domingo, 16 de maio de 2010

No Geral, Nada Útil

Identificar padrões é uma habilidade bastante admirada quando se trata de competição entre espécies: o grupo que souber melhor quando vai chover, abrir sol, ou quando a manada de mamutes de carne suculenta vai estar mais desprevenida e portanto souber o momento crucial para atacar e encher a barriga das famílias do clã por alguns dias, é o grupo que terá mais chance de prosperar e ser feliz nesse mundo indiferente e insensível. Rotular situações e coisas foi, pois, muito importante para nós até aqui, e continua sendo, mas alguns exemplares de homo sapiens levam as coisas meio além do satisfatório, e isso não é satisfatório.

Esse costume se traduziu, em uma versão moderna, na padronização maluca da revolução industrial. Se “tal jeito” funciona, que todos façam desse “tal jeito”. Criou-se a ilusão de que existia um jeito único de fazer determinada tarefa; esse jeito é o mais lucrativo, menos trabalhoso e que traz todo o benefício que todo dono de fábrica quer: dinheiro.

Ou seja: o belo é magro. O descolado é irresponsável. O homem é ignorante, bruto, forte. A mulher é submissa, delicada, tem peito, bunda e gosta de sexo. Etc (parênteses: acho lindíssima a expressão latina et caetera. Deve ser porque é proparoxítona. Adoro proparoxítonas. Fecha parênteses).

Um viva para quem bitola a mente desse modo. “Bem aventurados sejam os inocentes, pois deles é o reino do céu”, ou algo assim, estou citando de cabeça. A ignorância é uma bênção, mas nesse caso (e em muitos outros), prefiro pensar.

Por que se pensa que um ateu não pode freqüentar um grupo de jovens cristãos? É preciso acreditar em tudo que “é preciso” acreditar para ser bom? Afinal, fé é ou não é pré-requisito para se ter ética e senso moral?

O mesmo se aplica a uma hipotética situação inversa. Por que uma pessoa religiosa, que baseia suas crenças religiosas na fé, não poderia acreditar nas questões baseadas na razão? Não são só pontos de vista diferentes, são campos de pensamento diferentes, são formas de pensar diferentes. Qualquer intromissão de uma nos assuntos da outra é criminosa ou contraproducente, e todos deveriam saber separar as duas coisas. Quando um crente tenta provar a criação do mundo em 7 dias, é porque ainda não entendeu o que é fé; quando um intelectual acha que agradecer a Deus pelo dia ou pela refeição é perda de tempo, é por que ainda não entendeu os poderes do sentimento de gratidão, e porque esquece-se das limitações psicológicas de ser um humano. Mesmo que não faça sentido, se isso fizer a pessoa se sentir bem e “funcionando” melhor, já está aí um sentido pronto; não é irracional, só que é racional em um ponto mais fundo da coisa.

Um outro caso de padronização que me ocorreu agora, por nenhum motivo, foi o dos menores. Poxa, o que custa me deixar, digo, deixar entrarem menores em festas noturnas? Sabe, 16 anos é quase 18 (16 foi um número qualquer, nada a ver com o fato de ser a minha idade). E (agora sim, é sério), quem disse que um ser humano de 18 anos é mais responsável que um de 16? Eu sei que se fosse permitida a entrada de menores de 18 em todas as festas, seria um caos, por que no geral os menores de 18 são sujeitos escrotos com pouco ou nada de cérebro, que vão estragar a diversão (às vezes não muito sadia) dos mais velhos.

Sim, mimimi adolescente. Mas hão de concordar comigo que é foda ser considerado um delinqüente em potencial só porque todos os outros adolescentes o são. Excluído de dois modos: de um pelos adolescentes que são de fato delinquentes em potencial e de outro pelo resto do mundo, que pensa que eu sou um delinqüente em potencial.

Mas não há o que fazer. Quando eu ultrapassar a barreira etária mágica que separa os que podem e os que não podem beber bebidas alcoólicas (bebidas essas que em excesso continuam matando os neurônios, mesmo que quem as beba tenha mais de 18), eu também não deixarei a ralé menor de 16 entrar nas minhas festas, por mais altos que sejam seus QI’s.

Ah, estou com sono. Me desculpem se eu ofendi alguém, as vezes não é a intenção. Mas no geral, se ser considerado um idiota “que não entende Deus” ou um inconformado que reclama da vida for o preço por eu estar sendo eu mesmo, está valendo.

E tá barato.

3 comentários:

Marii Magalhães disse...

Eu gostei. muitas vezes não nos encaixamos no conceito de/da maioria. O que nos torna inadequados ou destoantes.. Somos pessoas.. não robos.. e por incrivel que pareça.. Por mais que não concorde com os conceitos, é sempre bom entender os motivos..

Marcus disse...

Devo dizer, na minha sincera opinião de leitor-admirador que esse texto pré-sono é um dos melhores teus que eu já li.

Com relação a parte da "ignorância é uma benção", devo dar meu palpite(sempre, né) sobre essa frase. Dizer a dita cuja é como dizer que estar bêbado é melhor que estar sóbrio. De fato, o homem sóbrio não é tão feliz quanto o bêbado, mas estando sóbrio, muitas portas se abrem e tu ve as coisas de uma forma mais clara, aproveitando oportunidades e aprendendo as regras do jogo.

Fora esse leve "addendum", o texto está magnífico!

Bibiana Davila disse...

Agora falta pouco para os 18, não é mesmo?

"por que no geral os menores de 18 são sujeitos escrotos com pouco ou nada de cérebro" E por um acaso os maiores de 18 são muito diferentes?

Falando em bebidas e neurônios li um tempo atrás uma reportagem que falava sobre uma pesquisa que foi feita, que as pessoas mais inteligentes bebem mais. Não que beber torne alguém inteligente, mas você entendeu. Vou procurar o link e dai te mando.

Beijos!