que já desabafei o que estava querendo escorrer pela orelha. Olhar o horário político me faz pensar muito na natureza humana e, entre outras coisas, me assustar com o quanto algumas pessoas se esforçam para serem vermes. Espero ter passado bem a ideia da centelha, é algo que me acompanha já desde antes do horário político.

Abraço!

*A consciência que falo aqui é aquela de se estar presente quando se está fazendo algo. Talvez não o tempo todo, porque em alguns momentos nos obrigamos a fazer algo mecanicamente; mas (e isso também me deixa puto) determinados indivíduos parecem viver a vida inteira no piloto automático.

**Essa manobra não quer dizer que eles têm a vontade manobrada. Quero significar aquelas pessoas que ou nunca mudam de opinião ou nunca têm uma opinião. Os “café-com-leite” que ninguém leva realmente a sério, cujos insultos ninguém acata, cuja ausência ninguém lamenta.