sábado, 28 de março de 2009

A Quem Interessar Possa

Não é incomum dizermos coisas sem sabermos seu significado, ou sem entender por que elas significam o que significam. Quando dizemos, por exemplo, “o livro está sobre a mesa”, logo nos vem na cabeça a imagem de um livro, que é um amontoado de folhas escritas que trazem informações ou entretenimento, sobre, ou seja, em cima de ou apoiado em, a mesa, que é o apoio mais conhecido das residências deste país, comumente encontrada em cozinhas e, nas casas mais abastadas, nas salas de jantar.
Já quando dizemos “fulano está com mau humor”, não é uma coisa assim tão simples, mecânica. Se ele estivesse com catapora era mais fácil de imaginar, doente, mas mau humor é um negócio mais subjetivo. Amor, amizade, essas coisas, então nem se fala: tu acha que sabe até pensar melhor e descobrir que na verdade não sabe não, e que tem coisa pra caralho que tu não sabe.
E isso já é outro exemplo. O “pra caralho” não tem muito sentido, afinal. Existem outras expressões neste rol, mas vou me aprofundar especificamente nessa.
“Pra caralho” não quer dizer “para o caralho”. É mais uma expressão que denota intensidade, e como toda expressão, essa teve uma origem interessante.
Primeiramente, deixe-me falar-lhes sobre Pérbuly Fuzell (1789-1870). Foi um escritor europeu que deixou sua marca na literatura por exagerar no exagero. Suas obras foram escritas, na maior parte, recheadas de exageros e mais exageros. Quando notou que começava a ganhar má fama por isso, cunhou o termo hipérbole (baseado no seu próprio nome), para mascarar de habilidade técnica esse seu tique literário. Enfim, a sua obra completa já é um exagero por si só: em seus 81 anos de vida, escreveu mais de 300 livros.
Por causa de sua fama (que ele não conseguiria perder nem com a invenção de mil eufemismos para o exagero), ficou comum ouvir-se a expressão “à moda de Fuzell”, mais tarde diminuída para “à Fuzell”. Como em “bonita à Fuzell” ou “morreu gente à Fuzell”.
Durante a Primeira Guerra Mundial ocorreu um conflito menor, mas também muito sangrento, na Europa Oriental. Foi a Guerra do Catete, entre o reino do Catete e uma nação igualmente insignificante. Havia o costume de falar que um soldado “matou x para o Catete”, o que quer dizer que durante os combates ele matou x pessoas das linhas inimigas em nome do Catete. Como eu disse, foi uma guerra sangrenta, então as expressões “matou pra Catete” e “matou a fuzéu” se confundiam bastante.
Bem mais tarde, depois que Catete foi associado a cacete, cacete foi associado a pedaço de pau e pau foi associado a vocês sabem o quê, seguindo no melhor do raciocínio Deus-é-amor/o-amor-é-cego/Steve-Wonder-é-cego/Steve-Wonder-é-Deus, a expressão pra caralho saiu fresquinha do forno. Agradeçam essa pesquisa aos mais conceituados etimologistas da atualidade.

E, como a maior parte de vocês deve desconfiar, isso tudo é mentira. Portanto, cuidado com o que vocês leem na internet, por que qualquer um bota o que quiser na rede, e tem lixo a fuzéu por aí.

Abraço!

terça-feira, 17 de março de 2009

Embarcando no Transatlântico da Maionese

Oh man, é com grande alegria que lhes digo que não consigo ficar muito tempo sem escrever aqui, ou em qualquer lugar. Alegria minha, não sei a de vocês, mas é com alegria maior ainda que digo que tem gente que também gosta das coisas que eu escrevo e do jeito que eu escrevo as coisas que eu escrevo, mesmo que alguns trechos fiquem praticamente ilegíveis mesmo pra mim, que foi quem criou e coisa e tal.
Os motivos de eu não conseguir ficar sem escrever é o de sempre, e ao mesmo tempo sempre tão novo: a cabeça não cala a boca. Passa um tempo sem que eu expresse os meus pensamentos, e eu começo a ver coisas que eu não veria se não estivesse com a cabeça cheia de pensamentos (ou usando drogas, mas não é o caso), como por exemplo, ver uma formiga passar e ter revelações filosóficas sobre qualquer coisa, e isso é comum. Pode ser uma revelação antiga, reciclada, mas uma revelação é sempre uma revelação, e a cada uma nova muda o jeito de ver a vida, muda tudo, e isso é uma beleza, deixa o espírito pronto pra enfrentar a eterna novidade do mundo.
Outro motivo é por que eu viajo demais nas idéias também. Vide parágrafo anterior.
E isso agora não está acontecendo só no âmbito da escrita e da intelectualidade e pseudointelectualidade, mas também na música. Como os com capacidade mnemônica mais bem exercitada vão poder se lembrar, eu comecei mês passado um curso de piano, e isso me fez pensar em algumas coisas (diga, existe alguma coisa que não surta esse efeito em mim? Eu não saberia responder). Por que depois que comecei a aprender, eu passei a enxergar a música de um modo diferente. Eu, que estou ha pelo menos cinco anos mergulhado na música por causa do coral e das amizades, me impressionei com o aumento da minha sensibilidade nesse campo depois de começar o tal curso. Passei a perceber coisas que antes eu não percebia, passei a lembrar mais facilmente de músicas sendo que antes era preciso ginástica mental pra fazer isso, entre outras mudanças. Então, a conclusão desses pontos desconjuntados, é que por mais que tu saiba algo, tu ainda não sabe nada de nada. Antes de começar o curso, eu era um completo ignorante a respeito da música. E só vou passar da faixa da estupidez em relação a isso se me esforçar muito, mesmo tendo essa minha facilidade natural de sugar conhecimentos e mudar de opinião.

E esse final de parágrafo me remete a outro assuntinho que eu andei pensando nesses dias. Para exemplificar, vou usar um exemplo bem corriqueiro.
Aula de física. Professor explicando a matéria. Depois de explicar, passa a lista de exercícios a serem feitos. Depois de feitos, pergunta se a turma entendeu. E é aí o pulo do gato que eu quero chegar.
Qual é o seu conceito de “entender” algo? Eu quase nunca consigo dizer que entendi bem alguma coisa, assim logo que o professor pergunta, mas baseado no meu passado posso dizer com segurança e conhecimento de causa que se não entendo de cara não é por que sou burro, mas tem a ver com o meu conceito de entender. Se eu disser que entendi, pode esperar um 10 na próxima prova, ou um 9, mas os erros vão ser falta de atenção ou monguisse de minha parte mesmo.
E essa coisa não se restringe a conceitos, pode-se ver em um monte de coisas. Cores, sabores, etc, ninguém sabe se é o mesmo pra todos. Sentimentos, então, nem se fala. Quando alguém diz que morre de amores por outro alguém, isso talvez nem signifique nada, ou talvez signifique, depende quem diz né. Em época de eleição, os “hinos” dos candidatos adoram isso, enchem-se de palavras bonitas que apenas uma em cada 50 pessoas saberia dizer de fato o que é. Poetas passam dias e dias escrevendo para explicar o que é o amor para eles. É um intento meio impossível, mas rende bons versos, meu amigo Camões que o diga (“amor é contentamento descontente”, nada melhor).
Eu cheguei a mentalizar algo, uma “representação gráfica de como se comporta a mente humana e o universo criado por ela” (no melhor estilo trabalho escolar), que desse uma idéia do que eu quero dizer com tudo o que eu disse. Imagine uma bolha. Essa bolha é sua mente, e o universo criado e percebido por ela. Agora imagine várias bolhas, e perceba que essas são as outras pessoas e seus respectivos universos particulares. Conforme a proximidade do centro, a substância da bolha vai ficando mais resistiva ao avanço de algo que tenta penetra-la, ou seja, quando outra bolha tenta ocupar o mesmo espaço da sua bolha, forma-se uma zona de intersecção (sempre quis usar isso fora da aula de matemática) que seja até um máximo de onde não consegue mais seguir adiante, e nessa zona de intersecção está tudo o que você tem de comum com outra pessoa, ou que pode explicar para ela. O resto é totalmente seu, e felizmente ou não nunca vai conseguir explicar satisfatoriamente para ninguém. Exemplificar coisas que estão nesse grupo é trabalho para você e sua reflexão de hoje (ah é, até parece).

E estou escrevendo tudo isso por que estou lendo um livro sobre Inteligência Quântica, que seria meio que a explicação “científica” (por enquanto e por precaução, imagine muitos milhões de aspas juntas a essas aí) do Segredo. E no livro o cara fala sobre ceticismo e outros grupos que comem criancinhas no café da manhã. E comenta que é bom ser cético (sempre avaliar se uma idéia é boa o suficiente para substituir uma já existente) mas ser cético demais é tenacidade, o que em bom português é ser teimoso. O problema, é que o conceito de cético bom não é o tipo de coisa que está na zona de intersecção da minha mente e da do autor daquela coisa, então não sei agora o que eu penso sobre isso e sobre mim mesmo.

Será que sou cético? Será que não conseguir engolir um misticismo antigo fantasiado de ciência e embalado em palavras científicas, mesmo que acredite em sua eficácia porém não concorde com suas causas, é teimosia e cabeçadurismo da minha parte? Será que isso importa? Será que Capitu traiu Bentinho, ou isso foi uma ilusão muito bem criada pelo Machado idolatrado salve salve?

Esses e outros mistérios você pode responder nos comentários, ou esperar que um dia eu chegue lá sozinho, neste mesmo batcanal, neste mesmo bathorário (ou não).

batAbraço!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Notícias e Conto

Quinta-feira terminaram as minhas férias, mas só fomos para a escola para não fazer nada e receber o aviso que não pode mais pintar bixos. Agora é sério o aviso. Quero dizer, em todos os anos que houve o aviso o aviso foi sério, mas ano passado, por exemplo, que foi quando eu era bixo, ainda não tinha multa de mil a vinte mil reais para quem submetesse um bixo a qualquer grau de humilhação. Que sem graça. Só por causa dos caras retardados que afogam gente e que sodomizam bixetes eu não posso expressar a minha felicidade em ter novos colegas com um saudável batom na cara!
Mas pelo menos agora não morre mais ninguém.
Há menos que morra de cansaço. Por que bá, estudar cansa mais que trabalho, com certeza. Aqui falo o cansaço aquele de que a qualquer momento do dia que tu deitar, tu dorme. Esforço físico causa cansaço físico, e isso se resolve sentando e relaxando. Já esforço mental dá sono, e esse só se resolve dormindo, e isso descansa também.
No fim da segunda-feira, que foi quando a aula começou a valer, eu parei pra pensar de noite, e notei que eu estava com muita saudade de estar cansado. E na mesma hora matei a saudade, assim, instantaneamente. Mas preciso ser forte, e sangue de Jesus tem poder! Rsrsrs

Nada de legal para passar a vocês hoje, então vou postar junto com esse boletim de notícias um conto de terror que escrevi nas férias, (férias = aquele período de tempo que eu sinto muita saudade, muita muita muita saudade). É totalmente ficcional, e quero saber o que vocês acham dele que é o meu primeiro conto macabro.

Abraço!

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Amigo Virtual

Lícia o conhecia à apenas uma semana, mas já estava íntima de seus segredos, como não é raro neste tipo de relacionamento. Conhecera-o pela internet, e passou conversar virtualmente com ele desde então.
Descobrira que tinham muitas coisas em comum: livros, músicas, filmes, gostos em geral. Ela sabia que ele estava totalmente apaixonado por ela. Otávio deixava isso extremamente claro, mesmo sem dize-lo diretamente. Por isso, passaram a namorar através da internet, tendo as letras e os programas de mensagens instantâneas como mensageiros.
Depois da primeira vez que fizeram sexo virtual, Otávio enviou para ela a mensagem “Lícia, minha flor, acho que estou te amando”. Por um momento Lícia ficou totalmente sem resposta. Aquilo abriu uma profunda ferida no seu peito, uma ferida que ela sabia que nunca cicatrizaria.
E começou a se lembrar dos momentos felizes, do primeiro beijo, a primeira transa, as confidências, as aventuras, de como ele a chamava carinhosamente de “minha flor”, o amor... A cada nova lembrança, a ferida se abria mais, e por ela só não escoavam lágrimas por que essas já haviam terminado. Era uma dor muda, a pior.
Mas pior do que as lembranças boas, foram as que sucederam-se a elas. Uma tentativa de agrada-lo com uma surpresa, chegando em sua casa sem avisar. O susto. A outra correndo para se arrumar e ir embora, enquanto ele em vão tentava explicar-se para uma Lícia desamparada, sem ação. Tristeza. Apatia total no trabalho. Depois soube que ele se mudou, e isso não contribuiu nada para seu humor. “Eu o amava tanto”, pensava. “Desde os nossos quinze anos, descobrimos tudo juntos, como ele pôde fazer isso comigo?”. Mais tristeza.
Depois de dois anos de zumbi, depois que todos os amigos a abandonaram quando perderam as esperanças de resgatar sua felicidade, tomara sua decisão. E agora estava ali, conversando com Otávio, que indagava a alguns minutos por que ela não respondia.
Parou os devaneios e inventou uma desculpa qualquer para justificar a demora, e continuou conversando. Admirou-o pela webcam, e pensou “Ele é perfeito”. Antes de ir embora, ele ainda comentou que teria que deletar o seu histórico de mensagens, para o caso da sua namorada querer olhar as mensagens dele. “Eu te amo”, justificava ele, “mas quero evitar problemas deste tipo com a minha namorada. Quando eu terminar com ela, nada nos impedirá de fazermos o que quisermos”.
O fato de ele ter namorada não a incomodava tanto quanto se poderia esperar. Lícia, na verdade, dissera a ele que também tinha namorado, por isso apagaria o seu próprio histórico. Otávio saberia da verdade na hora certa. Uma coisa pequena como essa não atrapalharia nada.
Mais alguns dias depois, Lícia não suportou mais e marcou um encontro com Otávio, na casa de Otávio. Ele foi pego de surpresa, mas disse que tudo bem, a casa e ele estariam esperando ansiosamente a sua visita. Sugeriu até que fosse no sábado, para que tivessem mais tempo para se conhecer pessoalmente.
No dia marcado, Lícia estava um pouco nervosa, não por medo, como qualquer uma estaria no seu lugar, mas por que não queria que nada saísse errado. Já se desapontara demais para uma pessoa só. Arrumou-se, pegou o que precisava e foi para a casa de Otávio.
Chegando lá, Otávio a recebeu com um lascivo beijo, o qual foi correspondido a altura. Ele era tão irresistivelmente lindo quanto parecia pela webcam. Lícia entrou, e Otávio fechou a porta.
Os vizinhos ouviram gritos, mas quando a polícia chegou só havia um corpo dentro de casa.

***

De manhã cedo, Lícia estava em sua casa, assistindo ao noticiário matinal. O sabor da vingança lhe era estranho, mas estava gostando. Em seu regozijo, lambuzava-se e ainda escorriam gotas de sangue até o chão, quando no noticiário informaram do assassinato brutal de um homem que foi identificado como sendo Otávio Meirelles. Os peritos declararam que o assassino, ainda não identificado, tinha usado um objeto como uma adaga para dilacerar o corpo da vítima.
Lícia não demonstrou reação. Eles não mostrariam, mas o assassino havia retirado o coração da vítima, e ele não se encontrava na cena do crime. Por que estava agora no colo de Lícia, parcialmente consumido, como símbolo do início de uma sangrenta vingança contra todo um gênero.
E com esse pensamento, Lícia finalmente sorriu.