sábado, 23 de maio de 2009

Cultura, pra não perder o costume

Comentar filmes é algo que gosto de fazer, por que entre um e outro comentário inteiramente destinado ao filme sempre entra algo extra, alguma coisa que estava boiando na minha cabeça a espera de oportunidade de ser compartilhada com o mundo. Como Asimov disse certa vez sobre seu hábito de escrever: “Sinto um prazer inocente em fazer isso. Afinal de contas, tenho muita coisa a dizer, e procurar manter tudo comprimido dentro de mim facilmente poderia danificar meus órgãos internos”. Faço minhas as palavras dele (quanta audácia!), e toco o bonde.

Então, vou comentar dois filmes e o primeiro filme que vou comentar é “Perfume – A história de um assassino”. Baseado em um livro de um autor que confesso a vocês que não lembro o nome (Santo Pai Google me soprou agora: o autor chama-se Patrick Süskind, e é alemão, como pode-se notar pelo sobrenome heterodoxo do tiozinho), conta a história de um garoto que tem um dom incrível: um olfato supra humano. A ambição da vida dele é produzir um perfume irresistível, e o jeito que dá para fazê-lo é extraindo a essência de 13 virgens. Para extrair a tal essência, e ele encara isso como mero detalhe, ele mata as jovens, e isso acaba levando as outras pessoas da história, de mentes menos libertas dos conceitos mundanos e portanto pessoas que não vêem com bons olhos o hábito do protagonista de matar jovens e emplastar os seus corpos nus para extrair seus cheiros, a persegui-lo.
A sensação de olhar esse filme é semelhante à de ler um bom livro. O que quer dizer, baseado em uma lógica simples, que esse é um ótimo filme. Não é previsível, não pode-se distinguir rapidamente bonzinhos de mauzinhos e nem pode-se rotular o final de feliz ou triste, então não recomende esse filme para algum espectador assíduo da Mamãe Globo, porque ele não vai gostar.
Ao contrário de outras tantas histórias que estamos acostumados a assistir, essa não tem uma moral ou algo que possamos levar dali. É a arte pela arte, dá pra dizer. Seu final não é triste nem feliz, é apenas um final. Final feliz é coisa de sessão da tarde, e quando algum autor escapa do beco escuro da falta de criatividade que é esse clichê, e cria uma história do calibre do “Perfume”, devemos dar graças a Deus, dançar ao redor da fogueira e acender velas para Buda, só pra ter certeza.
Enfim, recomendado para quem tem um gosto parecido com o meu, que gosta de novidades ou para quem quer ver as virgens nuas.

O segundo filme que eu gostaria de comentar e indicar para vocês é “V de Vingança”. Igualmente ao anterior, esse não tem bons e maus, embora tenha bastante evidenciado quem é “nós” e quem são “eles”.
O pano de fundo para a história é uma Inglaterra do futuro onde fanáticos religiosos tomaram o poder e instauraram um regime totalitário dos mais completos: repressão da opinião, preconceito a gays/lésbicas/ateus/muçulmanos/outros-grupos-minoritários, lavagem cerebral, toque de recolher... etc. A pena, por exemplo, para alguém que é descoberto com um Al Corão em casa, é a de morte por fuzilamento. Totalitarismo totalmente triste.
A história em si é sobre um revolucionário, chamado simplesmente de “V”, e sobre os mistérios que o envolvem. Nesse filme é preciso pensar mais do que em Perfume, já que aqui o roteiro é mais amarrado e pensado (não que Perfume seja burro, mas é passível de ser olhado sem pensar muito). É baseado em uma graphic novel de mesmo nome, e talvez por isso tenha tantas idéias complexas internas.
Graphic Novel, para quem não sabe, é o nome bonito para História em Quadrinhos. Adulto nenhum, ou pelo menos não um adulto que seja plenamente aceito pela sociedade atual, admite publicamente gostar de HQ. Mas é chique ler graphic novels, e uma revista com esse nome dá a impressão de que só se pode ler enquanto beberica um champanhe francês frente a lareira.
V de Vingança, então, está fortemente recomendado também.

Recado dado, cabeça esvaziada, já me vou.

Abraço!

domingo, 17 de maio de 2009

Positive Vibrations

Eu tenho me observado ultimamente, nos últimos 15 anos para ser mais preciso, e notei que sou bastante influenciável. Não por todos, algumas pessoas tem um poder de persuasão maior do que outras, mas não é desse tipo de influência a que me refiro. Por que o que me influencia mesmo, é a atmosfera de algum lugar, me deixando alegre, triste, intimidado, encorajado, com vontade de sair correndo pelado, enfim, mexendo de algum jeito com a minha cabeça.
Eu posso estar totalmente alegre, e do nada ficar triste; ou estar triste e do nada ficar feliz; ou do nada ficar com vontade de fazer alguma coisa (os maliciosos de plantão talvez podem se vangloriar agora, já que é possível que tenham captado corretamente a malícia que eu quis passar). Dependendo da música, da temperatura, da cotação do dólar e da quantidade de compromissos da semana seguinte.
Durante a observação que eu fiz de mim mesmo, então, também notei que certos lugares me deixam deveras deprimido. Quando passo, por exemplo, perto da entrada do shopping aqui da minha cidade, me sinto com cinco centímetros de altura, todas as pessoas ao meu redor parecem querer que eu seja atropelado na próxima esquina e todos os maloqueiros e mendigos parecem mentalizar alguma forma de me assaltar ou espancar. A sensação me persegue, até a entrada do sebo que eu freqüento. Ali, de alguma forma, a atmosfera é mais leve e eu consigo respirar aliviado (apesar do intermitente cheiro de livro velho carcomido de traças). Energias positivas, diriam os hippies.
Mas, de uma vez por todas, o que é essa tal energia positiva?
Primeiro seria interessante descobrir de que energia eles falam. Térmica, química, mecânica, elétrica... não parece ser nenhuma dessas. Correntes esotéricas adoram dar explicações científicas para as coisas que não entendem, dando uma certa credibilidade para as próprias crenças absurdas (e para os produtos das suas lojas).
Dizer que o que causa estresse nas pessoas é o acúmulo de energias negativas no corpo é um exemplo das coisas que eles falam. É possível que exista algo a ver, mas o ponto que eles enfatizam é o “negativas”. Oras, a carga do elétron é dita negativa por pura convenção, poderíamos tranquilamente dizer que na verdade quem tem carga negativa é o próton, mas isso iria contra séculos de afirmação do contrário.
A negatividade de um humor, então, nada tem a ver com essas explicações bestas. Nem a energia vital da pessoa (alguém aí lembra do kame-hame-há do Goku?) tem a ver com isso, se é que existe. O humor da pessoa é algo controlado por dentro, nada tendo a ver com o que existe fora da cabeça da pessoa.
Os estímulos externos desencadeiam emoções na gente, mas somos nós que temos que decidir se isso vai ou não estragar o nosso dia. Um bom dia só depende de nós, que somos quem irá decidir a quais coisas devemos dar importância, as boas ou ruins, e até mesmo se devemos dar importância a alguma coisa. Seria legal se algum fanático descobrisse que a sua tão amada energia positiva depende na verdade de uma certa capacidade de controlar as reações químicas neuronais, e não da vontade divina de obscurecer a sua aura.

Então pessoas, é isso que eu quero dizer pra vocês hoje, resumidamente:
- se quiserem ser felizes, vocês podem ser felizes;
- esoterismo fede, ciência rules.

Um abraço!

PS: se algum amigo fanático seu ler isso por cima do seu ombro e quiser saber o meu endereço, desconverse e mude assunto. A minha integridade física agradece, ;)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Mundo Estranho

Acordei em um dia dessa semana, sem saber que haveria algo diferente. Fiz tudo normal, mas aos poucos fui notando estranhas mudanças ao meu redor.
Primeiramente, não fiquei com sono em nenhum momento da manhã, sendo que tradicionalmente eu dou umas pregadas de olho de alguns segundos. Consequentemente, peguei rapidamente a matéria, algo que não acontecia desde o ano passado com a minha pessoa.
Passou-se algum tempo, sem mudanças estranhas ou interessantes. Então, como era dia de coral, desci pro centro. Ao passar pelo viaduto, estavam andando na minha direção duas garotas. Tudo certo, bonitas, aparentemente simpáticas entre si, e quando passam por mim uma delas estende a mão para mim e na mão dela tinha um desses panfletos que se entrega na rua. Instintivamente estendi a mão, ela era bonita né, fazer o quê. Quase que eu caio na brincadeira da tirana. Mas recuei a mão a tempo de evitar passar por um possuidor de bobice desmedida. Elas riram, eu ri, e continuei andando.
Mais adiante no caminho, um carro vermelho passa por mim e eu olho para o motorista. Por um microssegundo ocorre aquela centelha elétrica de reconhecimento. O carro anda mais um pouco e então estaciona na calçada. Eu dou uma corrida, pensando “Eba, carona!” e quando olho para o motorista, o motorista me olha de volta e nós ficamos nos olhando, quando eu brilhantemente quebro o silêncio constrangedor perguntando “Eu te conheço?”, ao que ele me responde “Não sei”.
O diálogo segue por mais três ou quatro frases curtas, onde ele me pergunta onde eu estudo e para onde estou indo. Aparentemente, ele me conhece do Orkut, mas meu sentido aranha me avisou do perigo de ser um desses engraçadinhos que acham que podem inventar novas formas de seqüestro. Então, falei no melhor jeito amigável possível que valeu a gente se vê, e ele não pareceu se importar com a minha retirada para que ele pudesse começar a se chamar de idiota que fica parando a qualquer momento para ver se conhece um rapaz que estava passando.
Depois desse episódio, passei a notar que todas as pessoas na rua estavam invariavelmente simpáticas, quando sempre é o contrário. Ah, acabei ficando de bom humor também, não dá pra evitar.
Cheguei no ensaio, tudo normal, fui pra casa com uma idéia de post para o blog. Isso, principalmente, foi o que eu achei estranho. Tempão sem escrever e do nada me dá essa lâmpada piscando acima da cabeça com uma idéia. Mas, claro, cheguei em casa, tomei um banho e o entusiasmo foi todo junto no ralo.
Mas hoje retomei a idéia, e está aí o resultado. Estava com saudades disso.

Enfim, espero que amanhã, quando eu acorde, o mundo – ou eu, afinal não sei o que mudou – continue assim como está agora.

Abraços fortes!