terça-feira, 10 de novembro de 2015

Rick and Morty

Tem algumas coisas que eu gostaria de falar, mesmo que não tenha muita certeza de como estruturar os pensamentos em frases coesas e consistentes, daquele jeito que corretores de redação de vestibular gostam. Sorte minha que papel aceita tudo e na internet não é preciso se preocupar com esse tipo de cosmético; estamos todos sozinhos, cada um na sua subjetividade, e já que mesmo quando conseguimos produzir algo que é objetivamente bom em transmitir uma mensagem, mesmo quando nos expressamos claramente, mesmo nessas situações, os outros não nos compreendem bem, então não tem porque não escrevermos assim mesmo, sem coesão, sem consistência, e os corretores de redação de vestibular que se danem.
A primeira coisa é que eu recomendo fortemente a todos que assistam Rick and Morty. É uma mistura de Simpsons e Futurama, no sentido de que faz humor tanto com o cotidiano familiar quanto com ficção científica "pesada". Tem uma pitada bastante grande de O Guia do Mochileiro das Galáxias, aquele toque de absurdo, e por isso talvez não seja indicado para quem não curte - ou quem não entende. Tenho minhas dúvidas quanto a se esses dois grupos não sejam na verdade equivalentes.
É ficção científica pesada porque eles não tem medo de mexer com assuntos complicados (como estarmos em última análise sozinhos dentro da nossa mente). E, mais que isso, quando chegam a algum problema da trama (que a maior parte da ficção científica está fadada a ter, uma vez que é improvável uma história que seja completamente coesa sem ser verdadeira, caso em que a tal ficção perderia um pouco do seu caráter ficcional) como por exemplo algum paradoxo ou algo que qualquer um enxergaria como um grande furo, ou eles dão uma boa explicação ou simplesmente fazem piada com o assunto. Piada pode ser um golpe baixo, mas eu acho muito satisfatório quando eu percebo que os escritores de alguma coisa que eu gosto mostram explicitamente que "sim, nós pensamos nisso, próximo!" ao invés de ignorar o elefante na sala - como é feito em pelo menos um filme do Nicholas Cage, na maioria das histórias que trate de viagem no tempo, e naquele filme do Jackie Chan sobre universos paralelos que só de lembrar já me dá raiva. Raiva tipo frustração, de tu saber que tem algo errado e ainda assim não poder dizer nada - seja porque tu sabe exatamente qual é o problema mas é complicado demais fazer alguém entender ou porque tu não sabe qual é o problema, e nesse caso a frustração tem uma pontinha de frustração consigo mesmo.
Isso me acontece bastante em discussões polêmicas, das quais a internet está cheia. Me frustro quando eu não sei o que é que me parece errado, mesmo que tenha um sentimento muito forte de que há algo errado, mas também me frustro quando simplesmente não acredito que eu vá conseguir esclarecer o problema. A verdade imutável das discussões continua sendo que é dez vezes mais fácil falar uma bobagem do que explicar porque a bobagem é bobagem, ainda mais porque quem concorda com a bobagem não está num estado mental receptivo para deixar de concordar com a bobagem.
E não, não é questão de opinião, porque muitas vezes é um assunto que, no fim das contas, pode vir afetar a todos, não só indiretamente (quando, por exemplo, é um caso em que seria melhor viver em um lugar que menos pessoas falassem bobagem) como diretamente (como quando, por exemplo, se o candidato X for eleito ele vai fazer a Lei da Bobagem que vai afetar todo mundo, seja a pessoa pró-bobagem ou anti-bobagem).
Na minha família corre muito fortemente a crença de que religião, política e futebol não se discutem, e isso é uma regra que na prática pode até ter boas intenções, uma vez que na nossa família conseguimos brigar por muito menos, guardar rancores por décadas, etc., coisa de família tradicional brasileira, inadmitidamente disfuncional. Isso me incomoda porque no geral é eu que discordo, e vocês sabem como tribal shaming é uma merda. Prefiro engolir meus sapos e discretamente ficar quieto quando alguém falar uma bobagem (ah!, as bobagens) como por exemplo sobre o Stenio Garcia ter tirado foto pelado com a esposa. Aqui um link para o que eu penso sobre o assunto.
Eu ainda vou escrever mais sobre o assunto de discordância, de discussão na internet, de politização, de dissonância cognitiva, de como que eu acho que quase sempre posso estar errado e que infelizmente pouca gente parece ter a mesma impressão deles mesmos, isto é, quase ninguém assume que pode estar equivocado em algum ponto. Como o mundo seria melhor se menos gente assumisse de antemão que está certo. Mas, é claro, o mundo também seria melhor se o cobrador do ônibus parasse de pedir "mais uma passinho na porta, por gentileza" mesmo sabendo que o gargalo de produtividade do ônibus é a roleta, e não a fila, e nem por isso os trabalhadores do transporte público criam bom senso no assunto.
Ou seja, uma merda.
O que fica é que você deveria assistir Rick and Morty. Eles abordam várias questões sensíveis durante as duas temporadas que já foram ao ar, mas sempre dá para ver os dois lados da moeda, portanto os episódios não viram 20 minutos de proselitismo. Então ao mesmo tempo em que os personagens vão se perguntar se existe algum deus, lá pelas tantas (quando ameaçados de morrer não lembro como, mas digamos para fins de argumentação que fosse em um avião caindo) eles vão se ajoelhar e pedir perdão a Deus por terem sido tão arrogantes, e já que esse é com 99% de probabilidade o argumento favorito do pessoal pró-religião (e a razão de porque eu achar que essa discussão toda precisa urgente de um update), todo mundo sai agradado.
Como eu disse: falta de coesão e coerência (ou seria consistência?). Se perguntarem digam que essa foi a moral do texto.

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