quarta-feira, 25 de julho de 2012

Escrever

Sobre o que escrever é uma pergunta que todos nós que escrevemos nos fazemos se não frequentemente, regularmente. Nem todos os assuntos vão interessar aos leitores, absolutamente nenhum assunto vai interessar a todos os leitores, mas nem sempre o objetivo principal é que o texto interesse aos leitores mesmo... e nesse meio-termo entre o que as pessoas querem ler e o que queremos escrever, vamos escrevendo.
Uso o “nós”, mas aqui meu sentido aranha (que detecta, entre meus atos e palavras, aqueles e aquelas que gerarão olhares acusadores, que diriam “arrogante!, convencido!”) apita e me acaba obrigando a me explicar. Quando uso “nós”, não estou igualando os grandes escritores aos escritores pequenos. Só que a questão que mencionei, “sobre o que escrever”, acaba uma hora ou outra ocorrendo a todos, os grandes, os médios, os pequenos, blogueiros, esvrivinhadores, eu etc.
Stephen King, por exemplo, resolvia a questão escrevendo sobre algo que conhecia bem: a vida do escritor. Não li dele tanto quanto gostaria, mas em grande parte dos livros que eu li, ou o personagem principal é um escritor profissional, ou faz isso por hobby (entre um assassinato e outro). Não sei se escrevia pois queria viver aquelas coisas, provavelmente não; quem iria querer enlouquecer em um hotel nas montanhas em pleno inverno? Isaac Asimov, por outro lado, botava muito dos seus desejos nos seus escritos. Ele próprio doutor e profundo conhecedor de várias áreas da ciência, em suas histórias os cientistas várias vezes compunham o que era uma casta elevada da sociedade, uma elite respeitada e que em não raras vezes governava o planeta. Que mundo maravilhoso seria aquele em que os passos da humanidade fossem guiados pelo prazer da descoberta, pela ânsia de saber, ao invés da ganância e sede de poder.

É claro que essa não é a única coisa que passa pela cabeça de um escritor (e demais semelhantes... já falei disso) na hora de escrever. O jeito de escrever também é muito importante.
Todos que escrevem, em maior ou menor grau, buscam as melhores palavras, as melhores expressões, o melhor ritmo. Buscam a Forma, com F maiúsculo. Nessa busca acabam criando seu estilo, sua Voz, algo mais único que impressão digital e mais pessoal do que um desejo obsceno. Até falar disso vira poesia.
O Saramago, por exemplo, e falem mal tanto quanto quiserem do seu costume dos parágrafos infinitos, fazia isso muito bem. Seus raciocínios longos podem muitas vezes não serem compreensíveis; quantas vezes eu terminei uma frase dele sem lembrar do que falava o início? Mas azar, era tão lindo. Isso na minha opinião, sei de gente que não pode nem ver o nome do Saramago que já dorme de tédio. Não veem razão em escrever coisas que poucos entendem. Pressupõe que escrever precise de uma razão.

A menos que você seja um jornalista, que escreve para noticiar ou sensacionalizar e ganhar seu dinheiro, ou um blogueiro clandestino na China, que escreve para ajudar a construir a democracia que quer, é bem dificil de achar uma razão para o que se escreve. Tu escreve porque faz bem pra saúde mental? Por que é divertido? Por que ajuda a organizar as ideias?
Existe uma voz dentro de mim que sempre quer falar algo para o mundo, fazer as pessoas ou pensarem como eu, ou pelo menos que pensem no que eu pensei. Essa voz tem muito a dizer sobre várias coisas, tem muito a compartilhar com o mundo, e em vários momentos está falando tanto e tão alto aqui dentro que eu preciso liberá-la para o mundo através da escrita.

Eu escrevo pelos motivos que citei, porque faz bem para a mente, porque é divertido, porque me ajuda a organizar as ideias. Escrevo para acalmar essa voz. E nem interessa o assunto, ou o formato.

Eu escrevo porque é preciso.