Uso o “nós”, mas aqui meu sentido
aranha (que detecta, entre meus atos e palavras, aqueles e aquelas
que gerarão olhares acusadores, que diriam “arrogante!,
convencido!”) apita e me acaba obrigando a me explicar. Quando uso
“nós”, não estou igualando os grandes escritores aos escritores
pequenos. Só que a questão que mencionei, “sobre o que escrever”,
acaba uma hora ou outra ocorrendo a todos, os grandes, os médios, os
pequenos, blogueiros, esvrivinhadores, eu etc.
Stephen King, por exemplo, resolvia a
questão escrevendo sobre algo que conhecia bem: a vida do escritor.
Não li dele tanto quanto gostaria, mas em grande parte dos livros
que eu li, ou o personagem principal é um escritor profissional, ou
faz isso por hobby (entre um assassinato e outro). Não sei se
escrevia pois queria viver aquelas coisas, provavelmente não; quem
iria querer enlouquecer em um hotel nas montanhas em pleno inverno?
Isaac Asimov, por outro lado, botava muito dos seus desejos nos seus
escritos. Ele próprio doutor e profundo conhecedor de várias áreas
da ciência, em suas histórias os cientistas várias vezes compunham
o que era uma casta elevada da sociedade, uma elite respeitada e que
em não raras vezes governava o planeta. Que mundo maravilhoso seria
aquele em que os passos da humanidade fossem guiados pelo prazer da
descoberta, pela ânsia de saber, ao invés da ganância e sede de
poder.
É claro que essa não é a única
coisa que passa pela cabeça de um escritor (e demais semelhantes...
já falei disso) na hora de escrever. O jeito de escrever também é
muito importante.
Todos que escrevem, em maior ou menor
grau, buscam as melhores palavras, as melhores expressões, o melhor
ritmo. Buscam a Forma, com F maiúsculo. Nessa busca acabam criando
seu estilo, sua Voz, algo mais único que impressão digital e mais
pessoal do que um desejo obsceno. Até falar disso vira poesia.
O Saramago, por exemplo, e falem mal
tanto quanto quiserem do seu costume dos parágrafos infinitos, fazia
isso muito bem. Seus raciocínios longos podem muitas vezes não
serem compreensíveis; quantas vezes eu terminei uma frase dele sem
lembrar do que falava o início? Mas azar, era tão lindo. Isso na
minha opinião, sei de gente que não pode nem ver o nome do Saramago
que já dorme de tédio. Não veem razão em escrever coisas que
poucos entendem. Pressupõe que escrever precise de uma razão.
A menos que você seja um jornalista,
que escreve para noticiar ou sensacionalizar e ganhar seu dinheiro,
ou um blogueiro clandestino na China, que escreve para ajudar a
construir a democracia que quer, é bem dificil de achar uma razão
para o que se escreve. Tu escreve porque faz bem pra saúde mental?
Por que é divertido? Por que ajuda a organizar as ideias?
Existe uma voz dentro de mim que sempre
quer falar algo para o mundo, fazer as pessoas ou pensarem como eu,
ou pelo menos que pensem no que eu pensei. Essa voz tem muito a dizer
sobre várias coisas, tem muito a compartilhar com o mundo, e em
vários momentos está falando tanto e tão alto aqui dentro que eu
preciso liberá-la para o mundo através da escrita.
Eu escrevo pelos motivos que citei,
porque faz bem para a mente, porque é divertido, porque me ajuda a
organizar as ideias. Escrevo para acalmar essa voz. E nem interessa o
assunto, ou o formato.
Eu escrevo porque é preciso.