terça-feira, 10 de agosto de 2010

Modinhas

Que mundo feliz seria um em que quem lesse esse título não entendesse de primeira sobre o que eu quero falar. Os mais vividos talvez pensaram naquelas musiquinhas, cantigas cantadas com violão e tal, da infância, mas os mais urbanos sabem que me refiro a algo mais atual. As modinhas são essas idéias (memes, diria Richard Dawkins) que pegam rápido, e que logo desaparecem, mas não sem antes deixar alguns estragos cerebrais pelo caminho.

O exemplo mais antigo de que lembro é Harry Potter. Eu mesmo fui e sou um fã ardoroso da série, mas só posso responder por mim, que sei que li a série do bruxo adolescente e que gosto dela não apenas porque o resto do mundo também gosta, mas porque gosto do ritmo de leitura dela e porque a escritora de fato escreve bem. A maioria dos fãs, no entanto, não leu por causa disso; leu porque virou moda ler Harry Potter.

Mais tarde, ainda me detendo ao âmbito literário da coisa, a série chegou ao sétimo livro e acabou. Os editores mais espertos perceberam a óbvia vaga de nicho que a série deixou ao abaixar os 200 graus de febre, e vieram numerosas tentativas de atingir novamente o público-alvo, dos quais o relançamento daquele livro sobre um bruxo de óculos que tem uma coruja (só que esse voa em um skate; acho que é Livros da Magia, *ACHO*) e a Trilogia da Aliança (Eragon, Eldest, Brisingr) são só duas que me vieram na cabeça agora. Foi isso até que...

...até que uma escritora(?) mórmon, deitada confortavelmente em sua cama a noite, teve um sonho em que via um casal conversando. O homem era um vampiro que brilhava ao sol, a mulher era na verdade uma garota que estava incondicional e irrevogavelmente apaixonada por ele. No dia seguinte ela começou a escrever a série Crepúsculo. Pegou. Volto a ela mais tarde, porque não é só de literatura de que vivem as modinhas.

As modinhas também ocorrem na música, e aqui estão intimamente relacionadas com o vestuário de quem escuta. Primeiro eram os metaleiros e maloqueiros; a seguir os góticos; então os emos; seguindo estes, os “happyemo” e os coloridos, que eu já nem sei mais se não são ambos a mesma coisa. Cada grupo teve suas bandas favoritas (e efêmeras) e costumes favoritos (precisa dizer da duração também?).

Não tenho nada contra nenhum deles, no geral, até porque pelo Politicamente Correto ninguém pode ter nada de grave contra ninguém mesmo, mas o que me chama a atenção é a de que muitos dos que seguem essas modas só o fazem por... por algum motivo que não sabem. Talvez os primeiros metaleiros de fato gostariam de experimentar uma vida sem medo de dor; os demais vieram ser metaleiros como desculpa para acabar com a voz fazendo guturais e bater em homossexuais a noite. Os primeiros emos estavam mesmo chateados com a individualização nefasta (rá!) que os avanços tecnológicos nos trouxeram, e procuraram mesmo a emoção em um mundo cada vez mais racional; mas os demais se tornaram emos porque queriam ser diferentes, porque queriam mostrar para todo mundo como gostavam de Simple Plan e de NxZero.

Dos coloridos nem se fala. Esses eu não consigo visualizar como um grupo que começou com os “de verdade”. Mesmo os primeiros já eram coloridos por quererem ser diferentes.

{ Os hippies queriam um novo estilo de vida, menos consumista, menos guerra, mais amor. Os comunistas brasileiros queriam o fim da ditadura, mais democracia, menos ganância, mais justiça. Os jovens de hoje querem o quê mesmo?}

Não quero ser o dono da verdade aqui, até porque criticar modinhas também é modinha, de certa forma. Pelo menos no Orkut (que era modinha, agora virou essencial; Twitter, formspring e assemelhados vieram tentar fazer o que o Orkut fez, mas não tiveram tamanho êxito), onde também havia, por exemplo, a modinha das comunidades dos trechos de livros (geralmente Harry Potter ou Crepúsculo), e agora tem a das comunidades “enumeradoras”: 10 coisas para se fazer na aula, 100 formas de criar uma modinha, 947 verdades sobre Chuck Norris. Eu estou na do Chuck Norris, me dobro de rir das piadinhas.

Como eu dizia, não quero ser o dono da verdade. Nunca escutei Cine, Restart, Justin Bieber e outras bandas coloridas para dizer se é bom ou não, mas também não tenho interesse. Independente da qualidade, por quê as criaturas se entregam a esse tipo de fanatismo? Ou no caso de Crepúsculo, esse tipo?

(voltando aos vampiros purpurinados, como eu disse que faria)

Não é uma série ruim, ela te prende e faz ter vontade de ler mais, como o Dan Brown faz. Dizem que ele tem um Gerador Dan Brown que produz histórias (mistérios antigos + teorias novas + sociedades secretas + o mundo depender disso), mas vende. Crepúsculo também, do ponto de vista “técnico” de escrita é ruim, mas as pessoas gostam. Eu mesmo só parei de ler porque me anojei da série, porque virou modinha e tal. Harry Potter ainda tem algumas reflexões sobre a morte, idéias profundas sobre o que é a amizade e tramas lógicas; em Crepúsculo o que tem é ignorado por quem lê.

A pergunta que fica é: POR QUÊ fazem tanto sucesso essas séries e essas bandas que, embora não sejam ruins no fim das contas, não perdem em nada para outras coisas do tipo? O que leva os fãs a serem tão (aparentemente) descerebrados e rebeldes, mesmo com tanto acesso a informação, educação, com tantas facilidades?

A resposta (a parte mais difícil do texto), eu deixo com você, leitor fiel, meu irmão camarada. O que você acha?

9 comentários:

Antônio Dutra Jr. disse...

Rá!

Cara, pra mim funciona mais ou menos como aquele experimento dos macacos que batiam uns nos outros quando um deles tentava pegar as bananas... lembra?
Enfim, é puramente instintivo, as pessoas imitam as outras até pra serem diferentes. Fazer o quê, né.

Como sempre, uma grande reflexão, muito bem embasada.

Abração!

chris mazzola disse...

Quando a sociedade era "fechada", os costumes e culturas familiares estreitos, surgiram nomes que deixaram os jovens da epoca com uma identidade. Elvis, Beatles e JLLewis trouxeram uma ideologia aos jovens que eram presos aos costumes da moda antiga. Logo depois, woodystock trouxe a ID da paz, amor e drogas.
Enfim, acho que os jovens de hoje CARECEM de idolos. A musica hoje, principalmente do movimento nacional, nos traz poucos "avancos" que contribuam para uma cena que icentive algum movmento social.
Pense bem, Pink Floyd, Metallica, Van Halen... no Brasil, quem vc HOJE coloca nesse hall? Lembre-se. Esse hall sera a reerencia de geracoes.
Poderia citar anos 80, RPM, Titas, Engenheiros.. mas recentemente o raimundos.. nacao zumbi..mas hoje??
Dificil aceitar que um pais desse tamanho e quantdd de diferentes culturas nao exponham idolos.
Acredito que tanto os citados metaleiros, harry potterianos, crepusculentos... elevaram uma faixa etaria empobrecida de referencias. O que acaba contribuindo com essas bandas emos de hoje. Seguir uma corrente sem mesmo saber o pq. SImplesmente pela pobreza cultural. Afinal nem existem muitas opcoes.
Um exemplo bacana eh a epoca Grunge dos anos 90. Pearl Jam, Nirvana, Screaming Tress... dai vc olhava o grupinhos nos shoppings, usando aquelas camisas flaneladas na cintura. Como uma farda do movimento. Cara! A cena grunge, sempre foi o movimento do som! A roupa era igual pois eles viviam numa area proxima ao canada , fria pacas! e os Ze modinhas se achaaaavam ao usar aquelas camisas na cintura..
Mas se pensar... era a maneira q eles tiveram de mostrar o que sentiam. Copiando ou se inspirando num outro movimento, uma outra referencia, mesmo que nem seja com os mesmos ideais. (!)
abracao!

Íris Lisbôa disse...

Booom, pois é, na verdade eu nem sei como começar!
Tu sabe que eu já li todos os livros do Harry Potter, todos os livros do Crepúsculo e que eu amo Simple Plan! Quanto ao resto, graças a Deus, eu me manti distante.
Sobre Harry Potter, realmente, apesar de a Igreja tentar difamar a série, não deu, tem bons conselhos, a história é boa e a forma como é contada é melhor ainda. Prende a gente e nos faz querer mais!
Quanto a Crepúsculo, se tivesse acabado no primeiro livro, tinha ficado feliz!
Quanto a Simple Plan, aahh, tu sabe que eu não sou poser. Eles entraram e sairam de moda e eu sempre gostei, fato!
Mas eu acho que, em relação aos jovens seguirem modinhas, talvez seja pela falta de identidade mesmo. Pra se sentir incluído em algo! Tem aqueles que, sem autoconfiança (coitados!), acham que precisam disso para se encaixar em algum grupo, para serem vistos. Tem os que fazem isso pra chamar a atenção, principalmente dos pais, já que, qualquer pai, que tenha algo na cabeça e tenha vivido mesmo a sua geração, vai surtar ao ver seu filho querido vestido daquela forma. E tem aqueles que (coitados mais ainda!) gostam de verdade dessas "coisas".
Não vou dizer que eu sou totalmente contra a algo que esteja na moda, eu adoro a moda (roupas), gosto de muitos livros que estão na moda (alguns são realmente muito bons) gosto de bandas que estão na moda (Muse foi uma coisa boa que tirei de Crepúsculo). E por aí vai!
Beijos querido!

Bruna Schardong disse...

Olá!
acho que algo da natureza humana seguir tendências.
Todos querem se sentir incluídos, se sentir acolhidos de alguma forma. A juventude, principalmente, é uma fase de identidade, de necessidade de ser igual à todos e diferente de todo mundo ao mesmo tempo. O jovem vê a necessidade de usar uma determinada marca, um determinado estilo de cabelo, para se sentir acolhido pelo grupo que freqüenta, pois muitas vezes são "excluídos" do grupinho por não se comportarem como tal.Acho a adolescência uma fase cruel! A fase mais importante na formação do caráter, a fase das escolhas mais difíceis e definitivas, a fase dos maiores sofrimentos e das mais intensas alegrias. E acho uma pena que as "modas" de hoje em dia tragam tão pouco conteúdo para ser refletido.

Luck! disse...

Ser contra tudo isso, também é uma modinha
;)

Rívia Petermann disse...

Eu também me faço essas perguntas frequentemente,acredite.E as respostas,inconcebíveis.

E ir contra tudo isso pode ser sim considerado modinha e afins,mas não é,de fato - Há muitas,por incrível que pareça,pessoas que são cada vez mais não compreendem isso,e,pelo excesso de modinhas,vem o excesso de críticas contra,e pela quantidade passa a ser modinha...Mas isso tem que ser dito e compartilhado...
Pode parecer teoria da conspiração,mas isso é mesmo uma ameaça!(rs)
Tais mediocridades tendem assolar e crescer cada vez mais,e ,consequentemente,o importante de maneira geral fica negligenciado...

Já crepúsculo...nem faço mais comentários...ela acabou com toda o bom tradicionalismo vampiresco,ñ tem mais o que sonhar não?

Gosto de Dan Brown,interessante os "atributos"que ele reúne.E metaleiro e gótico,tem que gostar meesmo da coisa atualmente...

Posso indicar o post no meu blog?

Super post!
Beijos!

Rívia Petermann disse...

Ah,e também fui leitora convicta de Harry Potter.

Marcus disse...

Modinhas são uma coisa um tanto curiosa.

Talvez a própria existência de modinhas seja uma modinha.

Houve um tempo na nossa história que as pessoas acreditavam em algo. Algo bom. Eram comunistas, socialistas, capitalistas, hippies. E logo, fomos unidos pelo pensamento e pelo ideal.

Com modinhas não é muito diferente. Modinhas não divulgam ideias, pontos-de-vista e afins. Mas elas unem.

Vindo a pensar, quase todas as modinhas, depois de uma boa pensada, desafiam a nossa mente.

Harry Potter é uma sequência de acasos que beneficia um protagonista. Crepúsculo é uma metáfora machista e religiosa (a "mordida" é uma clara referência ao sexo, que só aconteceria depois de um casamento). Dan Brown realmente possui um fórmula de livros, os quais fazem a humanidade acreditar na existência de sociedades secretas conspiratórias(a organização secreta é uma espécie de fuga de nossos problemas, podemos culpar um bando de homens que ninguém vê e nos sentir bem com isso). De fato, alguma delas existiram e podem estar existindo. Mas te garanto que os Illuminatti não vão querer mandar em ti, simplesmente porque a sociedade foi extinta a 200 anos atrás.

Candy disse...

Meu pedacinho de alegria, acredito que as modinhas façam parte da época, cada modinha na sua época, refletindo um pouco do pensamento que rege no período.
Li Crepúsculo todo e pensei em desistir quando ficou mais meloso que minha melosidade aceitava, mas virou modinha porque reflete bem o anseio dos adolescentes (nao necessariamente os adolescentes de hoje em dia): o amro eterno. Alguém que seria capaz de morrer por voce, que te ama e te respeita acima de tudo,blablablá.

Olha, na minha época (Idosa: ON) a modinha era escuar pagode. Ok, hoje eu morro de vergonha de contar isso (hahaha), mas era parte da nossa realidade, do nosso meio social e do que era muito exposto na chamada mídia.
Enfim, falei falei e nao disse nada.
So queria dar a entender que, por mais chatas que essas modinhas sejam, elas são de extrema importância pro contexto da sociedade. Etc, etc, etc.

Um beijo!!!